Um deles Friedrich
Paulus, o conquistador de Stalingrado foi
transformado em lenda. Mas, após cinco meses cercado pelos russos acabou
por se render para salvar seus soldados. Motivo? Foi abandonado à própria sorte
pelo ditador. Permaneceu na Russia por muitos anos. Depois foi viver na
Alemanha Oriental ministrando cursos e fazendo palestras. O aviador e ator de
cinema Ernst Udet, filho de um rico empresário estava acostumado a uma vida boa
e por conta de sua paixão: voar, acabou sendo um dos homens mais próximos de
Hitler. Ele acreditou no discurso do sujeito e ao saber das atrocidades
cometidas pelo regime deu um tiro na cabeça. Mesmo assim Hitler montou um circo
e fez um enterro de herói para o jovem. A triste noticia veiculada pelos meios
de comunicação da época era que ele havia morrido testando um novo avião! E por
último o conspirador Wilhelm Canaris, aquele que salvou famílias inteiras de
judeus por sugestão de Hitler. O livro me parece tendencioso, todos muito
bonzinhos para meu gosto, mas vale a pena conferir...
domingo, 29 de junho de 2014
Então, use criminosos ou judeus...
Frase
atribuída a Hitler, após ouvir as explicações de seu ministro sobre a prisão de
oito agentes alemães em missão de espionagem no território norte americano.
Todos foram condenados à morte. De
acordo com o ajudante de ordens do Fürher, em vez de se sentir humilhado pelo
tratamento descortês Canaris sorriu e repetiu a frase... use criminosos ou judeus... A partir daí
começou a organizar uma operação para salvar judeus, através da ABWEHT, algo
correspondente ao serviço de espionagem britânico. Se o assunto não fosse tão
sério a vontade é de rir. Afinal ele estava seguindo literalmente sugestões de
seu chefe maior. Acabei de ler Guerreiros de Hitler, um presente do Baptista.
Não, não sou uma neonazista. Gosto de História Moderna. O autor Guido Knopp vem
trabalhando com acontecimentos referentes aos anos de 1940 e publicando com
frequência suas descobertas. Nesse caso, ele conta o desempenho de seis
importantes lideres de alta patente do exército alemão durante a segunda
guerra. Começando por Rommel, o ídolo e seu cúmplice Keitel passando pelo maior
estrategista de todos os tempos: o marechal de campo Erich von Meinstein relata
fatos e boatos dos homens relacionados a Hitler, fala de virtudes e defeitos.
domingo, 15 de junho de 2014
Assassinos....
O homicídio
é tão velho quanto o homem. A Bíblia relata diversos fatos e o primeiro
assassino foi Caim, que matou seu irmão Abel.
Contei a vocês alguns fatos relacionados ao livro sobre os ajudantes de
Hitler. Passei dias pensando como seria a Alemanha ou o mundo não sei, caso as
tentativas de assassinato do Fürher tivessem sido bem sucedidas. Existiam espiões dos dois lados, pois foram tantas as vezes que se considerou o tiranicídio e ele sempre saiu ileso. Sorte? Seria preciso muita sorte, se tivesse a vitória na guerra era da Alemanha... Mas, voltando ao assunto: existe um perfil de assassino político? O que aproxima Brutus de Lee Oswald? Pirou... a mulher é maluca e a gente não sabia. Só pode... Nada disso. Pensem comigo. O homicídio político está sempre associado ao poder. A maneira mais rápida de mudança em um governo é a eliminação do detentor desse poder, que passa para outro individuo, outro partido ou família. Em geral quem mata um político sente-se no dever de fazê-lo. Muitas vezes é transformado em herói, através desse ato. Na Grécia do século VI a.c. Harmódio e Aristogitão mataram Hiparco que partilhava o governo com Hípias. Depois de algum tempo foram modelos para estátuas gregas, como heróis de Atenas. Imagine Julio César, um homem moderno para o tempo dele mudando o curso do governo romano, executando as reformas necessárias. Teria o sucesso lhe subido a cabeça? Governava sentado em trono de ouro fazendo com que os senadores da república assinassem leis sem ler. Bom, para dizer a verdade não mudou muito. A diferença é o trono: não é de ouro e os políticos recebem propinas! Foram 23 facadas. Dentre os assassinos estava o filho de César com Servilia, amante do ditador. Caio Júnio Brutus. que era também sobrinho de Catão. César foi morto por desprezar a opinião de seus adversários. Além de motivos políticos tinha orgulho ferido e inveja nessa história, vocês não acham? Vamos partir do pressuposto que Julio César mereceu. Mas, e Gandhi? O homem santo da Índia queria o bem de todos e a independência de um país. Como alguém poderia pensar em matar Bapu? Um fanático religioso de nome Naturam Vinayak Gopal e seu grupo queriam os mulçumanos fora da Índia e assassinaram Gandhi sem dó nem piedade! A ironia do destino é que os mulçumanos continuam lá...
tentativas de assassinato do Fürher tivessem sido bem sucedidas. Existiam espiões dos dois lados, pois foram tantas as vezes que se considerou o tiranicídio e ele sempre saiu ileso. Sorte? Seria preciso muita sorte, se tivesse a vitória na guerra era da Alemanha... Mas, voltando ao assunto: existe um perfil de assassino político? O que aproxima Brutus de Lee Oswald? Pirou... a mulher é maluca e a gente não sabia. Só pode... Nada disso. Pensem comigo. O homicídio político está sempre associado ao poder. A maneira mais rápida de mudança em um governo é a eliminação do detentor desse poder, que passa para outro individuo, outro partido ou família. Em geral quem mata um político sente-se no dever de fazê-lo. Muitas vezes é transformado em herói, através desse ato. Na Grécia do século VI a.c. Harmódio e Aristogitão mataram Hiparco que partilhava o governo com Hípias. Depois de algum tempo foram modelos para estátuas gregas, como heróis de Atenas. Imagine Julio César, um homem moderno para o tempo dele mudando o curso do governo romano, executando as reformas necessárias. Teria o sucesso lhe subido a cabeça? Governava sentado em trono de ouro fazendo com que os senadores da república assinassem leis sem ler. Bom, para dizer a verdade não mudou muito. A diferença é o trono: não é de ouro e os políticos recebem propinas! Foram 23 facadas. Dentre os assassinos estava o filho de César com Servilia, amante do ditador. Caio Júnio Brutus. que era também sobrinho de Catão. César foi morto por desprezar a opinião de seus adversários. Além de motivos políticos tinha orgulho ferido e inveja nessa história, vocês não acham? Vamos partir do pressuposto que Julio César mereceu. Mas, e Gandhi? O homem santo da Índia queria o bem de todos e a independência de um país. Como alguém poderia pensar em matar Bapu? Um fanático religioso de nome Naturam Vinayak Gopal e seu grupo queriam os mulçumanos fora da Índia e assassinaram Gandhi sem dó nem piedade! A ironia do destino é que os mulçumanos continuam lá...
quinta-feira, 12 de junho de 2014
Momentos Decisivos
No dia seguinte despertou com o
pensamento martelando. A ansiedade quase fez com que fosse direto ao computador,
mas não, continuaria aguardando, afinal seriam só mais vinte e quatro horas,
eles estipularam a data.
Depois da sesta, seu impulso era
fazer uma discreta consulta, porém, o
dia já estava na metade, resistiria. Resistiu até à noite mas deitou nervosa prevendo
uma insônia.
Acordou mais cedo do que de
costume. Foi à caixa do correio, encontrou dois ou três folhetos que informavam
sobre a inacreditável promoção feita pelo supermercado que, naquele dia,
venderia bananas a dezenove centavos o quilo, e da loja de colchões oferecendo o super resistente modelo Nimbus,
com molas ensacadas, recobertas pela espuma de resistência quarenta e revestido
por tecido de algodão indiano com elastano que não enrugava, acompanhado do box, com pés de madeira maciça e gavetões
onde poder-se-ia acomodar os lençóis e cobertores confortavelmente, ganhando como
brinde dois travesseiros de espuma da NASA, tudo isso pelo valor simbólico de dois mil e
quatrocentos reais e com a vantagem de, na segunda compra, o cliente receber de
presente um jogo de cama da mais pura malha, do designer Lamberto Meirelles. No final informavam que ela iria se
arrepender muito se não fizesse a compra, pois
nunca mais encontraria promoção igual.
Sentou-se na poltrona, com a
cortina e o vitrô abertos, aproveitando o Sol para fixar a vitamina D, que
repunha há alguns meses, e esperou. O
Sedex passaria logo.
