terça-feira, 30 de setembro de 2008

“Que você seja inscrito no Livro da Vida”


Sim, eu desejo de coração que o destino de todos vocês seja registrado por D'us no Livro da Vida. Essa é a saudação mais comum, a partir de hoje na comunidade judaica. Dia 30 de setembro/ Rosh Hashaná, corresponde ao primeiro dia do ano 5 769. Com início previsto para o por do sol de hoje, ou seja: ao se avistar a primeira estrela no céu, estarei vivendo em um novo ano. A festa deve durar dois dias para garantir que coincida com a data em Israel, pois o calendário judaico é regido pela lua.
O jantar de ano novo é composto de comida tradicional como bolinho de peixe com molho de cogumelos, patê de fígado de galinha, arenque???? Onde vou encontrar aqui em Bauru? Aquele pão branco redondo... Vinho, essa é a melhor parte para a autora dionisíaca, amiga de vocês. Escrevendo assim pareço alcoólatra.
Dez dias depois acontece o Yom Kimpur/dia do perdão. Nesse ano vou pedir perdão ao meu amigo Litto. Certa vez, fiz uma solicitação – quase impossível – a ele nesse dia. Além do pedido, a maldade maior foi lembrá-lo do dia. Mais alguma coisa inconfessável? Desejar boa viagem sabendo do destino: Israel. Eu não sou uma boa pessoa, sei disso.
Se arrependimento matasse... mas, conforme reza a tradição uma parte importante do serviço do Yom Kimpur são as confissões para refletir sobre as más ações. Confessá-las verbalmente, é parte do arrependimento formal ao pedir o perdão. Litto, “somos culpados”. Esses pedidos são sempre feitos no plural. Não me perguntem por que. Ou melhor, vou dizer, a comunidade/união com o todo é parte importante na vida judaica. Então, Litto perdoe-me, se puder...e “que você seja inscrito no Livro da Vida”.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O bom ladrão

O desânimo pela falta de trabalho rapidamente desapareceu depois que o telefone tocou. Uma nova encomenda foi pedida e ele saiu para procurar a mercadoria. Rodou durante mais de 40 minutos até encontrar o Monza 94, a álcool, parado próximo à agitada avenida de bares e restaurantes.

Parecia que o carro estava esperando por ele. Quando o viu, os velhos sintomas surgiram e o fizeram sentir-se vivo novamente. O coração passou a bater mais forte e rápido, suas mãos se tornaram úmidas e a garganta secou. Não pôde conter a excitação e disse em voz alta, como se quisesse avisar o carro. “Finalmente chegou sua hora. Logo, deixará de ser essa desprezível lata-velha e sua vida se prolongará em inúmeros outros carros.”

Rapidamente olhou ao seu redor e, com uma agilidade que deixaria seu pai orgulhoso, abriu a porta e deu partida no motor. Sem demora, saiu ,tranqüilamente, rumo à velha oficina onde transformaria a encomenda em dezenas de peças.

Depois de dirigir por alguns minutos, ouviu um barulho que vinha do banco de trás. Não acreditou no que viu! Teve que voltar a cabeça para trás várias vezes e ter a certeza de que sua visão não estava distorcida. Os sintomas de minutos atrás tinham voltado de forma tão intensa, que não podia raciocinar direito. Estava dominado pela surpresa e buscava encontrar uma explicação lógica para o que via. Afinal, nunca, em tantos anos de função, havia “achado” uma criança dormindo tranquilamente no banco de trás de uma encomenda.

“Só levo encomendas!! Não mexo com gente! O que esse moleque está fazendo aqui? Quem foi o filho da mãe que largou o menino aqui?” Estava transtornado, sem saber o que fazer.

Continuou dirigindo por mais 20 minutos, tempo que levou para decidir o que fazer. Imaginou onde poderiam estar os pais da criança. “Além de atrapalharem meu trabalho, são verdadeiros ladrões! Estão roubando a infância do moleque!” Pensava nisso sem parar.

Decidiu que teria que devolver o moleque e, com ele, a encomenda. Isso iria lhe custar caro. Não podia deixar o mercado desabastecido, ainda mais em tempos de crise. “Filhos da mãe!!” Resolveu avisar a polícia. E assim o fez. Queria fazer uma denúncia formal, mas não podia, afinal, não tinha tempo a perder. Discou 190, informando o que havia acontecido, onde encontrar o carro com a criança, e, com energia, “ordenou” que punissem os verdadeiros ladrões, os pais que abandonaram o filho.

domingo, 28 de setembro de 2008

Mamma Mia

Depois de três dias de trabalho em semi confinamento com o mundo, a liberdade. E no primeiro momento de liberdade, Mamma Mia. Juro que nem estava asssim tão com vontade de ver o filme mas quer saber? É bacana. Mas só para quem gosta de Abba porque senão, dançou. Literalmente o filme é meio sem pé nem cabeça e é bem engraçado ver e Meryl Streep e o Pierce Brosnan cantando e dançando... mas é Abba e Abba é por tradição o máximo da cafonice e tudo é perdoado e você fica sentadinho querendo sair pelo cinema berrando e dançando Dancing Queen com um monte de estranhos.
Se o filme é bom? Não, mas vale pelos 108 minutos de Abba e fantasia pura.



Amanhã é véspera de Rosh Hashaná, o ano novo judaico abaixo segue lista de alimentos simbólicos ingeridos na refeição da primeira noite de Rosh Hashaná... Shaná Tová a todos e que 5769 seja um ano doce.

Maçã
Mergulhamos uma fatia de maçã doce no mel, recitamos a bênção da fruta (Borê Peri Haêts) e falamos: "Yehi ratson milefanêcha shetechedêsh alênu shaná tová umetucá".
"Possa ser Tua vontade renovar para nós um ano bom e doce ".

Chalot
As chalot servidas em Rosh Hashaná são redondas, símbolo de continuidade e eternidade, como o círculo que não tem começo nem fim; sem ângulos, nem arestas, um pedido para um ano sem conflitos. Costuma-se mergulhar o pão no mel em vez do sal habitual, em todas as refeições desde Rosh Hashaná até o sétimo dia de Sucot.

