sábado, 11 de abril de 2009

Poetar...

Foi minha filha quem chamou minha atenção para a palavra. Poetar é igual a poetizar. Contar em versos.
Poesia... algo para ser sentido. Está tão próxima de nós, quer nas letras de música, quer nas brincadeiras infantis, quer em jornais ou livros. É só olhar em volta, pois ela está em todo lugar basta trabalhar a emoção, brincar com as rimas, fazer sons, jogar com as palavras, as imagens e a fantasia, decifrar metáforas, ler, sentir, escrever.

"Dançam, dançam os paladinos,
Os mágicos paladinos do diabo,
Os esqueletos dos Saladinos."


O verdadeiro poeta está além de seu tempo. Ser vanguarda é estar adiante de sua época. Daí a incompreensão e a rejeição sofrida por todos os grandes artistas. O poeta vê o que a imaginação comum não pode conceber. Essa passagem para o outro lado da existência, realiza-se ao preço de uma experiência catártica onde imperam a loucura e a maldição.
Arthur Rimbaud, autor dos versos acima, em carta a Paul Demeny escreveu: “o poeta se faz vidente mediante um longo e racional desregramento de todos os sentidos.” Ele não estava evocando a decadência do comportamento ou a degeneração dos valores, queria simplesmente romper as normas e convenções para perceber o desconhecido. Alcançá-lo é tornar-se sábio... A arte deve ultrapassar o limite do sabido, do conhecido, do visto, o poeta é o artesão de uma nova linguagem, um inventor com méritos diferentes dos de todos os seus antecessores.
Por exemplo: enquanto Baudelaire partiu da angústia de seus contemporâneos para nela se encerrar, Rimbaud pregou a filosofia feroz que “canta a danação do mundo”. Não surpreende que os surrealistas tenham considerado um irmão, o adolescente com cara de anjo encarnando um pequeno demônio. Aliás, não foi somente o surrealismo que se encantou com ele. Escrita quando estava entre os quinze e dezoito anos, sua obra inspirou o existencialismo e os beatniks. Quando minha filha comentou a beleza contida na palavra poetar, pensei em Rimbaud.
Nele a modernidade encontra seu mais ilustre representante e talvez seu mais severo crítico. Ele sentiu a aceleração do tempo e a renovação infinita das feridas por ele provocadas. Pressentiu a coisificação das relações humanas e a desumanização dos tempos pós-modernos. Só o verdadeiro poeta pode alcançar o fundo dessa vidência: “Vi o suficiente/Tive o suficiente/Conheci o suficiente... então abandonou tudo, pois a visão deve ter sido a de um pesadelo!

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