domingo, 4 de abril de 2010

Pessach

Sei que nossa amiga Rosa Bertoldi, já comentou mas não tenho como deixar passar em branco...

No finalzinho e março e começo de abril os judeus de todo o mundo comemoram Pessach. Pass over, em inglês, a passagem: a páscoa judaica. A festa cristã tem sua origem aí, mas tem conotação diferente. Para o cristianismo, a Páscoa representa a morte e ressurreição de Jesus, enquanto Pessach lembra ano após ano a saída do povo hebraico escravizado no Egito. De acordo com a tradição, a celebração da primeira Pessach se deu há 3.500 anos, quando Deus enviou as dez pragas sobre o povo egípcio. É importante notar que Pessach significa a passagem do anjo da morte e não a passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho, apesar do nome evocar vários simbolismos. Para quem viu o filme Os dez mandamentos, mas não se lembra, trata-se da noite da morte do primogênito de cada casa que não estivesse marcada com sangue de cordeiro, daí o nome passagem. O anjo não entrava no local demarcado, passava. Foi após essa praga que o faraó deixou os judeus partirem. Aqui outra cena célebre quando os hebreus conduzidos por Moisés atravessam o Mar Vermelho que depois se fecha.
É uma festa lembrando os anos de cativeiro para festejar a liberdade. Foi naquele momento, na saída da escravidão e anos de peregrinação no deserto até a chegada a Israel, que os judeus se tornaram um povo e a sêder, a ceia de Pessach simboliza isso tudo. Na mesa, tem-se água salgada, lembrando as lágrimas vertidas, charosset, uma espécie de geléia de cor amarronzada feita à base de maçã, nozes, tâmaras e vinho rememorando as construções de tijolos erguidas pelos escravos hebreus no Egito, ervas amargas, para não se esquecer o amargor da escravidão e racismo presentes ainda hoje no nosso cotidiano, matzá, o pão ázimo, sem fermento, osso queimado para lembrar o cordeiro do sacrifício, ovo cozido, símbolo de que a vida é feita de altos e baixos e ervas verdes, lembrando o renascimento, a esperança.
Esperança que nunca morre e que também está presente na taça de vinho deixada ao profeta Elias. Na eterna esperança por um mundo melhor. Em Israel, Pessach acontece na primavera, quando após a latência vem o momento de expansão, de crescimento, de criatividade.
Com o caos a nossa volta, expostos a todo tipo de provação, a única pergunta que me passa pela cabeça é se alcançamos o ponto máximo de stress e violência que a humanidade pode tolerar ou se realmente ainda vamos piorar. E se um dia, deixando a porta aberta, Elias chegará com boas novas trazendo consigo um entendimento melhor de uns aos outros.
Na América, depois que uma criança de seis anos atirou em uma coleguinha não há mais como ver saída. Em Israel, o desencontro está instalado há muito. No Brasil, a corrupção e o descaso pela humanidade é um clássico eterno.
Então, como pregar a justiça social, um mundo mais justo, a busca pela paz? E como acreditar em paz ao som de tiroteios?
Acreditando. Assim como somos capazes de acreditar e perdoar entes queridos, amigos e amantes que erram. Simples assim, não deixando de ter fé, de acreditar que sim, um dia desses, seremos capazes de reformar esse mundo em um melhor.
Aproveite Pessach, não importa qual sua religião e faça uma transformação inesperada. Pequena, média ou grande, não importa. Aproveite que parte do mundo está enviando ao planeta essa energia magnífica de mudança e mude também.

Um comentário:

Rosa Leda disse...

Esse ritual é lindíssimo e tão cheio de significados! Obrigada.