segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

VOLTEI

Rosa Bertoldi fez o maior oba-oba na minha ausência... Encarregou-se de contar novidades, mostrar os Contos de Solidão e o texto que Janira escreveu. Achei isso muito legal, assim vocês não esqueceram de mim. Imagine se ficaria brava... eu adorei!
Fui indelicada ao partir sem me despedir, desculpem!
Cheguei há dois dias e ainda estou naquela confusão de quem fica fora muito tempo. Não só o longo tempo nem os fusos horários me deixaram assim, mas tudo o que vi e senti. Nunca voltei tão esquisita.

Primeiro Londres com neve, chuva e a temperatura de gelar cerveja que me deixou com rodelas vermelhas nas bochechas, metrôs super aquecidos e a agitação típica de dezembro: milhares de pessoas, vitrines, ruas decoradas e pacotes, muitos pacotes. Corais aos cantos em cantos inesperados, bandas jovens com velhos instrumentos e idosos joviais assoprando as mãos para aquecê-las ao final das execuções, Covent Garden com artistas mambembes e sebos, músicos eruditos e modelos exclusivos recendendo a comidinhas gostosas. Carnaby, London Eye – a roda gigante gigante, Big Ben, Harrods, Mark & Spencer, etc.
Tudo isso talvez tenha contribuído para deixar o resto do tempo mais confuso. O destino era Índia.

Sentia-me preparada para ver e sentir o país, mas não estava. Os conselhos e recomendações haviam tirado meu sono. Não use sandálias! As ruas têm muita porcaria no chão e provavelmente você irá escorregar num cocô, melhor ir com tênis ou bota. Não coma nada cru! Minha mãe teve uma gastrenterite terrível! Não tome refrigerante com gelo dentro, o gelo pode estar contaminado! Não cruze as pernas, é o mesmo que falar um palavrão, os pés são impuros e se você apontar para um indiano ele se sentirá muito ofendido! Não mostre os ombros, braços e colo, é falta de respeito! Nunca toque ninguém com a mão esquerda!
Descendo em Mumbai poderia começar a conferir tudo isso.

Vi, na verdade, um país em obras pois em outubro sediará as Olimpíadas da Ásia. Várias cidades construindo metrô ou ampliando a rede, estádios, avenidas amplas, colocação de tubulação para esgoto, etc.

Então a Índia é uma maravilha? Não!!!
Há tanta pobreza, mas tanta, que não dá para falar. O comerciante que tem sua banca de verduras, à noite se enrola nos trapos e dorme na banca! Em cima das tábuas. O dono do riquixá que pedalou o dia todo no trânsito completamente louco descansa o corpo exausto no seu veículo. É ali que ele mora! Toma banho? Escova os dentes? Tem outra roupa? Onde guarda? Terá um livro, um papel, uma foto, um documento? Onde? Um me disse que o que tinha guardava ali, embaixo do banco...

Há algo belo nisso? Há. O respeito que um tem pelo outro. Esse homem não é molestado, assassinado, roubado, enquanto adormecido. Ninguém rouba o riquixá deixando seu corpo numa valeta.

Então não há violência? Há. Mas todos passam no templo pela manhã e rezam para os deuses lhes darem um bom dia e para serem bons. Têm sua testa marcada em preto, amarelo ou vermelho e ostentam essa marca o dia todo para se lembrarem de sua oração e do pedido para serem pessoas boas.

Então é uma maravilha? Não... é um caos, uma loucura.

Horas e horas de conversa não me fariam explicar o que vi e senti. Talvez na semana que vem tenha compreendido alguma coisa e possa escrever mais coerentemente.

3 comentários:

Rosa Bertoldi disse...

BEM VINDA!!!!!!!!!!! Eu acho que vc é a pessoa mais corajosa que conheço, eu jamais pisaria meus pés na terra de Gandhi.
Bjs
Rosa Bertoldi

Janaina Fainer disse...

eu acho q até iria um dia
mas antes tenho muitos outros lugares prioritário
bjs e bem vinda de volta

Unknown disse...

Manter a coerência crítica mesmo em tempos (já extintos, graças a Deus)de super exposição de uma Índia glamourizada e ilusória em horário nobre na TV; sem perder a
sensibilidade da observação prazerosa e do contato com o real é o maior trunfo em sua narrativa. Acompanho atento e interessado, as linhas que virão.
Sou, afinal, um velho fã!
Bjo.Jair Marangoni