quinta-feira, 3 de março de 2011

67: e foi de cinzas seu enxoval...viveu apenas um carnaval

Ganhei um documentário de título 67. Trata-se de um dos festivais de Record. Lindo, lindo! Mas, o que chamou atenção, além do Caetano ser tão jovem naquela época, na verdade, todos eram, foi o Roberto Carlos.
A minha geração preconceituosa não apreciava o moço. O único de cabeça boa era Caetano, chamado de Veloso o tempo todo, e que nunca torceu o nariz para nada. Ele contou que quando inscreveu sua música (Alegria, Alegria) avisou que ia usar guitarra elétrica, algo considerado uma heresia naquele momento, quase ficando fora do festival por conta disso. Falou de como ele imaginava uma nova música popular brasileira, com cara mais internacional, embora ela também nacional. Tão própria dele essa oposição bom/ruim, nacional/internacional, quente/frio... enfim é Caetano com sua eterna inteligência dual. Contou também que no Rio, os músicos diziam que quando ele voltasse para Salvador iria apanhar de birimbau. Os baianos aplaudiram. O comentário dele foi: eles estavam na vanguarda! Quem também contou piadas foi Roberto. "O Edu Lobo e sua melodia Ponteio foram desclassificados, pois o Sergio Ricardo jogou a viola nos espectadores." Quem se lembra da letra do Edu? Ela dizia "quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar... ponteio..." Não foi, pois acabou sendo a vencedora, embora eu ainda acredite até hoje que as vencedoras foram Roda Viva e Alegria, Alegria.
Acho que estou falando disso por duas razões. A primeira: Roberto Carlos cantando Maria, Carnaval e Cinzas. Não vou resistir e transcrever a letra para quem estiver lendo, afinal é carnaval.
Nasceu Maria quando a folia/Perdia a noite, ganhava o dia
Foi fantasia seu enxoval/Nasceu Maria no Carnaval
E não lhe chamaram assim/Como tantas Marias de santas
Maria de flor, seria Maria/Maria somente, Maria semente
De samba e de amor/Não era noite não era dia
Só madrugada, só fantasia/Só morro e samba
Viva Maria/Quem sabe a sorte
lhe sorriria e um dia viria/De porta estandarte
Sambando com arte/Puxando cordões e em plena
Folia de certo estaria/Nos olhos e sonhos de mil foliões
Morreu Maria quando a folia/Na quarta feira também morria
E foi de cinzas seu enxoval/Viveu apenas um Carnaval
Que fosse chamada/Então de tantas Maias de santas
Maria de flor, em vez de Maria/Maria somente, Maria semente
De samba e de dor/Não era noite, não era dia
Somente restos de fantasia/Somente cinzas, pobre Maria
Jamais a vida lhe sorriria/E nunca viria de porta-estandarte
Sambando com arte puxando cordões/E não estaria em plena folia
Nos olhos e sonhos de mil foliões.
A segunda: no dia 26 de fevereiro houve um ensaio aberto da Escola de Samba Pérola Negra, da Vila Madalena, de São Paulo, no Centro de Cultura Judaica. O tema desse ano é Abraão, o patriarca da fé. Portanto, uma escola de samba com um tema que interessa às três grandes religiões monoteístas. Bonito, não é?

Um comentário:

Rosa Leda disse...

Que belo presente numa quinta chuvosa e desanimada... O que mais tenho ouvido nestes últimos dias é: "vamos deixar para dia 14? É que o Carnaval..." Inacreditável o mundo parar porque é Carnaval. Viva Maria! Adorei. Obrigada!