segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
O PROFESSOR DE DANÇA
Quando se aproximou e sorriu, dançaram mal. Havia esquecido, fazia tantos anos!
Ele insistiu.
Outra vez!
Sorriu sem jeito e quando acertou o passo simples, sentiu-se tão feliz! Saudade de si mesma...
A aula terminou e ele a acompanhou. Sob a iluminação de mercúrio e diante dos sinaleiros, dançou . Ray Coniff , Os Reis da Salsa, Orquestra Tabajara.
Imaginou que ele partisse quando chegaram em casa. No silêncio, da garagem à porta da frente, percebeu ainda sua presença incômoda.
- Vá!
Não obedeceu, rodopiava, sorria, e ela também.
Abriu a porta, pensou que então ele partisse.
- Vá!
- Não!
De olhos fechados pediu que sumisse. O braço apertado, na cintura, fez com que se calasse.
- Está bem, então entre!
Dois e dois, dois e dois, dois e dois...
...direita, direita, esquerda, esquerda...
... descontraia o rosto, solte o quadril.. dá uma gingadinha...
... dois e dois, dois e dois, direita, direita, esquerda, esquerda...
Sorria na cozinha, no quarto, na fila do banco: direita, direita, esquerda, esquerda...
Tinha um companheiro.
- Estão olhando, fique quieto!
Chá-chá-chá, de la secretáaaaria... Relogio, no marque las horas, gira, segura, vira, direita atrás, volta, passinho com a esquerda e gira...
A mão firme comandava!
Direita, direita, esquerda, esquerda... dá uma gingadinha...
Casada, como soltar o quadril?
- Só um pouquinho, experimente, fica mais fácil, solta! Um pouco, discreto, chic, fica bonito. Está maravilhoso, isso!!!
Escrava, tornara-se escrava... submissa e sorridente se entregava ao braço que surgia aqui e ali: gira, direita, volta, solta, lindo!
- Você aqui às quatro da manhã! Não ouve meu marido respirar?
- Está lindo! Vem! Direita, direita, esquerda, esquerda, entra no vai-e-vem, diagonal, o cruzadinho, outra vez, gira, direita, direita..
Passou a ser natural irem para a cama juntos.
Noite adentro, o marido ao lado e o professor de dança ali, sem medo... Ela também perdeu o medo, e a vergonha, afinal ele era ótimo companheiro e não estavam fazendo nada demais. Quando a casa ficava em silêncio, luzes apagadas ela o chamava.
Há tantos anos não tinha companhia!
Passou a dormir sorridente, ao lado do marido, com o professor de dança.
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3 comentários:
Também quero um professor de dança.
Parabéns!!!!!!
Rosa Bertoldi
Em seu texto sobre o professor de dança e sua aluna, Rosa Leda procura contar os passos dos parceiros, nessa "fórmula química dançante" que integra reações compreensíveis do leitor, formando uma triplicata que envolve o terceiro, desta vez no leito conjugal, lembrando Dona Flor e seus dois maridos. A linha central é tornar a matéria humana mais humana, e se "carnaliza", no imaginário, mais do que no corpo a corpo da dança.Parabéns. Luiz Sérgio de Souza Rizzi
Muito bom seu texto Rosa Leda.
Obrigado pelo seu e-mail. Apareça também nos blogs, sempre tem alguma coisa nova.
Beijão do Zé Carlos
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