sábado, 7 de fevereiro de 2009

Pretinho Básico: um mito


Fui encontrar amigos outro dia no Café 21. Para minha imensa surpresa alguém abordou o assunto moda e toda aquela gente bonita e inteligente deu palpites. Descobri coisas maravilhosas depois desse bate-papo. O giro da moda, como funciona e como corre de mulher para mulher... O que pensam e falam sobre a moda e a forte ligação que as mulheres têm com tudo que é clássico e ao mesmo tempo com tudo que é novo. Uma delas disse: você lembra da Jackie, toda de preto, impassível no enterro do Kennedy? Um luxo...
Para o físico Newton o preto não é cor, indica ausência de luz, enquanto para Goethe o preto é uma síntese produzida pela soma de todas as cores. Aparentemente as definições são opostas, mas ambos estão certos: o primeiro refere-se à cor/luz, o segundo a cor/pigmento. Caravaggio pintou seu atelier de preto para valorizar a luminosidade das cores das roupas de seus modelos; conhecendo ou não esse exemplo, os artistas gráficos empregam o preto para realçar as cores de seus trabalhos.
No Egito antigo, uma pomba preta era o hieróglifo da mulher sofrendo a viuvez até o fim dos seus dias. Na Grécia essa cor simbolizava fatalidade. Diz a Bíblia que Adão e Eva se cobriram de preto ao serem expulsos do paraíso terrestre, numa representação do mal sem remédio.
Em psicologia, preto corresponde a uma grande angústia, onde o luto aparece como símbolo de perda irreparável. Em várias partes do mundo, as mulheres vestiam preto por algum tempo, quando viúvas. As outras foram percebendo o fascínio dos homens por essas mulheres de preto, consideradas como frutos proibidos. A cor fica, então, associada à sensualidade, tornando aquele simples vestidinho em um charme. Dizem que ele valoriza qualquer estilo. É contemporâneo, atemporal, atrevido, sedutor, impactante. Seu impacto é vertical e não horizontal, sem ironia...
Entretanto, a responsável pela popularidade do pretinho básico não é a Thaís Araújo que recentemente declarou: “calma gente, sou só uma pretinha básica,” brincando com o famoso vestido que toda mulher tem em seu guarda-roupa. Quem o converteu no sucesso atual foi Audrey Hepburn, no filme Bonequinha de Luxo. Ela usou o tal pretinho como roupa simples, dessas que a gente veste para ir de manhã à padaria.
Ao mudar complementos sofisticou-o para grandes eventos noturnos. Nesse momento a cor preta perde a conotação anterior e juntos vestido e cor começam a tornar-se um mito.
No cristianismo o preto simbolizava renúncia às vaidades deste mundo. Nenhuma mulher veste um pretinho com essa intenção, mas seja qual for o objetivo oculto em seu uso, viva o meu, o seu, o nosso pretinho básico.

Um comentário:

Rosa Leda Gabrielli disse...

Janira, você conseguiu fazer uma síntese em que coloca cultura geral, história da arte, biografia, moda e cinema. ADOREI! Esse texto está o máximo.