quarta-feira, 29 de abril de 2009

ECO!....Eco!....E.c.o.! .... ...

“Nisso está o espinho do homem: ele muda, os outros não percebem" Carlos Drummond de Andrade.

Dizem alguns antropólogos que a comunicação é a característica humana por excelência, juntamente com sua causa necessária, a linguagem. Mesmo que antropólogos não caminhassem sobre a terra, alguns de nós saberíamos disso. A razão deste conhecimento atávico da essência comunicadora do homo sapiens está impregnada, tatuada na alma de alguns homens e mulheres que, angustiados pela eterna e insanável parcialidade da comunicação, temem esse inexistir que é o não fazer-se entender.

Pergunto ao universo o motivo de nosso padecer do medo e da dor do (não) entendimento. Se para alguns seres humanos – de qualquer idade – tanto lhes faz serem ou não compreendidos, para outros a impossibilidade de nomear a cor do céu num dia de sol no inverno ou o desencontro com a palavra exata a referir o brilho do olhar da pessoa amada (ou desejada), faz emergir a nítida sensação de que há coisas no mundo que, por mais viscerais, permanecerão conosco até nosso último suspiro. Oxalá me engane.

Muitos nomes – sempre os nomes – recebem estes indivíduos sedentos de compreensão. Poetas, artistas, professores, advogados, cantores, feirantes, semáforos (na Coréia do Norte é uma pessoa que diz o “pare”, “atenção” e “pode ir”). Os escritores, de verso ou prosa, manejam as palavras na tentativa de produzir a curiosidade e a atenção de seus leitores, criando com as linhas e entrelinhas as sensações e significados. Outros abandonam as palavras, e de tinta e lápis produzem as mensagens, vagas, é certo, mas tão incertos de eventual compreensão quanto a mais óbvia conta de somar. Os músicos e compositores conseguem por vezes fazer brotar lágrimas – assim como Clarice e Donizetti fizeram com Macabéa em “A hora da estrela” ao ouvir “Una furtiva lacrima” – sem nem mesmo um idioma comum entre os interlocutores. Outros, anônimos, cansados de não ser, acabam por unicamente carregar um semblante de pedido desesperado de ajuda, rezando sozinhos para que alguém com tempo entre uma reunião ou outra enxergue o desespero silencioso.

Todavia, inescapavelmente, jamais saberemos se nosso vizinho, de lado ou dianteira, estará disposto ou será suficientemente competente para nos compreender. Por mais que pretendamos fazer com que nossos amores saibam o tamanho de nosso amor, qualquer tentativa será imprestável. Por mais que avisemos, outros não saberão do tamanho de nosso medo. Iludimo-nos, bem provavelmente.

Eu, por exemplo (não sou exemplo de nada, mas agora vale), sempre fico com a pulga atrás da orelha com a sensação que os quadros de Edward Hopper (vale a pena ver) causam em mim. Jamais consegui expressar essa sensação. Não há palavras, não só pela beleza do quadro, mas pela atmosfera única, inalcançável... inútil tentar.

Mesmo estas linhas, pelas quais correm seus olhos, leitor, talvez para outro sejam inúteis, incompreensíveis, longas demais... não há como saber. De certeza, temos somente a ânsia do continuar tentando, e tentando, e tentando. É disso que trata a arte. Dessa tentativa desesperada e muitas vezes inútil.

Obrigado pelo espaço nesse pedaço do ciberespaço. E toda quarta-feira buscarei fazer-me entender (não que isso seja grande coisa...).

4 comentários:

Rosa Leda disse...

Bem vindo ao blog, T.
Seu texto está elegante, contestador e cativante. Gostei muito. Já começa com a triste verdade denunciada pelo poeta e avança com leveza por terrenos nada fáceis de pisar. Parabéns!

Janaina Fainer disse...

bem vindo
q esse seja o primeiro de muitos
bjs

Rosa Bertoldi disse...

Bem vindo e parabéns!!!

Anônimo disse...

Thiago trouxe Edward Hopper em boa hora. Elegi Edward como o pintor da solidão. Da minha solidão. Quando me sinto mais sozinha penso que Edward procurava a transformação na lei da perfeição. Amanhã será feriado; dia de rever os quadros de Hopper.