Mel
O valor numérico da palavra "dvash" (mel) equivale ao valor de "Av Ha'Rachamim" (Pai Misericordioso): assim o mel representa a esperança de que a sentença decretada pelo Supremo Juiz seja amenizada pela Sua compaixão

Frutas e alimentos especiais
É costume comer carne e vinho doce ou qualquer bebida doce nesta refeição, para ter um ano farto e doce.
Na segunda noite de Rosh Hashaná, imediatamente após o kidush, costuma-se ingerir uma fruta nova, a primeira vez que comeríamos nesta estação, a fim de pronunciarmos a bênção de Shehecheyánu.
Há quem costume recitar uma prece especial (Yehi ratson) antes de ingerir qualquer um dos seguintes alimentos. Conforme o costume Chabad, Yehi ratson só é recitado ao ingerir a maçã com mel.
Os sefaradim colocam no centro da mesa uma cesta (Traskal) contendo diferentes espécies de frutas que contém muitas sementes, para que as boas ações sejam numerosas no ano vindouro além de alimentos especiais entre os quais maçã, alho poró, acelga, tâmara, abóbora ou moranga, feijão roxinho, romã, peixe e cabeça de carneiro (que pode ser substituída por língua de boi ou cabeça de peixe). Antes de ingerir cada um dos nove alimentos recita-se um "Yehi Ratson" especial:

Alho-Poró
"Yehi Ratson milefanêcha sheyicaretu oyvêcha vessoneêcha, vechol mevacshê raatênu".
"Possa ser Tua vontade que sejam exterminados Teus inimigos e Teus oponentes e todos aqueles que querem nosso mal".

Acelga
"Yehi Ratson milefanêcha sheyistalecu oyvecha vessoneêcha, vechol mevacshê raatênu".
"Possa ser Tua vontade que sejam removidos Teus inimigos e Teus oponentes e todos aqueles que querem nosso mal".

Tâmara
Costuma-se ingeri-la para que acabem nossos inimigos (em hebraico, yitámu, parecido com tamar).
"Yehi Ratson milefanêcha sheyitámu oyvecha vessoneêcha, vechol mevacshê raatênu".
"Possa ser Tua vontade que sejam consumidos Teus inimigos e Teus oponentes e todos aqueles que querem nosso mal".

Abóbora, moranga ou cenoura
A palavra "mern", em yidish, pode ser traduzida como "cenoura" e também como "se multipliquem". Por isto comemos cenoura - para que os méritos se multipliquem.
"Yehi Ratson milefanêcha sheticrá rôa guezar dinênu, veyicareú lefanecha zechuyotênu".
"Possa ser Tua vontade que o decreto ruim de nossa sentença seja rasgado em pedaços, e que nossos méritos sejam proclamados perante Ti".

Feijão roxinho
"Yehi Ratson milefanêcha sheyirbu zechuyotênu".
"Possa ser Tua vontade que nossos méritos se multipliquem".

Romã
Costuma-se ingerir em sinal para que aumentem nossos méritos como os caroços da romã. Há uma explicação que a romã possui 613 caroços - o número das mitsvot da Torá.
"Yehi Ratson milefanêcha sheyirbu zechuyotênu carimon".
"Possa ser Tua vontade que nossos méritos cresçam em número como [as sementes] da romã".

Peixe
"Yehi Ratson milefanêcha shenifrê venirbê cadaguim; vetishgach alan beená pekichá".
"Possa ser Tua vontade que nós nos frutifiquemos e nos multipliquemos como peixes; e cuida de nós com olho aberto [atentamente]".

Cabeça de carneiro, língua ou peixe com cabeça
Costuma-se ingerir um destes alimentos para que sejamos cabeça e não cauda:
- de carneiro, para lembrar o mérito do sacrifício de Yitschac que foi substituído por um carneiro.
- de peixe, para que o ser humano se multiplique como os peixes.
"Yehi Ratson milefanêcha shenihyê lerosh velô lezanav".
"Possa ser Tua vontade que sejamos como a cabeça e não como a cauda".

Ingredientes que devem ser evitados
Não se come nada temperado com vinagre em Rosh Hashaná ou raiz forte para não ter um ano amargo. Nozes também não devem ser ingeridas nestes dias. Um dos motivos é porque as nozes provocam pigarro que pode atrapalhar as orações do dia; outro motivo é que o valor numérico da palavra egoz (noz) corresponde ao da palavra chet (pecado) sem o alef.

sábado, 27 de setembro de 2008

Kassab 25


Apesar de não estar acompanhando e de estar DESESPERADO por não poder votar no dia do primeiro turno das eleições porque prá variar vou estar viajando e cometi a cagada de marcar um vôo no sábado antes das eleições, tenho de admitir que esse ano promete... Parece que o mundo todo está em debate para novas administrações. O Brasil está num nível mais baixo, elegendo prefeitos, mas também é um momento diferente dos passados. Novos personagens, velhos caras-de-pau... mas acho que coisas boas podem sair disso.

É a primeira vez que o PT como situação tem realmente coisas positivas a mostrar na administração federal e pode influenciar resultados no nível mais baixo. 

No entanto, qualquer um que saiba ler e tenha o mínimo de senso sabe que nada do que está acontecendo de bom tem a ver com o PT e sim com o fato de que nada de novo foi alterado em relação ao passado. Simplesmente garantiram continuidade...o que não é mais do que sua obrigação.

Mas como não tenho estado muito tempo no Brasil, tenho pouco acompanhado as coisas por aí. Óbvio que votaria no KASSAB em São Paulo porque sou filiado ao Democratas e porque simpatizo e confio no cara.

Aliás, recomendo a todos o novo livro do Reinaldo Azevedo, "O País dos Petralhas" (lembram dos Irmãos Metralha de Walt Disney, não?), que segundo o vendedor da Livraria Cultura é o "Lançamento editorial do segundo semestre de 2008" (super oportuno, não acham?).  

Enfim...estou lamentando não poder participar disso tudo e ter de ficar de olho em debates de Obama e McCain e não ter oportunidade de ver Martaxa-botox-adúltera-relaxa e goza Suplicy falar seus absurdos...
Gosto da Soninha, mas acho que essa coisa idealista não tá com nada...é perda de tempo e não vence eleições, vamos admitir. O Maluf é deprimente. Chega a dar pena. O Alckmin perdeu o fi0 da meada e deveria mudar a abordagem. Os outros pequenos eu não tenho a menor idéia de quem são. Sobrou quem? O Kassab que, apesar de eventualmente falar uns absurdos - vejo o Kassab como o Hamilton na F1. Tem talento prá caramba, mas comete uns erros absurdos, tipo avançar no sinal vermelho - é realmente meu favorito.

