Pode-se dizer que os Estados Unidos  foram a primeira nação inventada. Calcados em ideais iluministas, os pais  fundadores norte-americanos elaboraram um conceito de nação que pretendia ter  bases racionais e ser desprovido de famílias com poderes dinásticos. Isso fazia  com que, ao negar a autoridade hereditária e a tradição como fundamento jurídico  do poder político, eles se abrissem ao futuro, assumindo a responsabilidade da  produção democrática do Direito e a legitimidade de sua  unidade.
            Ao olharmos hoje para a Europa o que  se vê é um continente frustrado por não ter conseguido se livrar do peso do seu  passado, afinal foi justamente o fardo da história – e das tradições de  rivalidades seculares entre vizinhos – que impediu anos atrás um aprofundamento  da União Européia: tentaram ser como os americanos, mas a força centrífuga da  tradição não deixou. E a União de verdade ficou só no plano monetário. Os países  europeus acreditaram que a manutenção de suas independências seria mais benéfica  do que uma eventual união. E de certa forma é isso o que se percebe quando o  governo alemão faz cara feia ao ter que sustentar o peso da inconsistência  fiscal e o baixo desenvolvimento econômico de países como Portugal e Grécia:  “não pagarei pelo seu despreparo”, o que implica dizer, “não tenho  responsabilidade pelos seus atos e seu destino”.
            Por aqui no Brasil, ao que tudo  indica, vamos bem, obrigado. Somos um país forte e coeso. Falamos a mesma língua  (o que não quer dizer nada, uma vez que a Europa tem quinze línguas e já tem  moeda única, e nossos vizinhos sul-americanos falam espanhol e não se bicam  muito, como Peru e Chile) e não temos grupos que reivindiquem soberania dentro  do território nacional. Contudo, recentemente o tema da distribuição dos  royalties do petróleo do pré-sal vem pondo na ordem do dia a discussão: qual o  sacrifício que estamos dispostos a fazer para ficarmos todos juntinhos, sob a  mesma bandeira e nos tornarmos cada vez mais unidos. Afinal, ainda que não  pareça, somos uma Federação. Esquisita e centralizadora, mas, ainda assim, uma  Federação. E somos um país continental que – segundo demonstra a história –  apenas se manteve unido graças a Napoleão Bonaparte (que fez os reis portugueses  saírem correndo da Europa em direção ao Rio), e por José Bonifácio de Andrada e  Silva, que convenceu D. Pedro I a proclamar a independência e deixar o Brasil  amarrado a um governo central forte, impedindo assim a  fragmentação.
            Todos os interesses e peculiaridades  regionais se mostram de forma nua e crua quando se discute quem se beneficiará  com os lucros da exploração do petróleo (a tal força centrífuga...). A atual  divisão dos royalties não considera os estados e municípios não produtores.  Contudo, com a efetiva exploração do pré-sal, e os lucros exorbitantes  previstos, as vantagens econômicas desses entes da federação poderiam criar  desigualdades substanciais de riqueza e qualidade de vida entre os estados e as  regiões de nosso país, o que já é, por si só, um elemento desagregador em total  desacordo com os objetivos da República, apontados no artigo 3º, III, da  Constituição Federal. Como se vê, o tema do equilíbrio da União – ou seja, o  estado da nossa União – é pouco explorado e  discutido.
            Que tal se a grande imprensa  ensinasse a população a discutir o futuro do país?
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