domingo, 24 de julho de 2011

Ontem morreu Amy Winehouse


O mundo estava tão habituado a ter Amy nos tablóides todos os dias e o dia todo que fiquei sabendo de sua morte pelo telefone quando uma amiga ligou e disse: a Amy morreu. Assim mesmo como se a Amy fosse nosso vizinha de bairro ou ex-colega de academia.
Amy Winehouse surgiu soberada em 2003, aos 21 anos com Frank, seu cd de estréia e se firmou como artista como o lançamento do irretocável Back to Black em 2006. Mas ficou mesmo mais conhecida do grande público por sua notória fama de dar bafão por onde passasse.
Era uma menina de Camden Town com um talento imenso e sem nenhuma direção, sucesso tão jovem logo foi vítima da imprensa mais agressiva e destrutiva do mundo. Há alguns anos, quando estive em Londres, cidade em que os tabloides são distribuídos de graça em duas edições diárias nas ruas, fiquei desconcertada com a quantidade de novidades diárias que eram capazes de produzir sobre a artista.
Enquanto Lily Allen fazia graça saindo semi alcoolizada de um pub em seus sapatos Chanel, Amy era vista comprando crack em Camden Lock. Enquanto Adele passeava no parque comendo um wrap de queijo, Amy visitava seu marido encarcerado. Todas musas, todas inglesas, todas vítimas da imprensa, somente única com uma inata e óbvia incapacidade de lidar com o sucesso, o dinheiro e a invasão constante. De todas, Amy sempre foi a mais perseguida pelos paparazzi e a que mais rendeu dinheiro aos tablóides.
Recentemente li um livro que disseca a indústria da música no mundo contemporâneo, a indústria hoje definitivamente não é mais a mesma de Frank Sinatra ou mesmo a que abraçou os grunges nos anos 90. A indústria de hoje gere e digere carreira, como podemos tão de perto presenciar com a ascensão e queda e reascensão de outra vítima da imprensa que também rende aos tablóides, Ms. Britney Spears.
E porque Ms Spears, mesmo quando todos acreditavam que era seu fim, foi capaz de se reerger e lançar mais um hitmaker e uma turnê esgotada por onde passa, mesmo após bater em um paparazzi, perder a custódia dos filhos, ter um dicórvio escandaloso e ser internada em um sanatório? E por que o mesmo não podia acontecer com Amy?
Porque a contrário de Britney, cercada pela sua gravadora que ainda tem muito interesse em que a artista seja o canal produtor de sucessos e renda, Amy era uma artista. Britney faz o que lhe mandam e Amy sempre fez o que quis. Não que Amy fosse uma santa, mas mesmo tendo problemas pessoais era aquele tipo de artista no sentido mais tradicional da palavra, que sofre, que produz música por necessidade de comunicação, que tem inspiração e transpiração e não para estar nos charts da Billboard. Amy morreu por ser uma artista e uma menina despreparada para lidar com todo o seu talento e o rolo compressor da fama, foi morta pelo seu maior desejo, o de ser musa da música R&B, fazer mágica no soul, fazer história na música e por seu descontrole emocional. Amy Winehouse deixa como legado dois cds incríveis e a vontade no público de ter mais.
Em Janeiro, fiz questão de ver seu show em sua passagem pelo Brasil, mesmo todos dizendo que ela estava por baixo, e não me arrependi. No show, um festival equivocadíssimo e cheio de curiosos, a platéia mais sensível teve a chance de ver uma diva, uma artista frágil e tímida mas de um talento absurdo. E essa é a Amy que vai fazer falta no mundo da música.

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