Li recentemente num blog que frequento que não se escuta as pessoas em São Paulo debatendo as eleições, o que não é bom. Tenho de concordar. Estou até mesmo surpreso porque ando convivendo muito com norte-americanos e para um país onde o voto não é nem obrigatório, o debate está imenso. Não se passam muitos momentos sem que o assunto seja discutido, enquanto por aí as coisas estão meio mornas.

Mas é isso... Na verdade, quis somente colocar o assunto em pauta. Ninguém fala de política normalmente, mas eu, apesar de minhas opiniões um pouco extremistas, acho  importante que o tema não seja esquecido.

KASSAB 25

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

essa quinta, não

desculpe-me.

mas as palavras escapam entre os dedos. caem no chão. e quebram.

milhões de sentidos espalhados pelo vento frio.

alguns peguei de volta.

tô colando. uso até superbonder. cuspe se for preciso.

mas as palavras não ganham forma.

hoje, não.

quem sabe quinta que vem.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Loucos e Santos



Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Vatapá...


"Quem quiser vatapá, ô
Que procure fazer
Primeiro o fubá
Depois o dendê
Procure uma nega baiana, ô
Que saiba mexer
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Amendoim, camarão, rala um coco
Na hora de machucar
Sal com gengibre e cebola, iaiá
Na hora de temperar
Não para de mexer
Que é pra não embolar
Panela no fogo
Não deixa queimar
Com qualquer dez mil reis e uma nega, ô
Se faz um vatapá
Que bom vatapá"


A música é de Dorival Caymmi. O vatapá ao qual me refiro é o da Janira. Vatapá: prato típico da Bahia, com influência africana. Chegou ao Brasil com a feijoada e os escravos. No seu preparo entram, dentre outros ingredientes, o peixe, o camarão, o gengibre, o tomate, o leite de coco, a castanha de caju e camarão seco moídos. Para Caymmi, tem de mexer pra não embolar...
Para quem não sabe, Janira é mãe da Janaina, a menina dos domingos. Ela é minha amiga há muitos anos. Tão diferente de mim. Estranho, não é?
Ela é arrumadinha, cabelo chanel e reflexo retocado todo mês. Preocupada com moda, decoração, design, coisas da profissão. Séria, com fama de intelectual, mas tão mundana. Mesmo assim, tão mãe. Quer dizer, vamos perguntar para os filhos dela, começando pela coleguinha do domingo.
Meio hippie, o dr. Flávio, meu dentista, jura que sou maconheira, não sou. Gosto de velhos abrigos e bermudas cortadas, sem barras, sandálias de plástico. Tenho um vestido indiano de estimação beirando os trinta anos. Ela é colunável, aparece no jornal dia sim, dia não. Eu quero ficar escondidinha no meu canto.
Bom, tudo isso para contar sobre o convite para comer um vatapá na casa dos Bastos. As coisas fervem por lá, dizem. Eu não vi nada disso. Só uma porção de gente ligada à política e a cultura, muito à vontade. Ju Machado e Lu Gonçalves, inclusive. Elas dispensam apresentação, mas como só o Thiago Roque esteve por aqui, vou contar: Ju é a mulher das artes, com galeria e tudo, Lu é produtora, a maior produtora de eventos culturais, que conheço. Costumam chamá-la de menina do dedo verde, pois onde ela põe sua mão a coisa floresce. De acordo com a Janira, no vatapá dela não vai fubá, nem amendoim, então, talvez, sejam licenças poéticas do Caymmi. Eu esperava que oferecessem uma cachaça, porém, a bebida era vinho. Nem me atrevi a pedir cerveja, alguém podia se ofender. Cerveja, sei lá...
Comi vatapá na Bahia e não era nada parecido com a delicia servida naquela noite. De acordo com os anfitriões, a receita foi fornecida há alguns anos pela mulher baiana do poeta Nidoval Reis. Trata-se da verdadeira comida da Bahia, aquela da Dadá e outras cozinheiras famosas, que passaram pelas casas do Antonio Carlos Magalhães e de Jorge Amado. Um maná dos deuses, mesmo. O Jair falou em festa da Babette. O creme de acaçá foi feito pelo Marcelo Garcia, sim, ele mesmo, o paisagista poliglota.
Mas, vamos falar sério. A reunião estava ótima. As entradas sofisticadas, o vatapá e seu complemento, uma delícia, e as sobremesas de acabar com qualquer dieta. Teresa e seu creme com aqueles morangos cobertos de chocolate e o mousse de frutas vermelhas da dona da casa eram de matar qualquer cristão.
Mesmo assim, saí de lá com uma sensação de incompletude. Coisas de Rosa, dirão alguns. Mas, faltaram duas coisas. Cadê o quindim? E decepção maior, cadê a caipirinha? Quando e onde se pode servir comida baiana, tá bom, vatapá, e não dar de beber aos apreciadores de cachaça, como eu, pelo menos uma caipirinha de maracujá, pois limão não tinha. Peixe e camarão foram temperados com vinagre... estou mentindo, Janaina? Busco explicação para o inexplicável. Seria uma homenagem, ao pessoal relacionado à cultura? Em tempos de eleição, tudo é possível... Com a palavra Thiago Roque!

domingo, 21 de setembro de 2008

O vento


"Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós
E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.
só de encontrar."
(O vento - Rodrigo Amarante)


O vento bateu com tanta força que quebrou uma prateleira, arrastou terra, dançou com vasos. O vento é assim, de vez em quando vem trazendo o cheiro do mar e notícias doces e por vezes derruba, empoeira, carrega consigo sustos. Mas sempre vai embora. Agosto foi embora. Já tenho cronograma planejado até 15 de dezembro, depois disso, férias. E tudo indica que serão no Mediterrâneo. Esses dois últimos meses foram loucura. Corri muito. Mal parei em casa. Outro dia recebi amigos e até eles acharam graça no estado de caos em que o apartamento se encontrava. E nas duas malas no chão. É, tenho malas pelo chão porque tenho usado-as. E duas. Uma era da semana anterior que ainda não havia sido desfeita e outra estava preparando para a viagem da semana. Continuo adorando o trabalho, a correria, a loucura...
E no meio disso tudo veio o vento. Trouxe essa amiga querida que não via há alguns tantos anos. Cheia de notícias e com a mesma doçura de sempre. Fiquei feliz. Triste e feliz. Surpresa e feliz. Feliz e saudosa de tempos passados. Feliz e feliz. Feliz por ela estar de volta aqui ao meu ladinho. Tem gente que é assim, mais parte da sua história do pode se imaginar. Karin é tão parte a minha vida que nunca tirei sua foto do meu quadro de retratos nesses anos de ausência e a ter de volta ao convívio é uma maravilha.
E por falar em amigos, dois queridos estão de mudança. Não podia estar mais feliz e triste. O Marcos segue para o Rio porque assim o cinema quer e a Mari voltou para a Itália sem previsão de retorno. Ambos estão felizes e estou torcendo pelo sucesso mas já com o coração apertadinho de saudades desses dois que foram tão essenciais e presentes nesse ano.

