sábado, 22 de agosto de 2009
Al-Andalus: uma trama social original
Em 711, Tarique ibn Ziyad conquistou a península ibérica chamando-a de al-Garb-al-Andalus. Fixaram-se na região tribos muçulmanas. Em 754 foram expulsos e passaram a viver no sul de Portugal e parte da Espanha onde deixaram marcas profundas que podem ser comparadas à presença romana. Apesar das constantes tensões estabeleceu-se um misterioso acordo entre o ambiente local, aberto e caloroso, e homens de culturas diferentes tentando viver juntos, escutando uns aos outros, o que passou para a história como o prodígio andaluz. O convívio social e cultural entre as três religiões monoteístas na península ibérica atingiu o apogeu entre os anos de 711 e 1086 nos territórios islâmicos e de 1085 e 1370 nos cristãos.
Essa forma de coexistência teve conseqüências, cujo alcance ainda não foi de todo reconhecido e enriqueceu não só a região, mas toda a Europa. Por intermédio de al-Andalus foram transmitidos os fundamentos da cultura grega, assim como as contribuições filosóficas e cientificas da Índia, as relíquias da Pérsia e muito da misteriosa China. Nas cidades dominadas, aceitavam a igreja dos cristãos e as sinagogas dos judeus fundando a mais elevada e opulenta civilização da Idade Média. O Oriente que assimilara o melhor do judaísmo e da cultura bizantina entrava na Europa trazendo os princípios da liberdade religiosa. Assim, a Espanha serviu de elo entre o passado e o futuro, entre a Antiguidade e a Renascença. O contato entre essas culturas ocorreu de diversas formas: mestiçagem étnica, intercâmbios intelectuais, costumes e festividades comuns. Trata-se de um dos fenômenos mais admirados pelos historiadores modernos e da indiscutível influência exercida pela península ibérica muçulmana sobre a cristandade européia quando mais de oito gerações de judeus se beneficiaram da tolerância desses soberanos e puderam viver sem contratempos. Na área cultural o intercâmbio foi contínuo, não houve ruptura, pois desde o início, árabes e cristãos, membros de classes sociais diversas formaram um todo homogêneo. Os jovens entusiasmados aprenderam à língua do invasor e os conquistadores utilizaram o romano, um dialeto derivado do latim e falado na região, no seu dia a dia.
A transmissão da ciência helenística e grega aconteceu através de traduções para o latim de obras de astronomia, medicina, física, história natural e filosofia difundindo dessa forma os trabalhos de Aristóteles, Galeno, Hipócrates, além de obras de Avicena e Averróis. O apreço da elite de Castela e de Aragão pela cultura judaica era evidente, enquanto o cardápio se inspirava na cozinha árabe. Alguns jogos, como o xadrez ou a justa, eram populares em ambas as comunidades, além das festas estabelecidas no calendário juliano, como o ano novo cristão e a quinta feira santa, sempre comemoradas por todos. Artesões, comerciantes, mercadores e proprietários de terras regiam-se por normas baseadas no direito romano e princípios canônicos do Islã. Os grupos conservaram seus hábitos e costumes tradicionais, conforme provam documentos da época. Essa convivência foi possível graças a certos princípios religiosos e jurídicos e pode parecer pouco, mas menos se fez em outros lugares, inclusive nos dias atuais.
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