A mulher entra no escritório com passos firmes, abraçada à sua bolsa Victor Hugo. Uns trinta e oito ou quarenta anos, bonita, elegante, recendendo CK B, toda machucada.
Queria ser acompanhada à delegacia da mulher para fazer um laudo. Fora espancada pelo marido.
Antes era preciso que me contasse o que estava acontecendo.
Foi clara e sintética. Separada há dez anos, de vez em quando precisava conversar sobre os filhos, a casa e outras tantas coisas. Ele, sempre sem dinheiro, preferia não gastar com restaurante. Encontravam-se na casa dela.
As crianças iam para a avó.
Ele adorava spaghetti e ela fazia um molho sensacional. Arrumava uma bela mesa -por amor aos filhos. Sabendo quanto ela aprecia vinho ele chegava com o melhor, afinal haviam economizado o restaurante.
Batidinhas com lascas de parmesão e mel, ele adora, abriam o apetite enquanto o cheiro do molho inundava a sala.
Com o spaghetti, o vinho. Brindavam, conversavam, e então pintava um clima. Ele dormia lá... por uns meses. Um dia perdia a paciência, dava-lhe uma surra e ia embora. Mas o tempo passava, era preciso falar sobre as crianças, coisas da casa pra consertar, telefonava, convidava para o spaghetti, ele chegava com o vinho e depois de uns três meses perdia a paciência.
- Por que convida?
- Pouco dinheiro, não posso deixar que gaste com luxos. Comer em restaurante é uma fortuna ele estaria gastando um dinheiro que poderia dar para as crianças...
Parecia um amor eterno.
Tentando se justificar ela disse:
- Doutora, eu acabo sofrendo danos porque não quero ter perdas, a senhora entende?
3 comentários:
Essa é uma das coisas que nao consigo entender na vida... Mas parece que nem tudo mesmo tem explicacao...
Rosa:
O Rogerio tem razão, eu também não aceito. Mas, conversando com algumas mulheres e ouvindo suas histórias, eu entendo... Mas, não seria melhor passar fome do que apanhar? Ah, mulheres!!!!!
Janira
A mulher, na vida a dois, ao sofrer violências, sobre perdas e danos deveria perceber lucros cessantes. Com a violência cessam a auto-estima, o amor próprio, a altivez, a coragem, o respeito mútuo, lucros certos deste capital precioso: o direito de viver a paz que é fruto da justiça.
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