sábado, 20 de setembro de 2008

Essa foi uma semana interessante do ponto de vista musical. Em vários momentos estive fazendo alguma coisa relacionada a música. Primeiro eu comprei o CD/DVD da Adriana Calcanhoto que se chama Adriana Partimpim.
É um show para crianças, mas um daqueles que um adulto mais ou menos tonto como eu se diverte em ouvir. Coincidentemente, um casal de amigos que mora no exterior e recém teve um bebê, pediu-me para comprar e enviar para eles porque não estavam conseguindo comprar de lá...

Em seguida, resolvi organizar as 3000 músicas que tenho no meu iPod porque tenho TOC e se não estou com todas as músicas organizadas por CD e a capinha do CD não aparece quando a música toca, fico LOUCO. Passei algo como um dia todo fazendo isso. Não me perguntem como conciliei o trabalho com isso, mas sei que fiz e não conseguia parar de olhar meu ITunes todo arrumado...

Um colega de trabalho emprestou-me também uma coletânea de 100 Melhores de Bach. Eu so FÃzaço de música clássica e ultimamente tem me ajudado muito a relaxar. É excelente o CD. Um dos meus compositores clássicos favoritos é Vivaldi, simplesmente é italiano e eu ADORO tudo que é italiano. Pode ser a pior coisa do mundo, mas se for italiano eu pago um pau.

Por fim eu fiz meu quarto download de CD ilegal na internet. Também durante a semana. Eu tenho 3 CDs que baixei e não comprei: Justin Timberlake, Fergie, Black Eyed Peas e agora o CD novo do Metálica que é simplesmente EXCELENTE! Talvez eu o compre quando lançarem oficialmente.

Eu sou um idiota, mas normalmente eu baixo os CDs e depois, fico com a consciência pesada e acabo comprando o CD. Tenho CDs que nunca escutei efetivamente. O do Ira!, por exemplo, eu baixei e comprei só prá não ficar com a consciência pesada. 

Notaram que o gosto musical aqui é realmente complicado: de Vivaldi a Metálica passando por Justin Timberlake e Ivete Sangalo. Não sei se é normal.

A propósito: durante a semana, li uma crítica acho que na Folha sobre os trabalhos novos dos caras dos Los Hermanos. Segundo os críticos, um dos dois é bom o outro é uma droga. Ao menos foi o que entendi. Talvez se eles ainda estivessem juntos eles pudessem estar agora no meu iPod por influência da Janaína. Não que isso seria uma vantagem prá eles. Mas acho que agora eles entrarão somente nas mesmas condições dos grandes talentos Yankes que mencionei há pouco. Ainda não consigo admitir que merecem ter direitos autorais pagos...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

dicionário

vazio: quando você descobre que alguém que ama muito não tem fagulha do se importar com você

saudade: quando a noite se torna, pouco a pouco, mais fria

poesia: quando letras se encontram e fazem sentido antes mesmo de caírem no papel. em extinção

paixão: famosa marca de um doce em forma de coração, feito de açúcar e ilusão

amor: sem consenso. adiar para a próxima reforma gramatical

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Baco – seus vários nomes, nossas diferentes personas...


Estou freqüentando um curso de cultura geral. O tema é Baco. Na mitologia tornou-se conhecido por outros nomes, tais como: Báquio, Brômio, Íaco, Zagreu e Dioniso. Ele está relacionado às artes. A consolidação do teatro deu-se em função das homenagens ao deus do vinho, Baco. A cada safra realizavam-se festas de agradecimento, através de procissões. Com o passar do tempo, essas procissões ou “ditirambos” foram ficando mais elaboradas. Apareceram as máscaras e os atores, ou quem sabe, os atores e depois as máscaras...
Dioniso é filho de Sêmele e Zeus, o marido mais infiel de toda história da humanidade, em oposição a Dioniso, um sujeito fiel. Quem era a felizarda? Ariadne, irmã do Minotauro. O negócio está começando a ficar complicado, melhor voltar a Baco, com fama de bêbado e irracional, sem falar de sua participação nas bacanais... Dirá ele: é tudo mentira. Sei... bem, para dizer a verdade, não sei. Baco, o deus da liberdade, em cujo ritual as fronteiras entre vida/morte, loucura/sanidade ficavam abertas aos escolhidos, possui uma perturbadora dualidade acompanhando-o desde seu nascimento.

“Vem, ditirambo! Vem para viver/no corpo de teu pai muito viril...”
Essa foi à exclamação de Zeus para a criança mitologicamente, nascida duas vezes. Diz à lenda que morreu em Sêmele e teve sua gestação completada na coxa do pai. Morto e ressuscitado como Adônis, Mitra, São Jorge, Cristo ou Osíris. Por isso é comparado ao deus egípcio da morte. Um Dioniso primitivo e estrangeiro para ser aceito na Grécia, teve que sofrer modificações, transformando-se em deus dos mistérios e dos ritos secretos de iniciação. Protegia os mortos. Ao chegarem aos domínios de Hades deveriam anunciar a Perséfone que Baco os libertara. De origem obscura, talvez seu culto tenha começado na Macedônia. Isso lembra Alexandre? Pois é... sua mãe Olympia, era uma bacante. Quem me contou foi Caetano Veloso, que por sua língua comprida acabou “pelado por bacantes/num espetáculo”. Quem cantou? Adriana Calcanhoto, e ao entregar o amigo ainda completou: ordem e orgia/no super bacanal/carne e carnaval. Olha só o cara pondo as manguinhas de fora! E eu acreditando na história dele ir somente atrás do trio elétrico. Baco era isso carne e carnaval. Baco é mais que isso, sendo um estado de espírito, presente em nós e fora de nós. O não de Dioniso as normas pré-estabelecidas pode ser considerado como oposição criativa, implicando um movimento em sentido ao não corrente, ao novo na ciência ou na arte. Nietzsche classifica de apolínea ou dionisíaca a produção artística conhecida, mas essas características são percebidas nos seres humanos.
Para uns, Baco é uma carga pesada, uma sombra. Porém, se seu ardor for resfriado pela seriedade apolínea temos a síntese ideal. Jung, ao descrever questões relacionadas à fragmentação psicológica, afirma que na maioria dos casos trata-se do arquétipo de Dioniso e seu confronto com religiões fundamentadas na noção de culpa, pois o sensual e o místico são aspectos fortes no deus da morte. Da vida, eu diria, pois se Baco nos abandona, sua ausência provoca pobreza emocional, falta de sentimentos profundos.
A minha geração ao lançar as bases da contracultura, ao voltar-se para a natureza, ao desencadear uma revolução sexual, ao pregar o descaso pelas instituições, representa a identificação atual com Baco. Isso gerou em nós o desejo pela juventude eterna. Os hippies de cabelos brancos ou os motoqueiros de meia idade são exemplos dessa postura. Só isso para justificar minha presença nesse ciclo de palestras, pois quem vê cara não vê coração, não é Caetano? E não espalha...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Outra chance

No dia 10 de setembro foi ligada a maior máquina criada pelo homem. O Large Hadron Collider (LHC), um acelerador de partículas de 27 quilômetros de extensão, envolveu centenas de cientistas, bilhões de dólares e 20 anos de preparação e construção. O objetivo é constatar a existência do Bóson de Higgs, partícula subatômica, que existe apenas na teoria, responsável pela matéria. Para isso, os cientistas irão tentar reproduzir as condições do Big Bang, momento único em que se deu início ao Universo.

Embora haja cientistas radicais que afirmam que o experimento irá criar buracos negros, destruindo a Terra, não há razão para pânico, pois a absorção da massa da Terra seria tão rápida que ninguém perceberia.

Particularmente, espero que o experimento seja um sucesso, que os cientistas consigam identificar o tal do Bóson e colham subsídios para o avanço da ciência. Ainda espero que a energia gerada não afunde parte do território europeu e soterre o gigantesco esforço. Além disso, tenho outra esperança.

Fiquei pensando no Big Bang, ou melhor, na Força Criadora que deu o “peteleco” inicial naquele ponto chamado de singularidade, que desencadeou a criação do Universo. Talvez, tenha chegado o momento de Ela intervir e corrigir o atual curso da evolução.

Já era tempo. Afinal, depois de bilhões e bilhões de anos, a perfeição do universo passou a ser manchada. Uma espécie, que habita um minúsculo planeta, vem desequilibrando a harmonia universal. Destrói não apenas o lugar onde vive, mas a própria espécie.

Espero que o Criador decida não pela eliminação do que está em desequilíbrio, mas que ajude na correção dos desvios. Tomara que o experimento crie um buraco negro ou uma coisa qualquer que, ao invés de aniquilar a Terra, nos arremesse para outro lugar no espaço-tempo, em outra dimensão. Poderíamos acordar sem perceber o que tinha ocorrido. Despertaríamos em um universo paralelo, onde as coisas seriam diferentes. A tolerância, o respeito, o compromisso com a própria espécie e com o próprio ambiente, tudo aquilo que filósofos, pensadores e toda sorte de idealistas já imaginaram inúmeras vezes que poderia ser a fonte das ações dos humanos. Quem sabe se, além do Bóson de Higgs, outras coisas poderão ser descobertas?

domingo, 14 de setembro de 2008

9/11

Que o atentado de 11 de setembro de 2001 em Nova York mudou o mundo ninguém duvida. O caos nos aeroportos se instalou de vez e para ficar. O OUTRO passou a ser uma ameaça maior do que já era e as diferenças nunca foram tão temidas. Aumentaram as segregações, os grupos se fecharam em si. Bom, só nesse blog falou-se sobre preconceito e medo de diferenças três vezes em uma semana. A América virou a terra da paranóia e como era de se esperar o resto do mundo foi atrás.
E não nego que estranhei quando ao chegar no trabalho duas pessoas vieram me lembrar que dia era.

- Viu que dia é hoje?
- Quinta feira de uma semana bem corrida. Respondi.
- 11 de setembro. Me lembraram.
- Ahh...

Então não é que a data está tatuada na memória de gente que nem estava perto e nem sofreu perda nenhuma. Parte da vida, dessa globalização insana, graças a D'us.
Então para lembrar a tal data, mesmo que já tenha passado, deixo uma foto de Thomas Hoepker que acho sensacional e foi tirada do Brooklyn logo após a colisão do primeiro avião causando muita polêmica tamanha sua casualidade em frente a tragédia e a dica do livro Extremante alto e incrivelmente perto de Jonathan Safran Foer que foi a única obra que realmente me fez pensar na proporção do trauma pela qual Nova York e seus moradores passaram.



Ah, em tempo, a foto de Hoepker, assim como tantas outras, está exposta em São Paulo, na segunda edição da feira I-Contemporâneo.
A exposição também reúne mostras individuais de artistas como Miguel Rio Branco, Mario Cravo Neto, Caio Reisewitz, Rochelle Costi, Mauro Restiffe, Albano Afonso, Claudia Jaguaribe e os internacionais Thomas Hoepker, Martin Parr, José Manuel Ballester, Nicola Constantino e Michael Wesely.

Serviço
I-Contemporâneo
De 11 a 14 de setembro, das 14h às 21h
Shopping Iguatemi - 9º andar. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.232
Entrada franca

Extremamente alto e incrivelmente perto
Autor: Jonathan Safran Foer
Tradução: Daniel Galera
Páginas: 392
Preço: R$ 47,00

sábado, 13 de setembro de 2008

Diferenças desnecessárias

Pode soar redundante, mas de novo estava pensando durante a semana a respeito dessa coisa de preconceito quanto à cor, nacionalidade, religião ou o que quer que seja.

Li algo a respeito das quotas para negros em universidades federais e acho que de imediato isso incita um conflito racial. Imagine o branco que tiver uma nota maior que a de um negro e for reprovado no vestibular... Vai ficar MUITO puto!

Outra coisa que veio à minha cabeça foi a tal criminalização da homofobia. Quer dizer que se eu estiver apanhando na rua tudo bem. Não é crime me dar porrada. Se um homossexual estiver apanhando, daí sim é um problema. Então a solução é gritar "Eu sou gay" no meio da sessão de porradas prá ver se o agressor se dá mal.

Na África do Sul li também algo interessante um dia: no jornal saiu a seguinte frase como manchete "Na África do Sul, chineses são negros". Com isso, eles queria dizer que os chineses teriam os mesmos "benefícios" dos negros quanto às ações do "Black Empowerment" (há várias regras a respeito de cotas, obrigatoriedade na contratação de negros pelas empresas, sistema educacional que valorize a cultura tribal, políticas de transferência de renda para garantir uma melhoria na qualidade de vida dos negros, o que se denomina Black Empowerment). Isso significa que o Branco pobre na África do Sul tá ferrado... Tem mais é de se matar porque nenhum dos benefícios que estão disponíveis para os negros - o que inclui agora os chineses também - estará disponível para eles.

Será que sou só eu que vejo que enquanto a segregação for considerada, o preconceito vai continuar? 

Ninguém deveria escrever que o homofobia é crime. Crime é agredir alguém. Ponto final. Qualquer agressão deveria ser severamente punida, independente de com quem a vítima gosta de sair... Enquanto negros tiverem um Ministério exclusivo, eles serão Os Negros, os outros Os Brancos... as diferenças são perpetuadas. Deveriam beneficiar a quem não tem renda... Independente da cor da pele.

Sei que é fácil falar, mas de qualquer forma, espero que um dia eu leia o jornal e a opção sexual, raça ou religião não sejam considerados ao descrever alguém.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

doce

ela entrou na doceria.
criança ainda. sorriso com dente de leite.
pediu amor.
o vendedor não entendeu.
-- amor não é doce, menina, tentou argumentar.
-- claro que é. minha vó disse, minha mãe disse, minha irmã disse.
-- elas estão erradas.
-- não estão.
-- ó, leva ilusão. é superdoce, o único problema é que termina rápido, precisa levar várias.
-- não, quero amor.
-- tem saudade. só que é raro, coisa cara, mas vale o investimento.
-- não.
-- num prefere paixão? é um pouco enjoativo, mas mata a vontade do amor...
-- quero amor.
-- tá vendo aquele pirulito todo colorido? é decepção. se você comer devagar...
-- moço, quero amor.
-- mocinha, trabalho aqui há mais de 30 anos. sempre vendi amor. todo mundo acha que é um doce. mas não é. todo mundo briga comigo depois.
-- num faz mal. quero amor.
o vendedor se entrega.
-- ok. toma. esse é o amor. e vou lhe dar de graça.
-- nossa, pequeno assim?
-- é, não rende muito.
-- não posso levar dois?
o vendedor ri.
-- olha, leva o primeiro, experimenta e, se gostar, eu te dou mais. será nosso acordo.
-- tá.
a menina saiu com o doce nas mãos. chegou até a calçada.s
orriu. e não resistiu.
pegou o doce, levou à boca.
tomou um encontrão do moço apressado.
o doce caiu. um cachorro sarnento mordeu.
engoliu numa bocada.
rosnou, foi embora.
ela chora.
volta à loja.
pede ao vendedor, entre soluços e tristezas:
-- me dá uma paçoca?

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Onde está o Golem de Bauru?

Estou devorando Mestiços da Casa Velha, o mais recente livro do Lucius de Mello e adorando. Mas, como terminei a leitura de O Golem de Praga, vou falar sobre ele. Os dois autores são judeus, cada qual a seu modo e ambos falam sobre xenofobia. Desnecessário apresentar Praga a vocês. Uma cidade linda e devido ao seu espírito liberal conviveu com uma grande comunidade hebraica. O Golem é personagem mitológico. Homem feito de barro, cuja missão era proteger os judeus em momentos de perigo. O livro descreve perseguições, complôs e o jogo sujo, contra membros da comunidade protegida pelos dirigentes de Praga no século XVI.
Isso me fez lembrar de um acontecimento recente ocorrido comigo, em Bauru, e a pergunta natural foi: a xenofobia continua existindo?
Minha experiência com o racismo ocorreu na segunda guerra, pois alguns dos meus parentes desapareceram no campo de Auschwitz. Alguns dirão: guerra é guerra. Depois, presenciei os franceses ridicularizando negros, portugueses e marroquinos, embora eu particularmente não tenha sentido qualquer descriminação como brasileira que sou. Então, comecei a freqüentar uma clínica de estética perto da minha casa. Aconteceu uma confusão, que me fez desistir do tratamento pago antecipadamente. A empresa comprometeu-se a devolver o dinheiro.
Na terceira ida ao local na tentativa de receber, a dona Eugenia, a devedora, a alemã como ela se auto intitulava, para meu assombro olhou-me de maneira superior e disse de forma pejorativa: “seu sobrenome... a senhora é judia?
Respondi: a questão em pauta não é minha ascendência, é a sua divida.
Ela começou a falar de seus processos na justiça e de como se livrar deles, terminando com a frase: “judeus devem para todo mundo.” Posição invertida, a senhora é a caloteira aqui, respondi. O surpreendente foi esse confronto com o racismo aqui no interior de São Paulo. Mas, dia desses conversando com uma amiga, professora universitária, ela confessou ter percebido que após declarar-se neta de judeus, afirmando perante alguns colegas sua tentativa de observância da Lei Judaica e o fato de estar freqüentando uma sinagoga em busca de equilíbrio espiritual, notou uma turbulência em sua vida acadêmica. Uma delas foi sua carga horária total ser transferida para os sábados, acompanhada de outros pequenos incidentes. Disse-me que passou a se perguntar se aquilo poderia ser perseguição religiosa ou xenofobia.
Como canta meu poeta predileto: alguma coisa está fora da ordem... fora da ordem mundial. Supostamente, a sociedade pós-moderna desvinculou-se dos ranços da modernidade. A Constituição Brasileira afirma que racismo é crime. Xenofobia é a aversão a outras raças e culturas. Dito com todas as letras é preconceito racial, grupal ou cultural. Medo... mascarado em forma de ódio. Frases como: negro é inferior, asiático é sujo, mulçumano é violento, judeus praticam libelo de sangue são racistas. E a pior atitude é calar-se. O combate a xenofobia é, também, uma luta contra o silêncio. A educação, tal como é concebida, passa pelo respeito ao outro. Separados por quase cinco séculos, os dois livros falam de racismo em Praga e na Alemanha. Século XVI, XX ou XXI, minha amiga no trabalho, eu em uma clinica de estética, até quando?
Em Praga havia Golem, como um super-herói moderno salvando judeus das armadilhas de seus adversários. Em Lubeck, Thomas Mann, “o filho da negrinha” foi descriminado, narra Lucius de Mello. Ele descendia de mãe brasileira, e nem negra ela era. Tudo sempre igual. São as mil faces do medo em ação nos seres humanos. Medo do que, afinal?

