segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

MELANCOLIA

Tentou lembrar da alegria sentida tão intensamente até um tempo atrás balançando tímida os quadris pesados.
Sem olhar para os lados, que o olhar dos outros a deixava envergonhada, levantou os braços mostrando suas axilas claríssimas (usava o novo produto anunciado, que torna-as maravilhosas e dignas de serem admiradas) e lembrou das artistas que tiram o “gordo” com uma plástica de rápida recuperação (ficam fundas e sedutoras e pode-se pagar em dez parcelas)... mostrou seu gordo tentando entrar no ritmo.
Improvisara uma fantasia. No espelho aprovara a escolha mas agora parecia um pouco brega. Ainda bem que a máscara, “made in home”, cobria um pouco do rosto.Alguém a reconheceria?
Só se fosse pela sandália desconfortável com a plataforma enorme, meio fora de moda e usada todos os anos para cair na folia........

A sensação de estar artificial não a abandonava. Que alegria é essa que não sinto? Será que sou só eu, ou todo mundo está fazendo tipo? Se ao menos tivesse vindo com um bloco! Em bando tudo fica mais fácil, cria-se a ética do grupo.
Droga! Se vim vou aproveitar.
Abriu um sorriso sedutor ajeitando provocadoramente a máscara e segurando entre os dedos a piteira, muleta usada para circular pelo salão.
“É com esse que eu vou sambar até cair no chão,/
é com esse que eu vou desabafar na multidão/
Se ninguém se animar eu vou quebrar meu tamborim/
mas se a turma gostar vai ser pra mim”
Ainda bem que tocam músicas antigas. Se além de tudo fosse obrigada a ouvir que o “Buce.tava magoado porque Buce tinha paixão...” arrancaria a máscara e fugiria negando o sangue brasileiro nas veias, cortando os pulsos se preciso fosse, mas gritaria bem alto:
- Carnaval? Tô fora!
Bem melhor ler poesia na rede da fazenda.

4 comentários:

Anônimo disse...

E o carnaval de antigamente? Aí, a história é outra. As letras apenas indicavam:

ÍNDIO QUER APITO
(Haroldo Lobo-Milton de Oliveira, 1960)

"Ê ê ê ê ê índio quer apito
Se não der pau vai comer

Lá no bananal mulher de branco
Levou pra pra índio colar esquisito
Índio viu presente mais bonito
Eu não quer colar
Índio quer apito."

Apito? Não há nada mais afastado do que instrumento de som. O que índio quer da mulher do branco é outra coisa.

O talento verbal era uma condição para escrever as letras. Nesse carnaval, Rosa veio dizer que é preciso proteger a linguagem da degradação. Como a letra deste carnaval não foi bem protegida, se perde no vazio.
Sérgio Rizzi

Rosa Bertoldi disse...

Rosa:
Como é que vc esconde um amigo desses? Não sei o que está melhor, se seu texto ou o dele.
Parabéns a ambos.
ROSA BERTOLDI

Rosa Bertoldi disse...

Rosa:
Como é que vc esconde um amigo desses? Não sei o que está melhor, se seu texto ou o dele.
Parabéns a ambos.
ROSA BERTOLDI

Camilla Tebet disse...

Concordo com a Rosa, melhor ler poesia na rede da fazenda, com a~s lembranças de bons carnavais na cabeça...
Beijos