corta, enfia o dedo, rasga a pele, deixa  sangrar.
esfrega no asfalto, fura com pregos, lixa com arame farpado, bate na  madeira - mas três vezes, por favor, que é pra afastar o azar...
dilacera a  carne, quebra o osso, espalha o músculo, faz o corpo cuspir dor.
acrescente 2  xícaras (chá) de querosene, deixe de molho por 12 horas e leve ao fogo por 2  minutos, o tempo pra flambar.
deixa infeccionar. deixa apodrecer. oferece ao  urubu de banquete - mas com classe, brinda com mercúrio-cromo.
sai do pé,  ganha canela, joelho e coxa, embrulha o estômago com fita cor azia, espalha pelo  peito, trava braços, torce pescoço, aperta a cabeça.
mas não mata.
porque  carne e osso é subproduto, sobra de ilusões e tentativas frustradas de uma  criação dita divina.
sonho é maior.
é sopro transcendental, matéria-prima que  se renova, cresce, amadurece, envelhece... e vive.
onipresente e divino - sim, o  sonho é. simplesmente é.
sonho dá diarréia em urubu.
você não escolhe ser  feito de carne e osso.
mas escolhe morrer apenas como carne e osso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário