sábado, 16 de janeiro de 2010

A casa dos Rasi: Reminiscências

Li uma mensagem deixada por Edson Aran, no setegrausdeseparação... Pode ser o autor de verdade, pode ser brincadeira de algum amigo. De qualquer maneira obrigada, pois o fato me levou para uma espécie de túnel do tempo. Recriar algo com palavras equivale a viver duas vezes, dizia um poeta chinês há muitos séculos atrás. Espero que esse texto seja um mapa para recordações em relação à família Rasi. São minhas lembranças...
Memória, que em sentido amplo pode ser conceituada como a retenção de qualquer aprendizagem. Uma expressão cobrindo o objeto de evocação ou reconhecimento, de acordo com o filosófo Henri Bergson. No meu caso, lembranças de um tempo quase perdido nas brumas do passado, antes do sucesso do filho do “seu” Oswaldo, o teatrólogo Mauro Rasi.
Impaciente e aflita aguardava a vinda de uma criança. Meu filho, o Kinho, era um garoto levado e eu desejando uma menina, que se revelou igualmente arteira e atende pelo apelido de Naná. Durante a gravidez costumava nadar na piscina de Pérola comendo as frutas roubadas do quintal do vizinho, talvez por isso minha filha goste tanto de goiabas.
Reminiscências... a despedida com um concerto de piano, do garoto de 16 anos que saiu de Bauru para estudar no exterior. O retorno com uma peça encenada na cidade de São Paulo. A ida para o Rio de Janeiro. Seus famosos gatos. Os comentários da família, dos amigos, o Mauro tornando-se conhecido. Mas, o casal Rasi levava a vida de sempre. Portas abertas aos amigos, um entra e sai, um banho de piscina nos dias quentes, os bate-papos nos dias frios, enfim convidados em férias em busca do prazer de uma boa conversa.
O dia de Natal chuvoso antecipando janeiro quente, o aroma da cozinha de Pérola e o sabor dos licores do Wado, um licor de laranja... Essas alegrias intensas compondo o prazer de aprender a viver um outro tipo de vida, o dia a dia do interior, pois eu estava retornando à cidade após longo período na capital. O Marcos Frota vindo a Bauru para pesquisar. Ele seria o jovem Mauro em uma peça. Lembro-me ainda do telefonema da Pérola pedindo que fosse a sua casa levando Betina Massad, pois ela estava escrevendo um trabalho acadêmico sobre a produção teatral de Mauro Rasi. Vera Holtz, ao encarnar Pérola, perguntando se balançava a sandália como à verdadeira mãe do autor do texto, estrelado por ela. Bergson está certo, memória é evocação e reconhecimento.
Lembro-me de “seu” Rasi puxando uma cadeira e sentado inspecionava o belo quintal de flores e frutos. A piscina azul cor do céu ou seria cor do mar? A casa com sacada de ferro no segundo andar, de onde suponho, Mauro sonhou ser o Sartre bauruense. As venezianas azuis, ou verdes? Enfim, um lugar e como lugar, naturalmente nunca seria neutro. Exerceu influência sobre o teatrólogo e todos aqueles que por lá passaram... Um lugar onde se esbanjava cultura, um posto privilegiado para se olhar uma Bauru ainda provinciana, uma cidade serena. Ao volver meu olhar para esse passado, penso em um paraíso perdido de sombras azuis angulosas e abruptas com uma pureza euclidiana, esquecido ou guardado no baú da memória.

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