quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Humanitas...

O que faz com que alguns seres humanos insistam em viver, enquanto outros se contentam em existir? Por mais tendenciosa que a questão seja, não se pode deixá-la em silêncio.

Inevitável voltar às questões surgidas no ultimo post. Se tenho alguns argumentos em meu acanhado repertório até aqui angariado, sinto que é momento de dividi-los. E no começo (vez que o começo é sempre imprescindível, ainda que tendencioso) faço uso de Aldous Huxley. Lembrei-me do dialogo em que John, o selvagem, interpela (ou é interpelado) pelo chefe, Mustafá Mond. Nesta passagem, o selvagem, após ouvir as inúmeras qualidades e vantagens do mundo criado pelos e para os alphas, afirma: “eu quero sofrer!!!”.

Pergunto: Haveria, ou ao menos persistiria, a condição humana se estivéssemos desprovidos do sofrimento. Se estivéssemos totalmente protegidos, controlados e tutelados por uma superestrutura (cacoetes marxistas!) que nos impedisse de desobedecer e, conseqüentemente, de sofrer e de existir. Haveria o homem, o Don Quixote, o Bardo Shakespeariano, a Verônica de Paulo Coelho, ou o Santo Cristo de Renato Russo? Brecht, Becket, Tenesse Willians, Freud e Hanna Arendt?

Se me é facultado dividir uma impressão, é a de que duas coisas definem o humano: a dor e a incompletude. A dor é a conseqüência inevitável de nossa finitude, de nossa não-onisciência e da relação do homem com o imponderável. E é essa mescla com o imponderável que nos faz humanos. Portanto, a tentativa do controle não nos retira a angústia. Apenas gera a opressão. Jamais satisfação, desejo humano irmão da fome.

A confusão deste escrito não é intencional, não sendo todavia algo que me considero capaz de evitar. É fruto da mesma angústia (desejada e deliciosamente sorvida) de minha condição humana. E para completar a confusão, lanço mão de uma letra que parece condensar o sentimento de ser sufocado por algo maior e incontrolavel.

“Como beber Dessa bebida amarga

Tragar a dor Engolir a labuta

Mesmo calada a boca Resta o peito

Silêncio na cidade Não se escuta

De que me vale Ser filho da santa

Melhor seria Ser filho da outra

Outra realidade Menos morta

Tanta mentira Tanta força bruta...

Como é difícil Acordar calado

Se na calada da noite Eu me dano

Quero lançar Um grito desumano

Que é uma maneira De ser escutado

Esse silêncio todo Me atordoa

Atordoado Eu permaneço atento

Na arquibancada Prá a qualquer momento

Ver emergir O monstro da lagoa...

De muito gorda A porca já não anda

De muito usada A faca já não corta

Como é difícil Pai, abrir a porta

Essa palavra Presa na garganta

Esse pileque Homérico no mundo

De que adianta Ter boa vontade

Mesmo calado o peito Resta a cuca

Dos bêbados Do centro da cidade...

Talvez o mundo Não seja pequeno

Nem seja a vida Um fato consumado

Quero inventar O meu próprio pecado

Quero morrer Do meu próprio veneno

Quero perder de vez Tua cabeça

Minha cabeça Perder teu juízo

Quero cheirar fumaça De óleo diesel

Me embriagar Até que alguém me esqueça”

Esta, talvez, nossa síntese tupiniquim. E com méritos!

Um comentário:

Anônimo disse...

Thiago!
Parabéns!!!!
Janira