sábado, 12 de março de 2011

Fausto, um marginal de caráter meio suspeito...

Vou falar de Goethe vivendo uma era desenvolvimentista que acabou com a frase de um oficial do exército americano após a explosão da primeira bomba atômica: "Meu Deus!... Os garotões cabeludos perderam o controle!" Eu completaria: e puseram um ponto final na modernidade. Os historiadores colocam o início da época moderna em 1453, quando da tomada de Constantinopla e seu término em 1945. São quase quinhentos anos de evolução e nesse período estão invenções, descobertas, guerras e revoluções que mudaram a face do mundo. Goethe participou de um momento crucial durante o século XIX, em uma Alemanha estagnada, em comparação com países desenvolvidos como França e Inglaterra. Fausto estava inserido nesse contexto, quando o pensamento moderno vigorava plenamente, mas as condições alemãs de vida continuavam medievais e por conta desse estado de coisas, o país vai provocar em breve as duas grandes guerras mundiais.
Goethe fez do personagem um marginal de caráter um tanto suspeito. Um sujeito indiferente à vida, o retrato do político irresponsável, que lamentavelmente permanece até a atualidade. Porém, quando se pensa em modernidade, a figura de Fausto torna-se o protótipo do herói cultural e suas transformações acontecem paralelas as mudanças da sociedade como um todo. Ele expressa o processo pelo qual um novo sistema mundial aflorou na Belle Époque e está se repetindo hoje, daí a semelhança. Um fim de século levando ao outro, como um espelho refletindo transformações...
O herói de Goethe teve seu aparecimento literário em 1587, em um livro narrando a vida de um médico, alquimista e teólogo que vendeu sua alma ao demônio em troca de 24 anos de não envelhecimento. Seria esse o trato? Alguns autores postulam que o tema do livro é o novo homem dividido entre a religiosidade medieval e o humanismo renascentista. Depois desse texto apareceram outros com o mesmo conteúdo, sempre adaptado ao momento histórico em que era escrito. O romantismo explorou a figura de Fausto em diferentes estilos e técnicas. Seu mito nunca se esgotou, tanto que Paul Valéry, Fernando Pessoa e Thomas Mann retomaram a questão, pois se o leitor prestar atenção, Fausto é - na verdade - o arquétipo da alma humana.
Goethe fala da afinidade entre o ideal cultural do crescimento individual e do movimento social em direção ao desenvolvimento econômico, são as ideias soltas no ar do seu tempo. Tempo de Freud, de Marx, das Comunas. O autor alemão acreditava que para o progresso acontecer, o individual e o econômico caminharia lado a lado fundindo-se em uma coisa só. Isso não aconteceu. Tudo parece continuar igual. Fico imaginando que transposto para os dias de hoje Fausto ainda é de uma atualidade impressionante. O que dizer sobre isso? Talvez, que, o pano de fundo não tenha mudado muito...

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