Fui indelicada ao partir sem me despedir, desculpem!
Cheguei há dois dias e ainda estou naquela confusão de quem fica fora muito tempo. Não só o longo tempo nem os fusos horários me deixaram assim, mas tudo o que vi e senti. Nunca voltei tão esquisita.
Primeiro Londres com neve, chuva e a temperatura de gelar cerveja que me deixou com rodelas vermelhas nas bochechas, metrôs super aquecidos e a agitação típica de dezembro: milhares de pessoas, vitrines, ruas decoradas e pacotes, muitos pacotes. Corais aos cantos em cantos inesperados, bandas jovens com velhos instrumentos e idosos joviais assoprando as mãos para aquecê-las ao final das execuções, Covent Garden com artistas mambembes e sebos, músicos eruditos e modelos exclusivos recendendo a comidinhas gostosas. Carnaby, London Eye – a roda gigante gigante, Big Ben, Harrods, Mark & Spencer, etc.
Tudo isso talvez tenha contribuído para deixar o resto do tempo mais confuso. O destino era Índia.
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Descendo em Mumbai poderia começar a conferir tudo isso.
Vi, na verdade, um país em obras pois em outubro sediará as Olimpíadas da Ásia. Várias cidades construindo metrô ou ampliando a rede, estádios, avenidas amplas, colocação de tubulação para esgoto, etc.
Então a Índia é uma maravilha? Não!!!
Há tanta pobreza, mas tanta, que não dá para falar. O comerciante que tem sua banca de verduras, à noite se enrola nos trapos e dorme na banca! Em cima das tábuas. O dono do riquixá que pedalou o dia todo no trânsito completamente louco descansa o corpo exausto no seu veículo. É ali que ele mora! Toma banho? Escova os dentes? Tem outra roupa? Onde guarda? Terá um livro, um papel, uma foto, um documento? Onde? Um me disse que o que tinha guardava ali, embaixo do banco...
Há algo belo nisso? Há. O respeito que um tem pelo outro. Esse homem não é molestado, assassinado, roubado, enquanto adormecido. Ninguém rouba o riquixá deixando seu corpo numa valeta.
Então não há violência? Há. Mas todos passam no templo pela manhã e rezam para os deuses lhes darem um bom dia e para serem bons. Têm sua testa marcada em preto, amarelo ou vermelho e ostentam essa marca o dia todo para se lembrarem de sua oração e do pedido para serem pessoas boas.
Então é uma maravilha? Não... é um caos, uma loucura.
Horas e horas de conversa não me fariam explicar o que vi e senti. Talvez na semana que vem tenha compreendido alguma coisa e possa escrever mais coerentemente.
3 comentários:
BEM VINDA!!!!!!!!!!! Eu acho que vc é a pessoa mais corajosa que conheço, eu jamais pisaria meus pés na terra de Gandhi.
Bjs
Rosa Bertoldi
eu acho q até iria um dia
mas antes tenho muitos outros lugares prioritário
bjs e bem vinda de volta
Manter a coerência crítica mesmo em tempos (já extintos, graças a Deus)de super exposição de uma Índia glamourizada e ilusória em horário nobre na TV; sem perder a
sensibilidade da observação prazerosa e do contato com o real é o maior trunfo em sua narrativa. Acompanho atento e interessado, as linhas que virão.
Sou, afinal, um velho fã!
Bjo.Jair Marangoni
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