Ao meio dia desistiu da poltrona,
preparou um macarrão instantâneo, que comeu sem prazer algum, abriu uma caixa
de bombons e subiu para o quarto. O relógio já marcava cinco horas quando
despertou, enregelada. Impossível que não houvesse notícia! Haviam
prometido procura-la! Organizou melhor seus pensamentos e chegou à frase mais
adequada: o resultado seria divulgado naquela quinta-feira. Os vencedores
seriam avisados antecipadamente. Conclusão: não era uma das vencedoras. Entrou
no site, e respirou aliviada: por
problemas técnicos fora necessário adiar para sábado a divulgação do resultado.
Sorrindo, fez suas orações e
pediu a Deus que, se ainda desse tempo, Ele a fizesse vencedora. Talvez fosse
sua última chance de receber louros nesta vida. Embora houvesse muita gente na sua
situação, pedindo o mesmo, que Ele olhasse para ela: nunca cometera um
pecado mortal, sempre se mostrara devota e fizera uma bela caminhada pelos
trilhos da espiritualidade. Sabia-se bondosa, generosa, atenta às necessidades
dos outros... mas nada disso lhe trouxera louros e ela os queria, ah, como os
desejava! Ao final da oração ainda explicou a Deus que não era por vaidade,
Ele, que conhece cada fio de nosso cabelo, já saberia disso, dispensável lembra-lo.
Dormiu imediatamente. Ao som do
despertador saltou da cama tão rapidamente que perdeu o equilíbrio ao pisar nos
chinelos. Não era o despertador! A campainha soava, em repetidos toques que,
pela primeira vez, não a irritavam, esperara tanto por eles! Um moto-boy a aguardava no portão com uma
caixa nas mãos. Sentiu vontade de pisar no presente enviado por sua tia. Justo
naquele dia? Que ódio! Nem se alegrou com a echarpe de tricô feita pela
madrinha, a irmã mais velha de sua mãe que, aos 98 anos, ainda estava lúcida e
fazia peças fantásticas com suas agulhas. Já passava das onze quando a
campainha tocou novamente e ela viu a perua do Sedex à sua porta, seria deles?
Já olhara no site e o resultado ainda não fora divulgado.
Olhou para o jovem entregador,
examinou as mãos dele, estendeu as suas para pegar o envelope e percebeu que
adiava a hora da revelação. Antes de assinar conferiu o remetente, e, sim, era
deles. Assinou trêmula, tentou rasgar o plástico resistente mas não conseguiu,
apressadamente subiu os degraus e entrou na casa, enfiou uma faca no envelope
e, abraçou-o ao ler: Srta. Letícia Spinelli, temos o prazer de lhe comunicar
que seu trabalho foi selecionado e, após criterioso exame da comissão composta
pelos senhores fulano, fulano e fulano, foi considerado o melhor, sendo
atribuído a ele o primeiro lugar.
Lágrimas, vontade de contar para
todos, pequenos pulos, por temor de escorregar, embora desejasse dar saltos mortais
e fazer estrela, com as mãos no chão e as pernas para o ar, e o peito cheio de
alegria, de vigor, de vontade de prosseguir, acompanharam-na por todo o dia.
Imprimiu, copiou, colou, arquivou páginas e páginas do computador, com seu nome
e a declaração de que era, efetivamente, a melhor pintora entre os idosos que
competiram. Nunca tivera certeza mas dessa vez, desde o início, soubera que havia
possibilidade de se projetar, tornar-se um nome, ser alguém.
domingo, 8 de junho de 2014
Antes do início da copa...
O boato: tudo estava bem. Os parceiros na empreitada
juntos, falando a língua da copa das copas. O fato: tudo estava mal. Os
companheiros na empreitada brigando por
espaços na mídia e nas outras coisas menos nobres. De repente Ronaldo, o
robusto da campanha Fiat, abre a boca envergonhado e despeja parte da verdade.
Nada estava bem, dos estádios aos aeroportos chegando aos hospitais, com
reformas atrasadas e pior ainda, alguns prédios nem saíram do papel. Tudo
errado! Que vergonha, diria o craque. A presidente deu uma denta-da no moço
usando a famosa frase de Nelson Rodrigues “não temos complexo de vira-lata”...
Todos riram menos eu que não entendi a piada. Riram de alegria ou de tristeza?
Somente agora o Ronaldo descobriu que estava tudo atrasado?Os estrangeiros
perceberam antes e preferiram ficar concentrados nos Estados Unidos, onde a
estrutura era muito melhor. Fico imaginando se houve esperteza da parte
daqueles que negociaram a vinda do mundial de futebol para o país e ingenuidade
por parte do povo que comemorou, acreditando que dessa vez “como nunca na
história deste país” a coisa ia funcionar!!!!!!!!