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Mudanças

Um amigo me disse que eu tinha que ver “O Procurado” e como respeito muito a opinião dele, fui assistir na primeira oportunidade que tive. É o tipo do filme que você adora ou odeia. No meu caso, adorei, em vários sentidos.

Começo por ela. Angelina tem tudo a ver com “angel”, com angelical, com anjo. Ela é fora de série. Quando dá aquele sorrisinho, quebra qualquer um. Está bem, não vou concentrar meus escassos comentários nela, embora mereça, nem em seu papel como a assassina Fox, membro da “fraternidade”, com suas quase delicadas tatuagens (para quem quiser ver mais uma).

Como disse, é o tipo do filme que você tem que entrar no clima para poder ver. De tão inverossímil, as atuações, as manobras e os feitos dos membros da “fraternidade” deixariam James Bond e Ethan Hunt simplesmente de queixos caídos.

Para dizer a verdade, acho que não foi a angelical atriz nem as manobras baseadas na mesma filosofia de Neo ou Morpheus que mais me chamaram a atenção. É provável que tenha sido a reviravolta que ocorreu na vida de Wesley que me fez pensar um pouco. Do nada, o cara, que era pior do que o cocô do cavalo reserva do bandido, vira o mais novo e importante membro de um seleto e poderoso grupo milenar.

A mudança, o desafio, a emoção, tudo isso são coisas fundamentais para reestruturar aquilo que é sem graça, entediante e patético. Sair da média, da mediocridade. Produzir, ser útil, fazer algo que realmente importe, que deixe rastros. Vivemos em busca de conquistas, nos preparamos para dar passos importantes, aprendemos a fazer projetos na vida. Vamos lá!

domingo, 7 de setembro de 2008

Dupla de talento inegável

"O quanto eu te falei que isso vai mudar / Motivo eu nunca dei / Você me avisar, me ensinar, falar do que foi pra você, / Não vai me livrar de viver"
Sentimental - Rodrigo Amarante


"Cuida do teu / Pra que ninguém te jogue no chão / Procure dividir-se em alguém / Procure-me em qualquer confusão / Levanta e te sustenta / E não pensa que eu fui por não te amar"
Adeus Você - Marcelo Camelo


OK, não tive o privilégio do Alan de ver o promo do DVD Los Hermanos na Fundição Progresso em primeira mão mas vi o show editado no Multishow e logo compro o DVD. Já comprei o cd. Original. Tem coisas que não dá para não comprar o original.
Só sei que vendo o show pulei na cama, dancei, cantei, chorei e liguei para o Alan que é um dos meus únicos companheiros no fanatismo Camelo/Amarante. Sim, o Alan além de meu amigo fiel há anos é um daqueles que entende meu fanatismo por Los Hermanos, Alan Pauls, Walter Salles, Carrie Bradshaw...
Realmente sou muito fã do Marcelo Camelo e do Rodrigo Amarante. E assim como boa parte do mundo não gosto de Anna Júlia mas perdoei essa estréia com um single de apelo fácil e chatinho para ver desabrochar esses que a meu ver são dois dos compositores mais completos da atualidade.
Gente, na boa, Caetano é bacana e o Chico é poeta mas temos que admitir que um dia eles vão morrer e quem vai ficar por mais um tempo fazendo música de qualidade é a dupla Camelo/Amarante. Não só eles, admito porque temos tantos outros talentos por aí. O Vanguart do Helio Flanders ou o Fernando Anitelli que pode ser chato mas escreve muito bem.
Então sou fã do Los Hermanos, juntos eles são uma potência capaz de causar alterações climáticas, e sou muito fã dos projetos paralelos. Mal posso esperar para ver Marcelo Camelo solo já que Rodrigo Amarante na Orquestra Imperial ou no 3namassa eu já ouvi bastante.
E nunca tive uma chance de ver a banda ao vivo mas não me preocupo muito com isso porque mesmo os caras tendo anunciado em 2007 um recesso por tempo indeterminado, e mesmo com todas as fofocas que eles não se dão e viviam uma luta imensa de egos, eu ainda acredito que há volta. E se não houver, tantos outros projetos bacanas com certeza virão.
E para quem não acredita na maturidade do trabalho dos caras é só ouvir a introdução da música abaixo e deixar seu comentário, viu Rogério?!



sábado, 6 de setembro de 2008

Judiação...


Estava lendo um livro que se chama "Memórias do Livro" que trata da história de uma Hagadá, que pelo que entendi é um livro que descreve algum momento da história judaica e que normalmente é lido na Páscoa deles... é uma ficção, mas que mistura-se com muitos episódios históricos como a Inquisição Espanhola e a guerra na região da Bósnia.

Cada vez que leio. ouço ou assisto coisas sobre os judeus vem-me à cabeça o fato de COMO esse povo foi perseguido. É impressionante...

Eis que num desses momentos comecei a pensar numa coisa: alguém tem idéia de onde vem o verbo JUDIAR em português?

Imediatamente comecei a pensar que só pode ter vindo desse maldita perseguição aos judeus. Os caras são TÃO sacaneados que até uma analogia verbal foi criada para definir uma situação de sofrimento como uma "Judiação"...

"Nossa...Tão nova mas faleceu!" Que judiação!

Tem ainda o verbo "Judiar". "Moleque, Páre de judiar do seu irmão!"...Imaginem...judiar significa tratar mal...

Não sei se há alguma palavra latina que originou o verbo ou se realmente ela só existe no português e se vem realmente do sofrimento desse povo. Não quis procurar no dicionário prá ver a origem. Prefiro continuar acreditando que essa minha teoria é a correta. A única coisa que sei é que pelo jeito que as coisas andam, vai demorar muito prá palavra deixar de ter esse sentido...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

