A Bíblia conta que Deus perguntou: "Onde está o teu irmão Abel?". E Caim respondeu "Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?" (Gn 4, 9).
Se pensarmos bem: sim, somos guardas de nossos irmãos. Quando amamos gostamos de compartilhar. A loja em que compramos por um bom preço ou onde encontramos aquele objeto de nosso desejo, o médico que resolveu nossas dores, o restaurante que faz o melhor prato, o pensamento interessante ou engraçado encontrado no Facebook... Não seria essa uma forma de “guardar” nosso irmão de dissabores indo a lugares diferentes? Não seria um cuidado para que o outro também fique feliz? Só se faz isso se houver paz em nosso interior.
Ser pessoa significa sermos guardas uns dos outros! Contudo, quando se quebra a harmonia, se produz uma metamorfose: o irmão que devíamos guardar e amar se transforma em adversário a combater, a suprimir.
Nossa paz interior evita a
agressividade. Quando tentamos minimizar a dor alheia, não estamos guardando o
outro?
Extrapolando o âmbito
pessoal, só o amor -na forma de consciência ecológica- nos faz recolher um lixo
que não é nosso, retirar objetos indevidos de lugares de passagem, pensar na reciclagem.
Só o amor – na forma de consciência política – nos faz entrar na campanha deste
ou daquele candidato. Não estaríamos, então, sendo guardas dos irmãos, poupando-os de
resíduos e de políticos inconscientes? Com nossos atos buscamos a paz, a harmonia.
Qualquer retrospectiva do
ano que passou mostrou-nos inúmeras cenas de guerras, de violências, de
tragédias, de morte. Como harmonizar a busca da paz com a realidade que é
violenta? Faz sentido falar de paz numa sociedade competitiva e com os olhos
voltados para a morte, a disputa, a auto defesa, num mundo caótico?
Como deixarmos de nos
surpreender com as atitudes corretas já que a correção, os princípios morais e
éticos deveriam ser a regra e não a exceção? O gari encontra uma carteira cheia
de dinheiro e devolve ao dono... isso é notícia de jornal não porque mereça
aplauso mas por ser inusitado. Não deveria ser comum? O político comparece a
todas as sessões legislativas: “Nossa! Que espetáculo!” Mas isso não seria o
comum?
Como disse o Papa
Francisco, ontem:” É possível percorrer o caminho da paz? Podemos sair desta
espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o
caminho da paz?”... “! Que cada um olhe dentro da própria consciência e escute
a palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o teu coração, supera a
indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível, vence as tuas
razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação: olha a dor do teu irmão
– penso nas crianças: somente nelas... olha a dor do teu irmão, e não
acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstrói a harmonia perdida; e isso
não com o confronto, mas com o encontro! Que acabe o barulho das armas! A
guerra sempre significa o fracasso da paz, é sempre uma derrota para a
humanidade.”...” perdão, diálogo, reconciliação são as palavras da paz: na
amada nação síria, no Oriente Médio, em todo o mundo! Rezemos, nesta noite,
pela reconciliação e pela paz, e nos tornemos todos, em todos os ambientes, em
homens e mulheres de reconciliação e de paz. Assim seja.”
Paz e amor em 2014!