sábado, 30 de janeiro de 2010

Uma Praga... um Kafka

Conheci a obra de Kafka aos quinze anos através do livro Cartas a Milena. Devagar fui lendo toda sua produção. Acho que uma das razões por nunca ter desejado conhecer Praga foi ler Kafka. Como eu trabalho demais e estava mortamente cansada, há pouco tempo decidi descansar e escolhi Paris para isso. Queria rever a cidade onde morei durante um curto período para terminar meu mestrado. Minha filha fez uma contraproposta: uma visita à Praga. Contei para os leitores como foi chegar lá, então não vou repetir: uma maratona. Mas, a partir do aeroporto tudo começou a dar certo, graças a um carioca, professor de dança, que viva lá há uns quatro anos.
Praga/Kafka, Kafka/Praga essa sempre fora minha associação. E não é que apareceu aqui em casa um livro de Jeannette Rozsas, de titulo Kafka e a marca do corvo? Vocês devem ter percebido que procuro ler autores novos. Gosto de novidades, e as surpresas são sempre agradáveis. Trata-se de uma biografia romanceada de Franz.
Jeannette descreveu com precisão a Praga de ontem, que é a mesma de hoje. Foi um passeio e tanto. Não preciso dizer que quando estive lá, o primeiro lugar a ser visto foi o bairro judaico e sua velha sinagoga. Acho que levei uns três dias para criar coragem e visitar o castelo. Quem não se lembra do livro de Kafka sobre de titulo O Castelo?
Embora para mim o mais impressionante ainda seja O Processo. Descobri com ela que Kafka era advogado por formação. Estranho, eu nunca imaginei... mas faz sentido. Ele pertencia a uma rica família e seu pai precisava de alguém para tocar seus negócios e quem mais apropriado senão o próprio filho? Kafka era judeu de sangue e mesmo passando pelos rituais próprios do judaísmo, foi ateu por um bom tempo. Porém, adulto começou a perceber que a religião que seu pai seguia não tinha semelhança com os escritos da Tora e talmude e iniciou seus estudos sobre cultura judaica tendo aprendido hebraico e iídiche. Nasceu e viveu grande parte de sua vida em Praga, capital da Bohemia, mas os intelectuais e as classes altas falavam alemão, então suas obras foram escritas nessa língua. Era o idioma oficial do Império Austro-húngaro. Se você buscar informações sobre ele vai descobrir que é “o maior escritor de língua alemã do século XIX”. Estranho, não é?
Só para vocês perceberem a contradição: quase toda a família Kafka morreu em campos de concentração. Mas, de volta ao passado, não dona Rosa. Pra gente é que se anda... hum... acho que é plágio!
Uma curiosidade: Jeanette chamou seu livro de: Kafka e a marca do corvo. Kafka em tcheco é corvo. Parece que o aspecto negativo que tem o animal é coisa do Ocidente, embora uma ou duas vezes Kafka tenha se referido a isso. No caso dele deve ser por causa do Romantismo, que tinha a ave como de mau-agouro, porém em outras localidades como China, Japão e outros países orientais ela é símbolo de gratidão filial.
Uma gratidão que só foi despertada em Kafka no final de sua vida, após conhecer e viver algum tempo em Berlim, ao lado de Dora, o último amor de sua sofrida vida. Em tempo: Praga é uma cidade maravilhosa, mesmo com uma sensação térmica de -20 graus e sua neblina que só desaparece umas 10 horas da manhã para reaparecer às 16 horas, quando o relógio da praça centenária, religiosamente toca para chamá-la, e a noite cai de novo. Mas, o dia não termina aí, a cidade é cheia de bares e cafés e bons restaurantes que aquecem até turista brasileiro que odeia frio.

2 comentários:

Rosa Leda disse...

Como gosto de sua escrita!Então Praga não é uma praga?rsssss...Sobre corvos, segundo reza a lenda, dos corvos depende o futuro da monarquia britânica. parece que tem algo a ver com o fato de o Rei Artur se ter transformado em corvo! Por isso, são cuidadosa e ciosamente guardados numa enorme gaiola na multisecular e vetusta Torre de Londres!Não tem muito a ver com seu texto mas, sei lá, deu vontade de contar...Beijo!

Rosa Bertoldi disse...

Como não tem nada com meu texto? (alias com alguns errinhos, pois foi escrito correndo)E droga, com a nova ortografia do presidente analfabeto, eu nem sei mais onde colocar assento, ponto, virgula, uma vergonha.Mas, não adianta chorar, como diz o proverbio popular.
E sim Praga é linda, merece uma visitinha de pelos menos alguns dias. Não só lojas de luxo, mas as feiras populares da cidade são uma jóia. Artesanato lindo!!!!!!