quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Enquanto isso, na videolocadora...

A busca pelo mote ideal para um texto, como já dito e repetido por mim, é uma atividade que, segundo creio, toma parte do tempo daqueles que, como eu, tem a pretensão de fazer de suas palavras algo mais do que um narrar de fatos e acontecimentos diuturnos. E ainda que vivamos numa época em que pessoas se sentam à frente do aparelho de TV para assistirem a outras pessoas do outro lado fazendo o mesmo, considero bastante irrelevante narrar aqui as agruras da vida cotidiana. Todos temos nossas próprias epopéias diárias e não entendo que as pretensões literárias se assemelhem tanto à terapia para justificar tais rompantes egoísticos. É por tais motivos que, como também já dito por mim (gente, estou me repetindo demais. Socorro!), busco sempre alguma inspiração na videolocadora. E as vezes o destino nos dá um sorriso.

Foi na última busca por vídeos comentáveis que tive o prazer de me encontrar com um disco (vejam: antes, dizer disco significava que você era do tempo do bolachão. Hoje significa que você é do DVD ou BlueRay) que há tempos havia ouvido falar mas nunca tive a oportunidade de ver. Trata-se do interessantíssimo “Pro dia nascer feliz”, de João Jardim, mesmo diretor do magnífico “Janela da Alma”. Quem não viu, veja! Merece!

Não vou entrar nas minúcias do documentário. Vou apenas dizer que o filme mostra jovens em idade escolar (na sua maioria entre 15 e 20 anos) de vários colégios espalhados pelo Brasil, das mais variadas condições sócio-econômicas. No que diz respeito ao filme em si, mais nada. Posso, visando não atrapalhar a experiência de cada telespectador em potencial, apenas relatar a minha própria.

Vê-se (pelo menos eu vi, e ainda não fui diagnosticado com nenhuma paranóia delirante) ali o retrato dos Brasis. E dos jovens desses Brasis. Vê-se o gigantismo e a multiplicidade cultural deste imenso pedaço de chão, bem como as indizíveis dificuldades de gestão que nosso tão valorizado tamanho ocasiona na repartição das verbas. O absurdo da escola do sertão de Pernambuco que espera que o MEC repasse, desde a longínqua Brasília, uma quantia anual (você leu certo: anual) de R$ 1.200,00. Vê-se a desconexão existente entre professores e alunos dos colégios estaduais do Rio de Janeiro, onde o concorrente é o traficante, que mantém a boca de fumo à 200 metros da escola. Vê-se o relato dos professores que, já desiludidos com a própria profissão, assistem aos alunos e alunas que somente fazem da escola um ambiente de paquera e de festa. Vê-se que o grande inimigo da escola é o mundo lá fora, ou seja, tudo que a orbita.

Contudo, e felizmente, vê-se também que a humanidade, por mais que contra ela se aposte, vira e mexe passa a perna nos que já lhe fazem fama de defunta. Pois vê-se casos como o de Valéria que...bem, não dá pra contar. Merece ser visto. Merece ser admirado e aplaudido.

Caso seja de interesse dos eventuais leitores, procurem ainda o aclamado “Entre os muros da escola”, vencedor de Cannes em 2008. Os dois filmes, caso vistos em conjunto, traçam uma curiosa linha de grande valia para todos que, como eu, tem alguma relação com a educação, em quaisquer níveis (e, no fundo, todos temos que ter relações com a educação, pois não fazê-lo é ser por demais parcial).

Abraços e bom resto de semana.

Um comentário:

mourinoul disse...

desencana meu caro, seu happening literário é mt bom! hehehe

vc ja tinha dito do "entre os muros da escola". vou lembrar agora e assistir.

abração ae!