segunda-feira, 25 de julho de 2011

Mistério à Beira Mar - IV


- Preciso voltar! Preciso vê-los.
- O que houve, Baptista? Parece-me alterado. Algo deve tê-lo afetado.
- Sim, prezados, reconheço ter-me perturbado. Este dia ameno, encoberto, as árvores tão verdes, a agradável companhia e a sensação de estar no final da vida perturbaram-me mais do que gostaria.
Manteve o silêncio por alguns instantes, em seguida continuou:
- Explico-lhes: fiz parte deste coro, era primeiro tenor. Num encontro de corais conheci Inkeri, uma soprano perfeita que participava de um coro feminino. Nosso enamoramento foi imediato. Em poucos meses estávamos casados. Vivi na Finlândia por trinta anos, tive filhos, envelheci. Com mais de cinquenta anos decidi retornar ao Brasil. Inkeri acompanhou-me, apesar do sofrimento. Lembrar-me daquele período afeta-me bastante.
- Mas voltaram por opção, você sempre poderá voltar, seus filhos vieram também? Talvez possa fazer essa viagem com um dos filhos ou com um neto... Certamente deixou amigos por lá -
Disse afetuosamente Azevedo e colocou o braço nas costas do novo amigo. Podia-se perceber uma intimidade crescente entre eles. Que privilégio o meu, presenciar o nascimento desta amizade!
- Dois filhos estão aqui, no Brasil: Jarvi e Joki. Minha filha Jaakkina ficou lá, está casada com um finlandês. São todos independentes e pouco nos vemos, mesmo com os daqui... há uma distância intransponível após a morte da mãe.
Arrependi-me quase de imediato mas, atrevidamente, já formulara a pergunta:
- O que houve?
Azevedo olhou-me parecendo censurar minha ousadia.
- Atribuem-me a culpa.
- Culpa de quê? Da morte de sua esposa? Por que, o que aconteceu? Azevedo olhou-me novamente agora francamente aborrecido com essa curiosidade.
- Dizem os antigos que não devemos transplantar árvores velhas e, por extensão, nem os velhos devem mudar de lugar. Morrem. Inkeri não se adaptou ao clima tropical. Inversamente do que acontece com a grande maioria, o Sol a deprimia, precisava evitá-lo por problemas na pele, nossa casa vivia fechada. Um dia a encontramos morta.
- Morte natural? – Pela terceira vez Azevedo censurou-me

6 comentários:

Anônimo disse...

Você aguçou minha curiosidade com o Sibelius, pois quase ninguem conhece. Agora está explicado. O cara viveu na região. Você está sendo assessora pela nossa amiga que fez pós doutorado em Helsinque? Não ela não tem essa sensibilidade...A mulher morreu de morte natural? Curiosidade mata gato, mas mata gente, também. Se eu aparecer morta no obituário vai estar lá: Rosa Bertoldi morreu de curiosidade e nem conseguiu mostrar a cara nova!!!!!!!!!!!!!! Bjs

Rosa Leda disse...

Rsssssssssss... A culpa é sua, quem manda não vir me visitar?

Alexandre Henrique disse...

este conto cada dia fica melhor.

Alexandre Henrique disse...

este conto cada dia fica melhor.

Anônimo disse...

Rosa:
Quem é Alexandre Henrique? Sabe que ele também vai acabar me matando de curiosidade........
Bjs
Rosa Bertoldi

Janaina Fainer disse...

Rosa, ele é de um blog q leio e gosto bastante http://cestverite.blogspot.com/ e começou a ler o nosso em retribuição