Vivo ocupada. Organizo a minha agenda, mas no final da semana acaba sobrando um ou outro compromisso adiado para os próximos dias. Os encontros com amigos ou parentes ficam relegados a um segundo plano. Vou relatar um fato acontecido há um tempo atrás. Eu estava construindo uma nova casa e ao visitar minha tia favorita ela olhou-me como se eu fosse um ET dizendo: meu filho contou-me que a construção está adiantada, passei por lá e vi pilares e mais pilares. Não entendi nada. Respondi: coisa de arquiteto, com aquela obstinação e impaciência própria da capricorniana. Quando prestei vestibular e entrei para a faculdade queria concluir o curso rapidamente. Encontrada minha vocação, procurei a independência econômica. Filhos pequenos... sonhava vê-los adultos.
Tinha uma casa maravilhosa, mas como minha vida é a soma de objetivos e metas, decidi que precisava de outra. Clássica ou moderna? Contemporânea e projetada pelo mesmo arquiteto da casa anterior. O condomínio, com sua fisionomia bem definida em fundo verde e um lago quase molhando a rodovia, dá ao local um ar exótico. Os terrenos amplos, o vento soprando do norte e alguns poucos moradores levando o cachorro para passear, parece espantosamente calmo e confortável nesse mundo caótico. Quem entrou numa maratona dessas sabe dos muitos percalços antes do início da construção. E continuou sendo um caos... Imaginem aquela música: era uma casa muito engraçada não tinha teto, não tinha nada, ninguém podia fazer xixi, porque banheiro não tinha não...
O verso era um retrato aproximado da casa quando minha tia foi conferir o resultado. Colunas, lajes, caixa d’água, telhado e cadê as paredes? Quando passava pela obra, o mestre andava pelo enorme espaço vazio dizendo: aqui é a escada, ali será o escritório, a entrada social, a garagem, as varandas, a churrasqueira. Uma pausa e a sugestão: as escadas externas podem ficar nesse canto... Tudo invisível, visíveis só às vigotas de 18 cm, um pecado mortal, naquela época, mas depois de tudo pronto ficaram lindas! Ao sair de lá tinha a sensação que iria morar em um imenso terreno com dolmens – aquelas colunas enormes de sítios pré-históricos – transformadas pelo vento em esculturas primitivas e, ainda assim, singularmente modernas, possivelmente, dentro de uma barraca de camping.
Onde está o material entregue toda semana pelas empresas envolvidas no empreendimento? E o resultado do trabalho dos homens que permaneciam em movimento contínuo o tempo todo? Um dia levei o responsável pelo aquecimento para alguns esclarecimentos. O sujeito apontando para o vazio do telhado mostrou-me o local do coletor solar. A sua casa possui uma posição privilegiada, vai receber sol no verão e no inverno, terá água quente sempre, ele disse... Faltou acrescentar, se não chover por uma semana. Olhou tudo e declarou enfático: a casa ficará muito bonita. Pensei, o vidente precisa ter uma conversinha com a minha tia. Para ela e para a maioria das pessoas, essa construção é uma incógnita. Mas se vocês não espalharem, vou contar um segredo. A nova arquitetura inicia uma obra pela estrutura, pois ela é a forma em estado embrionário. Embora esse conjunto de técnicas seja mais coerente e possivelmente mais econômico, como as paredes serão executadas por último, a casa só vai surgir no final, quase de um dia para o outro, como por encanto. A impressão de estranheza decorre do fato da construção aparentemente dar os primeiros passos do fim para o começo, mais ou menos como no novo filme do Brad Pitt, Benjamin Button, o homem que nasce aos oitenta anos e depois vai ficando jovem. Mas, em relação à construção, nada do que aconteceu era um mistério para mim, eu fazia de conta que sim... Afinal estava me divertindo muito!
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