domingo, 19 de abril de 2009

Neither - Nenhum (dos dois)

"Quando vem a taciturna e poda as tulipas:
Quem sai ganhando?
Quem perde?
Quem aparece na janela?
Quem diz primeiro o nome dela"
Canção de uma dama na sombra - Paul Celan




Um losango segundo o dicionário é um “quadrilátero que tem os quatro lados iguais e ângulos iguais dois a dois. O mesmo que rombo.” Figura geométrica comum em roupas de palhaço, pijamas de criança, telas de segurança de náilon e alambrados de metal.
Muitos prisioneiros de guerra mesmo anos depois de salvos continuam tendo pesadelos com alambrados, afinal, em suas memórias muitas vezes são tão somente aqueles pedaços de metal trabalhados que os mantiveram cativos.

Desde a década de 80, as metrópoles passam por um processo de gradeamento, de segregação do está dentro contra o resto do mundo em busca de segurança. Se o tal alambrado pode manter dentro há de manter o inimigo fora também.
A sensação que se tem quando no centro da escultura/instalação Neither – Nenhum (dos dois) de Doris Salcedo é de inversão já que o alambrado salta das paredes num ato violento maculando o interno, criando cicatrizes no que deveria proteger. Há no ar uma ambiguidade, um misto de segurança acolhedora e medo latente. Uma presença, uma força poderosa e representativa que salta dessas paredes infames e mesmo assim inocentes.

A artista colombiana bebe na fonte do poeta alemão Paul Celan ao expor o medo da poda, da poda da liberdade de movimentação, de liberdade civil e da própria vida.
E fala do poder da força humana quando usada para oprimir, tem a violência do holocausto e da guerra civil de seu país no coração de sua pesquisa, expõe medos e não verdades absolutas.

Mas também discute a força opressora do cubo branco enquanto conceito estético no mundo das artes visuais. Criada para ser exibida na White Cube, galeria londrina de nome sugestivo, a obra ganha ainda mais força quando vista como o olhar atento, de crítica pouca velada, por parte da artista ao mundo da arte. O cubo branco como um espaço de autoritarismo, de imposição, até de possibilidades, mas nunca com uma saída.
A obra faz parte da coleção do Centro de Arte Contemporânea - Inhotim e teve seu pavilhão constuído de acordo com sua medidas originais.



2 comentários:

Rosa Bertoldi disse...

PARABÉNS!!!!!! seu olhar é absolutamente pós-moderno, menina.
Difícil encontrar alguém com sensibilidade para entender as verdadeiras obras de arte contemporâneas. Palavra de entendida no assunto.

Anônimo disse...

Você conseguiu fazer uma fantástica revelação da angústia contemporânea.