O Brasil vai ter duas copas. Uma para a mídia mostrar ao
mundo que nunca na história deste país...
Essa é de mentirinha, com segurança e conforto para turista ver. A outra
o caos prometido pelos grupos de oposição com polícia sendo obrigada a ir por
cima dos manifestantes, mesmo. Em tempo: nem Gilberto Freyre, nem Sergio
Buarque de Holanda, nem Caio Prado, nem sociólogos ou antropólogos atuais
descreveram o caráter do brasileiro como Nelson Rodrigues, o dramaturgo
realista que apontava defeitos e qualidades desse povo. Acho que ele diria:
mesmo com o desgoverno da capitã do time o Brasil foi campeão, embora a taça
tenha sido comprada. Mas, isso não importa, não foi sempre assim? O que conta
nesse ano eleitoral é o circo montado para alegria do povo! E os votos, esses
sim de importância vital.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Problemas com aves?
- Duas coisas me
incomodam muito: os pés de galinha e o bico de papagaio.
- Você tem problema de relacionamento ou algum tipo de alergia a aves?
- Não entendi. O que
o senhor quer saber?
Ele riu.
- Ah, é uma
piadinha?
O humor inglês do
médico a irrita.
- Não tem graça
nenhuma, doutor!
Ele, sorrindo,
justifica:
- Os pés de galinha
atestam, que você já sorriu muito na vida, e uma porção de gente deve agradecer
por ter recebido seu sorriso, que, ressalte-se, até hoje é bem bonito. Se
quiser diminuir as marcas desse humor, há procedimentos dermatológicos e a
plástica... quanto ao bico de papagaio sugiro atividades físicas e mudança de
hábitos. Está disposta?
Será que
estaria disposta a correr o risco de ver seu rosto deformado, transfigurado ou
sei lá o quê? Pensou e repensou. Os pés
de galinha realmente estavam incomodando, mas mais do que eles a dor
provocada pela osteofitose, nome que ele deu ao que ela e todos que conhecemos chamam de bico-de-papagaio é que incomodava mesmo. Nesse momento começou a relacionar as duas coisas, a osteofitose é uma patologia que se caracteriza pelo crescimento anormal
de tecido ósseo em torno de uma articulação das vértebras cujo disco
intervertebral, que deveria funcionar como amortecedor entre os ossos, está
comprometida e qual a razão??? O médico explicou: surgem como consequência da desidratação do disco intervertebral, geralmente
nas pessoas com mais de cinquenta anos.
Era isso! Ostentava aquelas rugas nos olhos não por ser risonha mas porque já estava com mais de cinquenta e o bico-de-papagaio também. Simplificando e chegando à conclusão final: não tinha alergia a aves
mas estava velha.
Caminhou mais um pouco pela calçada e, de repente, tomou consciência de sua realidade: era uma velha!!!! Como estaria sendo vista pelos outros? Voltou correndo para o prédio, por sorte o elevador estava no térreo, o paciente ainda não entrara, pediu urgência para seu atendimento.
Saiu do consultório
com a data marcada para fazer um preenchimento e acabar com os pés de galinha,
o endereço de uma especialista em reeducação postural, e a promessa de enfrentar
a academia no dia seguinte.
Efetivamente nunca tivera alergia a aves, apenas profunda aversão àquelas manifestações ovíparas que acontecem
no nosso corpo.
domingo, 1 de junho de 2014
A filha do Baptista...
Tá certo a moça é bonita, culta, inteligente,
mas trabalhar com produtora cultural não parece um negócio estranho? Bom, acho
que estou ficando conservadora como ele. Isso não pode acontecer, não com meu
curriculum... Freelancer... Qual o
sentido disso? Independente, talvez. Ela fica no telefone, no Skype ou no
computador e diz que está trabalhando. Não posso duvidar, faço isso também, só
que é para uma editora. De repente entra na sala e anuncia: vou para o Rio de
Janeiro amanhã fazer uma visita técnica. Visita técnica no Rio? Um sol
maravilhoso, as praias deslumbrantes, o restaurante do Copacabana Palace: um
sonho. A moça fala em visita técnica?
Bem, ela
explicou que o tal passeio conhecido como V.T. é um recurso metodológico
aplicado ao turismo. Foi conhecer os lugares, a estrutura espacial para ter uma
visão holística do local que será o palco onde se desenvolverão as atividades
culturais dos estrangeiros que vão participar da copa do mundo. Ah, bom... como
diria o padre Beto.
