terça-feira, 16 de setembro de 2008
Baco – seus vários nomes, nossas diferentes personas...
Estou freqüentando um curso de cultura geral. O tema é Baco. Na mitologia tornou-se conhecido por outros nomes, tais como: Báquio, Brômio, Íaco, Zagreu e Dioniso. Ele está relacionado às artes. A consolidação do teatro deu-se em função das homenagens ao deus do vinho, Baco. A cada safra realizavam-se festas de agradecimento, através de procissões. Com o passar do tempo, essas procissões ou “ditirambos” foram ficando mais elaboradas. Apareceram as máscaras e os atores, ou quem sabe, os atores e depois as máscaras...
Dioniso é filho de Sêmele e Zeus, o marido mais infiel de toda história da humanidade, em oposição a Dioniso, um sujeito fiel. Quem era a felizarda? Ariadne, irmã do Minotauro. O negócio está começando a ficar complicado, melhor voltar a Baco, com fama de bêbado e irracional, sem falar de sua participação nas bacanais... Dirá ele: é tudo mentira. Sei... bem, para dizer a verdade, não sei. Baco, o deus da liberdade, em cujo ritual as fronteiras entre vida/morte, loucura/sanidade ficavam abertas aos escolhidos, possui uma perturbadora dualidade acompanhando-o desde seu nascimento.
“Vem, ditirambo! Vem para viver/no corpo de teu pai muito viril...”
Essa foi à exclamação de Zeus para a criança mitologicamente, nascida duas vezes. Diz à lenda que morreu em Sêmele e teve sua gestação completada na coxa do pai. Morto e ressuscitado como Adônis, Mitra, São Jorge, Cristo ou Osíris. Por isso é comparado ao deus egípcio da morte. Um Dioniso primitivo e estrangeiro para ser aceito na Grécia, teve que sofrer modificações, transformando-se em deus dos mistérios e dos ritos secretos de iniciação. Protegia os mortos. Ao chegarem aos domínios de Hades deveriam anunciar a Perséfone que Baco os libertara. De origem obscura, talvez seu culto tenha começado na Macedônia. Isso lembra Alexandre? Pois é... sua mãe Olympia, era uma bacante. Quem me contou foi Caetano Veloso, que por sua língua comprida acabou “pelado por bacantes/num espetáculo”. Quem cantou? Adriana Calcanhoto, e ao entregar o amigo ainda completou: ordem e orgia/no super bacanal/carne e carnaval. Olha só o cara pondo as manguinhas de fora! E eu acreditando na história dele ir somente atrás do trio elétrico. Baco era isso carne e carnaval. Baco é mais que isso, sendo um estado de espírito, presente em nós e fora de nós. O não de Dioniso as normas pré-estabelecidas pode ser considerado como oposição criativa, implicando um movimento em sentido ao não corrente, ao novo na ciência ou na arte. Nietzsche classifica de apolínea ou dionisíaca a produção artística conhecida, mas essas características são percebidas nos seres humanos.
Para uns, Baco é uma carga pesada, uma sombra. Porém, se seu ardor for resfriado pela seriedade apolínea temos a síntese ideal. Jung, ao descrever questões relacionadas à fragmentação psicológica, afirma que na maioria dos casos trata-se do arquétipo de Dioniso e seu confronto com religiões fundamentadas na noção de culpa, pois o sensual e o místico são aspectos fortes no deus da morte. Da vida, eu diria, pois se Baco nos abandona, sua ausência provoca pobreza emocional, falta de sentimentos profundos.
A minha geração ao lançar as bases da contracultura, ao voltar-se para a natureza, ao desencadear uma revolução sexual, ao pregar o descaso pelas instituições, representa a identificação atual com Baco. Isso gerou em nós o desejo pela juventude eterna. Os hippies de cabelos brancos ou os motoqueiros de meia idade são exemplos dessa postura. Só isso para justificar minha presença nesse ciclo de palestras, pois quem vê cara não vê coração, não é Caetano? E não espalha...
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Um comentário:
atualmente quem vê cara vê botox e não coração, querida Rosa. Mais uma aula. Eu deveria ter lido isso antes de ver As bacantes. Tive o privilégio de ver a montagem de Zé Celso Marines Correa no teatro de Arena de Ribeirão e o privilégio mor de ver uma das bacantes sentando nua no colo do então prefeito da cidade, Palocci. Um acinte à Baco. hehehe.
Adoro seus textos.
beijos
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