segunda-feira, 14 de junho de 2010

A perda de um filho é dor dificilmente ultrapassável, uma “ferida impossível de cicatrizar”. Afirmam os psicólogos ser uma das perdas em que não é possível fazer luto. Os pais acabam encontrando estratégias para funcionar, levar a sua vida, mas emocionalmente a ferida fica aberta para sempre. Sentimentos de raiva, culpa, tristeza, depressão, desejo de abandono da vida, são vividos por todos os elementos da família, criando tensão. Vários estudos apontam que grande percentagem de pais que perdem um filho acaba por se divorciar. Este aspecto pode não só ter a ver com as acusações recíprocas que ocorrem, mas também uma forma de fugir daquela realidade, do contexto onde existia um ser que agora não está mais presente. É como se a separação lhes permitisse apagar o passado e recomeçar de novo.

Silêncio, vazio, perda da capacidade de comunicação, instalam-se na casa. Não se consegue falar sobre o acontecimento, nem sobre sentimentos. Esse isolamento provoca sensação de solidão e distanciamento entre os elementos da família. Provavelmente a razão do silêncio seja mostrar que não dói ou para evitar que lágrimas e palavras despertem a dor no outro. No processo de luto é mais saudável que todos sofram do que “abafar a dor”. Exteriorizá-la, partilhá-la possibilita aos pais e irmãos saberem que não estão sós, e que poderão abrir-se e receber ajuda uns dos outros.

É inevitável que todos se questionem sobre o que poderiam ter feito ou evitado. Muitas vezes a interiorização da culpa pode dar origem a processos de auto-destruição: consumo abusivo de álcool, sobre-medicação, e outros. A dinâmica familiar é alterada, os pais “perdidos na sua dor” acabam por ter pouca disponibilidade afetiva e emocional para dar atenção aos filhos que ficaram. Em casos extremos há deterioração da saúde mental conduzindo a depressões profundas, desistência da vida e dos prazeres e por vezes à retirada total da realidade. A doença mental se instala, e tem início um processo de desorganização mental chamado “Luto Patológico”.
No filme “Os Últimos Passos de Um Homem” em diálogo entre a freira(Susan Sarandon) –que acompanha condenados à morte– e um homem cujo filho, bastante jovem, foi morto o homem conta que sua mulher pediu o divórcio, faz uma reticência e completa... “até que a morte nos separe...”
Ainda não havia pensado nisso.

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