Deve ter gente se perguntando por que? Eu disse
no começo a filha do Baptista é produtora cultural. Ah, bom... Sou atrapalhada
não é? A menina vai acompanhar uma seleção no torneio mundial, daí a tal da
visita técnica. O proposito da viagem era aperfeiçoar a teoria através da
prática profissional e trocar experiências com os participantes do projeto para
integração de todos. Na dúvida houve distribuição da oração de Santo Expedito
para todos rezarem muito para tudo correr bem. Mas, mesmo assim o Baptista está
com a pulga atrás da orelha. Uma jovem ao lado daquela quantidade enorme de
homens bonitos? Expliquei a ele que os moços ficam confinados em um local para
descansar e treinar. Os acompanhantes
europeus desses jogadores mais os brasileiros dessa comitiva ficam separados em
um hotel e só vão se encontrar quando houver eventos culturais, festas, etc.
Pra dizer a verdade inventei essa história, pois não sei como as coisas
funcionam, só quis deixar o pai mais tranquilo. Mesmo não professando a fé católica
vou fazer a tal oração do Santo Milagreiro todo dia e torcer os dedinhos
dizendo vai dar certo...vai dar certo...
quarta-feira, 28 de maio de 2014
Por que o Haiti está aqui?
Por Laís Azeredo Alves*, no Gusmão
A vinda de centenas de haitianos do Acre para São Paulo, nas últimas
semanas, gerou tensões sobre a questão da imigração na cidade e no país. As
discussões envolvendo os políticos dos dois estados com acusações de racismo e
irresponsabilidade não serviram para uma compreensão plena da situação, muito
menos para sua solução. O governo federal, por sua vez, permanece concedendo
vistos humanitários para os haitianos que chegam, mesmo na ausência de uma
política nacional para as migrações que reflita as necessidades atuais.
Em janeiro de 2010, um terremoto de sete graus atingiu a região de Porto
Príncipe, capital do país mais pobre das Américas. A tragédia levou à morte
mais de 300 mil pessoas e forçou outras 1,5 milhão ao deslocamento nacional e
internacional. Em 2012, um furacão atingiu novamente o Haiti, causando
mais destruição e miséria em um país cuja vulnerabilidade ambiental é reforçada
pela frágil economia, pela política instável e por números de pobreza absurdos.
O Haiti tem sua história marcada pela violência nas lutas
pela independência e pela vitória de ter sido o primeiro país do continente
americano a alcançá-la, em 1804, pelas mãos de líderes negros. A independência,
todavia, não cessou outros inúmeros problemas enfrentados pelo país, como a
instabilidade política e a luta de grupos pelo poder. Assim, a situação
econômica como país periférico tampouco foi modificada.
Entre 1915 e 1934, os Estados Unidos intervieram militarmente para
defender seus interesses. Nos anos seguintes, a instabilidade política, com a
disputa política entre diferentes grupos que gerava violência, legitimou mais
intervenções externas no país. Foram totalizadas cinco intervenções
internacionais sob os auspícios da Organização das Nações Unida (ONU) só na
década de 1990[1].
Desde 2004, o Brasil lidera uma força multinacional da ONU no país,
denominada Minustah – Mission des Nations
Unies pour la Stabilization en Haiti (Missão das Nações Unidas para a
Estabilização do Haiti). A função da Minustah é de ajudar na reconstrução e na
estabilização do Haiti, por meio da reestruturação e reforma da polícia
haitiana, do auxílio no Programa de Desarmamento, Desmobilização e
Reintegração, da restauração do Estado de direito e do restabelecimento da
segurança pública no país. Além disso, à missão cabe ainda a proteção aos
civis, ao staff da ONU, o apoio aos processos políticos e a
garantia do cumprimento dos direitos humanos no país. No entanto, é necessário
questionar se o que é colocado no papel se assemelha ao que é posto em
prática. Estudos críticos apontam que os
verdadeiros objetivos da Minustah estão voltados para um projeto de
“recolonização” do país por parte do capital transnacional, e que a ajuda
humanitária é uma grande farsa.
A vulnerabilidade do Haiti é geral: inexiste estabilidade política e
segurança pública e há crise de alimentos, escassez de água potável, falta de
infraestrutura e saneamento básico. Gabriel Godoy, oficial de proteção do
escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) no
Brasil afirma que “cerca de 55% dos haitianos viviam com menos de 1,25 dólar
por dia, por volta de 58% da população não tinha acesso à água limpa e em 40%
dos lares faltava alimentação adequada” [2].
