sábado, 23 de julho de 2011

"Não faça ao próximo aquilo que não quer que façam a você..."

A frase é atribuída a Hillel, sábio judaico, que ao proferi-la completou: isso é a Torá, o restante são comentários. Vá e estude. O judaísmo é uma religião. Dele surgiram o cristianismo e o islamismo. Porém, o judaísmo é uma cultura, uma civilização, um povo unido por ideais comuns. Por incrível que pareça um judeu continua sendo judeu, mesmo não observando nenhum dos preceitos da lei hebraica. O judaísmo é um fenômeno complexo composto de religião, vida social, econômica e política, onde tudo se concentra na esfera de interesse da Halaká, lei que regula essa interconexão abrangendo mais de quatro mil anos e garantindo a continuidade entre história antiga e moderna.
Por quase dois mil anos o povo de Israel viveu espalhado pelo mundo, na diáspora, palavra grega que significa dispersão. Foi a partir dos anos 70, com a destruição do segundo templo pelo imperador romano Tito que essa peregrinação teve início. Parte, dos judeus, ficou na Galiléia, conservando vivo o laço com a terra de Israel, mas a grande maioria se dispersou, procurando manter intacta a própria identidade coletiva. No Oriente, a Babilônia continuou sendo o local preferido dos judeus fora de sua pátria. No Ocidente estavam presentes na região do Mediterrâneo, como Portugal, Espanha e Itália. Existe uma característica comum nas comunidades judaicas: o gueto.
Tratava-se de uma imposição, pois a noite ele era fechado e a entrada guardada. Um dos primeiros guetos foi o de Roma, em 1555, seguido pelo de Veneza e significou uma separação rigorosa entre judeus e as populações ao seu redor. Ali eles deveriam viver e trabalhar, sem que pudessem ser donos de suas casas e obrigados a exibir um sinal que os tornasse reconhecíveis quando se encontravam fora de seu ambiente. Não muito diferente da vida nos guetos era o mundo dos judeus da Europa Oriental, onde viviam em aldeias submetidos aos senhores feudais. Esse grupo falava um dialeto, o iídiche, uma mistura de hebraico e alemão. Nessas comunidades apareceu um movimento designado como hassidismo que se propunha difundir o misticismo do rabino Israel Baal Shem Tov baseado na Cabala e na força religiosa dos justos. Ele dizia que para ser um bom judeu não era necessário ter uma profunda cultura hebraica. Os lideres religiosos se opunham a essa posição alegando que apenas o estudo das leis podia despertar no homem a alegria de viver. Paralelamente, outro movimento, o Haskalá, pregava a assimilação com a cultura ocidental e parte de seus valores. Ao provocar uma crise, o grupo conseguiu resultados importantes, como a formação de uma literatura hebraica moderna, o amor por Sion e a vontade de retornar a Israel. Embora, o racismo sempre tenha feito parte da vida dos judeus, dessa época em diante as posições ficaram mais claras e o racismo mais escancarado. O caso Dreyfus demonstrou o quanto era efêmera a ilusão de emancipação desse povo. Depois, vieram o fascismo, o nazismo, enfim tudo aquilo que vocês sabem até 1947, com o reconhecimento pela ONU do Estado de Israel. Nesse segundo semestre os palestinos pretendem o mesmo. É esperar para ver qual o comportamento dos membros da ONU em relação à justa pretensão dos vizinhos de Israel.

Um comentário:

Rosa Leda disse...

Aula Magna! Obrigada, xará, como sempre seu texto é ótimo.