redação

uma redação sobre o amor...
porra, ela só tinha nove anos... ia lá saber o que significava essa palavrinha miúda?
aliás, não entendia por que trinta linhas para uma palavra de quatro letras. ainda mais sobre um assunto que não fazia idéia do que era.
no caminho de volta da escola, resolveu perguntar às pessoas o que era o tal do amor.
-- você é muito jovem, mocinha, diverte-se a velha vendedora de maçãs.
-- nem queira saber, esquiva-se o carroceiro.
-- nunca vi, disse o menininho de seis anos que chutava uma bola de meia.
a gorda lavadeira deu risada, a madame nem olhou na cara, o cachorro do sorveteiro não quis responder... talvez nem um deles soubesse.
ela só tinha nove anos... e já estava de saco cheio dessa coisa de amor.
chegou em casa, grudou no avental da mãe.
-- mãe, o que é o amor?
a mãe estranhou a pergunta, levantou a pequena, deu-lhe um beijo estalado na bochecha e sorriu.
-- é quando você fica sem fôlego.
a menina olhou, olhou e olhou. não conseguiu entender. mas sorriu de volta.
foi para o quarto. deitou na cama e ficou pensando.
de repente, a idéia.
tirou a saia do colégio, colocou uma calça de ginástica. calçou seu tênis. saiu sem avisar.
foi até o campo de uma fazenda perto da sua casa. no horizonte, só grama verde.
respirou fundo. e correu.
correu, correu, correu.
o passo seguinte mais firme do que o anterior.
não ia parar, estava determinada.
o suor escorria pelos olhos. o sol queimava o rostinho branco, ingênuo, puro.
o verde continuava à frente. ela estuprava a distância, mas parecia não chegar nunca a seu destino - se é que existia algum.
Aos poucos, o cansaço começa a rasgar os músculos das pernas.
as costas reclamam. dormência. dor.
de repente, começa a faltar o ar. ao mesmo tempo, nasce um sorriso de satisfação.
-- o amor, o amor, o amor, ela tentou gritar a plenos pulmões.
mas não teve forças.
o solo verde a recebeu de braços abertos. ela nem sentiu a queda.
a boca procurava palavras que só conseguia pensar, mas, não entendia por que, não era capaz de falar.
o pensamento confuso, algo dentro de si que nunca tinha sentido, mas que, estranho, a fazia estar mais viva.
pernas tremendo, mãos suadas, coração acelerado...
rapidamente, uma alegria brota do peito feito brisa da manhã e toma conta da cabeça.
começa a rir. uma risada que mais parecia uma doce canção. nem na mais engraçada piada do pai (e ele era bom em contar piadas), ela ria assim.
sabia que era diferente. sabia que era o amor.
contudo, o ar começou a invadir as narinas novamente.
ela se assustou.
as pernas não tremiam mais. estava voltando a raciocinar.
coração em seu ritmo normal.
a risada desapareceu - levou junto o primo sorriso, sabe-se lá para onde.
nunca esteve com os olhos fechados, mas só agora retornava a enxergar. viu o céu azul. viu uma cabeça raspada e dois olhos negros perplexos.
-- você está bem? pergunta o menino da bola de meia, ajudando a pequena a levantar.
precisava de ajuda mesmo. em um dia, descobrira as alegrias do amor e a dor de vê-lo escorregar pelas mãos feito areia de praia, sem poder fazer nada.
ela tinha apenas nove anos.
e uma redação para escrever antes do jantar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

SKY, TEVÊ É ISSO!



Sinto-me uma tonta todos os dias, em situações diversas. Deve ser coisa de gente insegura, sentir-se tonta. Ou coisa de quem mora num país onde as pessoas são mesmo feitas de tontas mesmo e ainda por cima pagam por isso.
Eu pago R$ 140,00 por mês de tevê via satélite. Sky. Certo. Escolhi, quis ter canais e pago. Muito bem. Estou há alguns meses assistindo a uma espécie de propaganda “política” em defesa da programação americanizada dos canais e contra lei que obriga os canais a oferecer uma programação também nacional . Dizem que cobrar programas nacionais das operadoras é agredir a democracia e agredir o assinante que escolhe o que assiste. Aí para essa lei não pegar e não sei o que mais, eles botaram reprises de programas da Globo, como e Serginho Groisman, por dias e dias nos canais fechados. Isto é, chamando os os que brigam por uma programação nacional, o povo e os assinantes de idiotas. “Toma seis horas ininterruptas de Serginho Groisman, é nossa cota de nacional”. Deu certo. E nem estou aqui pra falar do americanismo besta que o brasileiro engole. Nada, esse disurso tá muito antigo.
Fiquei muito brava com a insistência dessa propaganda e comecei a ficar ainda mais brava porque me lembrei que tevê é paga. E isso quer dizer que já pago por mês, não deveria “pagar” assistindo a tanto comercial. Vocês se lembram que quando a tevê fechada começou no Brasil não havia comercial? Pois se não é esse o princípio da coisa.
Agora estou mais brava ainda e conto o porquê. Estão anunciando em quase todos os canais da SKY, um série nacional nova, Alice, que se passa em São Paulo. Pelos traillers, parece ser uma série bem bacana e eu adoraria assistir. Mas um detalhe: é na Hbo, e os meus 140 reais não pagam pela Hbo. Então é assim ó: fazemos programação nacional sim, mas você tem que pagar mais se quiser ver, assinante panaca. Só pra quem tem Hbo.
Então me sinto como um ratinho, saindo correndo do meu sofá, atrás da ratoeira, quando estou quase perto, puxam o queijo pra mais longe e lá vai mais sei lá quantos reais por mês pra assistir o que quero. Gente, sou idiota de me sentir assim? Será que tenho que incorporar a idéia de que “ no capitalismo o bom é ser capitalista” e fazer um “gato” de tevê à cabo em casa?
Tá errado, mas no Brasil, TV (e um monte mais de coisa) É ISSO!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

NOITE CHUVOSA – Dorothy Parker


Fantasmas de meus maravilhosos pecados
freqüentam meu travesseiro...
etérea a desejada chuva começa
escondendo o choroso e frouxo salgueiro
atente para seus olhos e ouvidos
deixe de lado seu manto de tristeza
você pode ter meus próximos anos
você pode andar comigo amanhã
sou irmã da chuva;
leve, repentina e profana,
impaciente na vidraça,
facilmente perdida, lembrada com vagar,
tenho vivido na sombra, uma sombra
amarrada por flores de cemitério.
Deixe-me estar esta noite no lugar da batalha
no prateado da tempestade.
Tudo que é frágil enferruja
com a passagem de outro Abril.
Posso estar coberta de pó mágico,
deslizando pela grama quebradiça.
Todos doces pecados devem ser esquecidos
Quem vai viver para contar seu canto?
Ouça-me agora, não me deixe corromper
ainda melancólica, ainda sonhando.
Fantasmas de minhas doces tentações, ouçam;
eu sou frágil, sejam compreensivos.
Será que não vêm que tenho necessidade
de viver com os vivos?
Velejem, esta noite, o peito de Phoenix;
numa procissão sombria, em vôo plano
rumo ao desconhecido
espíritos de minhas transgressões compartilhadas.
Perambulem com a jovem Persephone
Colhendo os frutos para seu abandono...