No ano de 2012, ficou mais uma vez comprovada a instabilidade ambiental
do país: o furacão Sandy chegou no mês de outubro e provocou inundações em
áreas com esgoto a céu aberto, o que, evidentemente, facilitou a transmissão de
doenças, como o cólera[3].
Muitos haitianos permanecem no país como deslocados internos. De acordo
com a Relief Web (2014) são 172 mil pessoas,
até o final de 2013, vivendo em mais de 300 campos pelo país. Serviços básicos
nos campos – como acesso à água encanada e saúde básica [4] – não acompanham.
Portanto, se medidas de integração local, retorno ou transferência não se
intensificarem este ano, um alto número de deslocados corre o risco de
continuar vivendo em condições insalubres.
Para evitar essa situação, milhares de haitianos decidem migrar para
outras partes do mundo. Países como República Dominicana e Guiana Francesa já
faziam parte da rota de destinos frequentes dos haitianos, outros como Equador,
Colômbia, Peru, Bolívia, Chile e Argentina também se transformaram em
possibilidades para o deslocamento[5]. O Brasil também foi um destino
escolhido. A ideia de país em ascensão e hospitaleiro, além da proximidade
entre os dois povos que ocorreu com a participação de soldados brasileiros na
missão da ONU no Haiti, são alguns fatores explicativos. Outra razão são as
parcerias entre o governo, ONGs e empresas brasileiras no Haiti voltadas para o
desenvolvimento[6]. Além disso, a partir da crise econômica de 2008, os países
desenvolvidos endureceram o controle migratório, dificultando a entrada de
imigrantes[7]. É por isso que o Haiti está aqui.
Mas como o Brasil, candidato a uma cadeira permanente no Conselho de
Segurança das Nações Unidas, lida com essa nova realidade de país “em ascensão”
e destino de imigrantes que buscam melhores perspectivas de vida?
Um primeiro ponto a ser destacado é que os haitianos não são
considerados indivíduos em situação de refúgio porque, de forma geral, não se
enquadram nos pré-requisitos estabelecidos pela Convenção de 1951 e pelo
Protocolo de 1967, ou seja: indivíduos que sofrem perseguição ou fundado temor
de perseguição, violência generalizada e desrespeito aos direitos humanos. No
entanto, por se tratar de uma situação inegavelmente calamitosa e diante da
ausência de um dispositivo específico que proteja indivíduos forçados a migrar
em razão de desastres ambientais, o Brasil optou por um novo mecanismo de
acolhida, estabelecido na Resolução nº 97, de janeiro de 2012: visto
por razões humanitárias. Assim, a concessão desses vistos possibilita aos
haitianos residir legalmente no país e ter acesso a serviços públicos e ao
mercado de trabalho.
As cidades brasileiras que mais receberam imigrantes haitianos foram
Tabatinga e Manaus (ambas no Amazonas) e Brasileia e Epitaciolândia (ambas no
Acre). O caminho percorrido é, geralmente, semelhante: os haitianos passam por
países andinos, como Equador, Colômbia e Peru, até chegar ao Brasil. Em muitos
casos contam com a ajuda de atravessadores (também chamados coiotes) que cobram
para auxiliar na travessia. Os custos da viagem chegam a três mil dólares e
durante o percurso são extorquidos por policiais, roubados e sofrem violência
física, como estupros e até assassinatos[8].
A pequena cidade acreana de Brasileia encontrou-se diante de uma
situação caótica, sem infraestrutura e sem preparo, e teve que lidar com o alto
fluxo de haitianos chegando em seu território. O abrigo disponibilizado pela prefeitura da cidade enfrenta
superlotação: com capacidade para até 400 pessoas, mais de 1.240 disputam o
espaço exíguo. Sem condições de arcar com os custos dessa situação, com ajuda
insuficiente do governo nacional ( cerca de 4,2 milhões de reais foram
repassados para os serviços de assistência 1.300.000 milhão para a saúde e o
auxílio na documentação, segundo nota oficial do Ministério da Justiça), que ainda
parece não assumir sua responsabilidade, e
diante da circunstância de calamidade pública causada pela cheia do rio
Madeira, que impedia a saída de qualquer pessoa da região, o governo do Acre
fechou o abrigo de Brasileia, instalou outro em Rio Branco e encaminhou 2.200
haitianos documentados para o sul e sudeste do país. São Paulo esteve entre os principais
destinos
fonte: outras - palavras.net
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