segunda-feira, 7 de março de 2011

Não vou falar sobre o Dia Internacional da Mulher

O desejo de silêncio tem sido considerado coisa de gente rabugenta ou excêntrica neste nosso mundo tão ruidoso. Lembro-me dos retiros espirituais a que fui obrigada há muitas décadas. O primeiro, durou um dia, o último durou quatro. Praticava-se o silêncio absoluto por quatro horas sucessivas, depois vinha um intervalo de quinze minutos. Das sete da manhã até a hora de dormir, para refletir e entrar em contato com Deus. Mas havia sempre uma freira às nossas costas para “pegar” as infratoras.
Depois do segundo dia os intervalos eram bem silenciosos, não mais havia necessidade de tagarelar, curiosamente só percebo isso hoje, mas, voltando aos intervalos acredito que seja prova de que estar em silêncio é questão de treino.
Em sociedade não conseguimos estar calados sem escapar à pergunta - o que você tem?
Nosso tempo transborda de comunicação. Nem o silêncio para leitura chega a ser unanimidade, há escolas que têm som nas classes e uma sala de espera sem um televisor ligado ou som ambiente chega a ser constrangedora com seus ruídos inesperados – portas em movimento, saltos altos, pigarros, celulares e mais uma centena deles.
O escritor português Miguel Sousa Tavares afirma que todas as pessoas deveriam ser obrigadas a ficar pelo menos meia hora em silêncio diariamente, com todos os aparelhos desligados. Pensando. Essa meia hora poderá ser torturante para alguns.
“O barulho é a fuga de si. Ninguém quer tomar consciência das próprias limitações” diz o padre Jesus Hortal, teólogo e doutor em filosofia. Ele considera, no entanto, que o silêncio pode levar à melancolia e conta que o Papa determinou que religiosos, com voto de silêncio, devem sair uma vez por semana para conversar.
A verdade é que filmes e programas de televisão estão cada vez mais barulhentos e os silêncios provocam incômodo e estranhamento.
A escritora inglesa Sara Maitland deixou tudo para unir-se ao seu grande amor: o silêncio. Na semana que vem conto o resto.
Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é Carnaval!

3 comentários:

Anônimo disse...

Credo Rosa agora você deu pra escrever romances de suspense? Eu não consigo silenciar minha angustia pelo final, seja bom ou não. Agora ficar em silêncio é ótimo! Eu costumo brincar que melhor do que o silêncio só João. A frase é de Caetano Veloso e o João é o Gilberto... mas, quando quebro o silêncio nem sempre é com ele, João!!!!!
Rosa Bertoldi

Sérgio Rizzi disse...

"Para a filosofia, o silêncio não se confunde com a ausência de ruído, pois nada mais é do que a abolição da palavra ou da linguagem. " (silêncio, Dicionário Básico de Filosofia, Hilton Japiassú e Danilo Marcondes)

"A experiência metafísica do silêncio gera uma angústia existencial: 'O silêncio eterno dos espaços infinitos me apavora', diz Pascal. Como experiência mística interior, o silêncio, ligado à oração, à meditação, ao asceticismo e à solidão, constitui a condição para o encontro com uma presença oculta, o caminho para o encontro com *Deus ou com o *outro" (mesma obra, verbete silêncio)

rosa leda disse...

Colaborações maravilhosas. Obrigada Rosa e Sérgio.