sábado, 12 de junho de 2010

Um violinista no telhado...


Dr. Itamir Crivelli me presenteou com livros sobre a história das religiões, talvez por saber da minha mania por leituras relacionadas ao assunto. Um violino no telhado pode ser uma tela, um filme, ou um musical da Broadway. O quadro é de Marc Chagall, um artista judeu e chama-se O Violinista Verde. Quando perguntaram como um virtuose podia se exercitar assim, o pintor respondeu que de casa via o músico tocar na varanda, mas parecia estar sobre o telhado. Provável, mas a ideia está próxima de suas raízes. Isso tem algo em comum com religiões? Tudo, pois o filme (1971) relata a saga de famílias judaicas na mesma Rússia do pintor. A continuidade dessa cultura está na transmissão de valores espirituais, veicula o filme. Na seqüência de abertura está dito: “Um violinista no telhado. Parece uma loucura, não é? Mas aqui, na nossa pequena aldeia de Anatevka, pode-se dizer que cada um de nós é um violinista no telhado a tentar arranhar uma melodia agradável e simples sem partir o pescoço. Não é fácil. Talvez perguntem por que ficamos lá em cima se é tão perigoso? Bem, porque Anatevka é a nossa casa. E como mantemos o equilíbrio? Posso dizer-vos numa palavra: tradição.”.
Para quem não viu, o filme conta a história de uma família vivendo em um povoado onde moram outros judeus. Ao mesmo tempo relata os preparativos para um casamento. Toda cerimônia nupcial judaica termina com um costume estranho, quando o noivo quebra um copo de vidro com o pé. Simbolicamente o ato recorda que a alegria deve ser moderada, pela memória das catástrofes dos hebreus, e que a felicidade nunca será completa enquanto o templo de Jerusalém permanecer destruído.Enquanto, ocorre a festa familiar, a aldeia é invadida por militares com ordem do czar para os judeus deixarem suas casas em três dias. Nada justifica essa atitude contra uma comunidade pacifica estabelecida ali há mais de três séculos Mas, o pogrom não poupa ninguém. O relato poderia estar em qualquer tempo, mas aconteceu no principio do século XX. Os judeus foram para a América. Lá com os dois pés no chão conseguiram realizar o sonho de viver a paz. O violinista? Vai continuar tocando e zelando por eles. Esse juízo está presente de forma consciente no filme e inconsciente na tela do artista que abandonou Vitebsk, sua aldeia devido a perseguições políticas encabeçadas por Malevich.
Os livros ajudaram-me a entender melhor a obra de Chagall, o filme e o apego judaico aos textos sagrados, embora um grupo, mais liberal, tenha adaptado sua crença ao período contemporâneo com uma maneira de pensar apoiada nos avanços da ciência. Mesmo assim, esses descendentes não duvidam do caráter revelador da Toráh e do papel primordial dos rabinos e do Talmud. Ainda que a religião esteja presente no interior dos valores pessoais desses filhos de Israel, isso não se evidencia nas suas atitudes exteriores. De qualquer maneira a herança emocional e simbólica dessa tradição está impregnada em seu modo de entender o mundo. Essa postura faz do judeu um forte... ou um violinista no telhado!

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