quarta-feira, 19 de março de 2014
Da minha janela vejo a Lua.
Ah, Lua, quão bela você é!
Se um dia chorei quando disseram que eu tinha cara de lua, é porque imaginei que fosse feio.
Hoje gostaria que alguém me olhasse nos olhos, sorrisse e dissesse:
- Você tem cara de Lua.
Desvendaram seus mistérios, violentaram seu silêncio, marcaram sua face com pegadas de pesados sapatões, você não é mais virgem, foi possuída, fincaram uma bandeira em seu ventre.
Como você se sente? Eu me sentiria escancarada. Afinal você está nua, Lua, não há musseline, filó, point d´esprit, nada, por mais fino e delicado que fosse o tecido, nenhum suave e esvoaçante pano a esconder sua intimidade. E o homem chegou com seu veículo lunar, escolheu no seu corpo o melhor lugar e a marcou como se marca um zebu, um gir ou um gado qualquer, fincou-lhe um mastro. Não deveria ter feito isso, Lua. Peço desculpas.
São Francisco, tão seu amigo que a chamava de irmã, nunca abusou de sua bondade, não lhe teve intimidades, você não se deu ao desfrute. Por que essa ousadia de um astronauta que só a olhou como meta a ser atingida e sequer fez um poema olhando-a nos olhos?
Desculpe-nos, Lua!
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2 comentários:
Quão poético é seu texto. Nunca olhei a lua desse jeito. Vejo-a constantemente, olho e penso: tão bonita! Com certeza verei essa deusa com outros olhos a partir de hoje. Parabéns!
Sempre achei que existe uma lua pra os astrônomos e uma Lua pra os poetas.
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