terça-feira, 23 de setembro de 2008

Vatapá...


"Quem quiser vatapá, ô
Que procure fazer
Primeiro o fubá
Depois o dendê
Procure uma nega baiana, ô
Que saiba mexer
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Amendoim, camarão, rala um coco
Na hora de machucar
Sal com gengibre e cebola, iaiá
Na hora de temperar
Não para de mexer
Que é pra não embolar
Panela no fogo
Não deixa queimar
Com qualquer dez mil reis e uma nega, ô
Se faz um vatapá
Que bom vatapá"


A música é de Dorival Caymmi. O vatapá ao qual me refiro é o da Janira. Vatapá: prato típico da Bahia, com influência africana. Chegou ao Brasil com a feijoada e os escravos. No seu preparo entram, dentre outros ingredientes, o peixe, o camarão, o gengibre, o tomate, o leite de coco, a castanha de caju e camarão seco moídos. Para Caymmi, tem de mexer pra não embolar...
Para quem não sabe, Janira é mãe da Janaina, a menina dos domingos. Ela é minha amiga há muitos anos. Tão diferente de mim. Estranho, não é?
Ela é arrumadinha, cabelo chanel e reflexo retocado todo mês. Preocupada com moda, decoração, design, coisas da profissão. Séria, com fama de intelectual, mas tão mundana. Mesmo assim, tão mãe. Quer dizer, vamos perguntar para os filhos dela, começando pela coleguinha do domingo.
Meio hippie, o dr. Flávio, meu dentista, jura que sou maconheira, não sou. Gosto de velhos abrigos e bermudas cortadas, sem barras, sandálias de plástico. Tenho um vestido indiano de estimação beirando os trinta anos. Ela é colunável, aparece no jornal dia sim, dia não. Eu quero ficar escondidinha no meu canto.
Bom, tudo isso para contar sobre o convite para comer um vatapá na casa dos Bastos. As coisas fervem por lá, dizem. Eu não vi nada disso. Só uma porção de gente ligada à política e a cultura, muito à vontade. Ju Machado e Lu Gonçalves, inclusive. Elas dispensam apresentação, mas como só o Thiago Roque esteve por aqui, vou contar: Ju é a mulher das artes, com galeria e tudo, Lu é produtora, a maior produtora de eventos culturais, que conheço. Costumam chamá-la de menina do dedo verde, pois onde ela põe sua mão a coisa floresce. De acordo com a Janira, no vatapá dela não vai fubá, nem amendoim, então, talvez, sejam licenças poéticas do Caymmi. Eu esperava que oferecessem uma cachaça, porém, a bebida era vinho. Nem me atrevi a pedir cerveja, alguém podia se ofender. Cerveja, sei lá...
Comi vatapá na Bahia e não era nada parecido com a delicia servida naquela noite. De acordo com os anfitriões, a receita foi fornecida há alguns anos pela mulher baiana do poeta Nidoval Reis. Trata-se da verdadeira comida da Bahia, aquela da Dadá e outras cozinheiras famosas, que passaram pelas casas do Antonio Carlos Magalhães e de Jorge Amado. Um maná dos deuses, mesmo. O Jair falou em festa da Babette. O creme de acaçá foi feito pelo Marcelo Garcia, sim, ele mesmo, o paisagista poliglota.
Mas, vamos falar sério. A reunião estava ótima. As entradas sofisticadas, o vatapá e seu complemento, uma delícia, e as sobremesas de acabar com qualquer dieta. Teresa e seu creme com aqueles morangos cobertos de chocolate e o mousse de frutas vermelhas da dona da casa eram de matar qualquer cristão.
Mesmo assim, saí de lá com uma sensação de incompletude. Coisas de Rosa, dirão alguns. Mas, faltaram duas coisas. Cadê o quindim? E decepção maior, cadê a caipirinha? Quando e onde se pode servir comida baiana, tá bom, vatapá, e não dar de beber aos apreciadores de cachaça, como eu, pelo menos uma caipirinha de maracujá, pois limão não tinha. Peixe e camarão foram temperados com vinagre... estou mentindo, Janaina? Busco explicação para o inexplicável. Seria uma homenagem, ao pessoal relacionado à cultura? Em tempos de eleição, tudo é possível... Com a palavra Thiago Roque!

3 comentários:

Camilla Tebet disse...

Ê rOsa, ainda reclamou que não tinha caipirinha.. heheheheheheh. Só a Rosa mesmo.

Janaina Fainer disse...

sem cachaça eu já chapei o cabeção... imagina com!!!!
mas a festa foi bem boa mesma
minha mãe sabe bem dar festa mesmo
e bom ver vc ao vivo
beijos

thiago roque disse...

eu só tenho a declarar o seguinte: pra essas festas, ninguém me convida... hhahahahahah.