segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Juridicamente Impossível (V)

- Não, não... não o meu Flávio, não!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Os gritos vinham do corredor. Júnior correu para a porta e o ruído das conversas diminuiu sensivelmente.
Pelo corredor vinha uma mulher grande: alta e gorda, praticamente jogada nas costas de um homem idoso e um rapaz. Desejava ser ouvida, quanto a isso não havia dúvidas. Repetia o “não, não,... não o meu Flávio, não!!!” como um mantra. Estava difícil para os homens avançarem. Ela era realmente um mulherão e parava debruçando-se ora num ora noutro. Como se jogasse âncora em cada parada não havia quem a movesse até que após um breve espetáculo ela mesma decidia avançar dois ou três passos.
Júnior voltou ao esquife:
- Está ouvindo?
- Quem é?
- E eu vou saber? É por você que ela se desespera. Uma grandalhona.
- Meu Deus... Tana! Não deixe que entre.
Como não deixar se ela já estava a alguns passos e como impedir depois de toda aquela cena? Ela jogou-se sobre o caixão, os cavaletes balançaram, um dos candelabros caiu, várias pessoas correram para segurar porque ele ia para cima do falecido, a mulherona empurrou mais um pouco e tudo desabou.
Flávio gritou, todos gritaram, o tule pegou fogo, Flávio pôs-se em pé, a mulherona desmaiou, pessoas se abraçavam, outros aproximavam-se pelo corredor para ver o que acontecia enquanto alguns tentavam fugir dali formando um pelote de gente na porta e Júnior quase sufocando em seu riso, disse
- Agora explique cara...
Flávio subiu numa cadeira, pessoas tentavam colocar um pouco de ordem, pendurando as coroas, levantando os cavaletes, devolvendo o caixão à sua posição inicial, uma mulher varria as cinzas do tule queimado e embora a maioria tivesse saído correndo muitos olhavam aterrorizados para Flávio que ameaçava iniciar um discurso e a mulher gritona era arrastada para fora com olhos esbugalhados e completamente muda.
- Meus amigos, estou vivo... mas isso não preciso dizer, melhor explicar o que houve... Foi uma brincadeira que agora saiu do roteiro original... Isto tudo seria explicado em outro lugar – numa festa que preparei para vocês – mas agora devo explicações e desculpas que não posso adiar.
Calmamente e com o cativante sorriso que sempre o marcara como o mais simpático da classe, da turma e da família, foi expondo sua curiosidade sobre um velório e a idéia que tivera. Contou que pretendia desviar o enterro para um salão de festas em vez de irem para o cemitério e falou de sua alegria por ter tantos amigos convidando-os para irem afinal para a festa.
Um velho irado pegou um dos candelabros e avançou em direção a Flávio mas foi contido. Varias mulheres lindas o abraçavam dando beijinhos e outras socavam suas costas.
Aos poucos organizaram os carros, ao passar pelo corredor ele desvencilhou-se das mulheres lindas e se aproximou de Tana.

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