quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Continuando - 3º

- Não tenho tempo, preciso ir, por favor me ajude.
 
A mulher parecia, mesmo desesperada mas não se pode ser generoso numa hora dessas pois as consequências poderiam ser dramáticas. Colocando uma pashimina na cabeça e ajeitando sua bolsa ao ombro pediu:
 
- Você pode me dar um copo de água?
Só quando ouviu a porta bater compreendeu que fora enganada. A moça usara a artimanha do copo de água para fugir. Ouviu o estrondo de um transformador e a luz apagou. Assustado com o barulho do trovão o bebê se pôs a chorar. E agora? Correr atrás da moça na escuridão e largar o bebê, ou atender ao bebê desejando desesperadamente que a moça volte? Graças à iluminação da rua podia enxergar um pouco. Pegou o bebê no colo. Ele estava enrolado em tantos xales que transpirava, apesar do frio. Só então percebeu que nem sabia se era um menino ou uma menina...
 
Logo o bebê se calou, fora só o susto com o estrondo, mesmo. Largou o corpo na poltrona com as molas tortas, de tecido esgarçado, em que não sentara antes, por nojo, sentia-se sem chão. O que aconteceria agora? Justo quando começava a se sentir livre, independente e parecia estar tomando decisões! Novamente submissa à vontade alheia... e a luz que não voltava... Despertou com as pancadas na porta.
 
- Abra em nome da lei.
- Abra logo!
 
Correu para a porta tendo o cuidado de olhar antes para o bebê que continuava dormindo sossegadamente. O narizinho estava gelado, então jogou a beira do lençol sobre ele.
 
- Pois não, o que houve?
 
- Cale a boca! Quem pergunta somos nós. Onde está a mulher? Sabemos que está aqui.
 
- Não há mulher nenhuma aqui, este quarto é meu.
 
- Ela foi vista entrando aqui. Entrem e examinem o banheiro – disse voltando-se para os dois brutamontes que estavam dois passos atrás.
 
- Por favor, senhor, não há banheiro no quarto, não há nada nem ninguém aqui.
 
- Nada, senhor! Está limpo - disseram os brutamontes ao perceberem que havia só quatro paredes e que não era possível alguém se esconder naquele quadrado.
 
- Voltaremos, não saia da cidade.
 
Bateu a porta com violência e ela, trêmula, não sabia o que pensar. O que estava acontecendo? Era a segunda vez em menos de vinte e quatro horas que ficava sob a mira de arma de fogo e submissa à violência dessa milícia que não tinha certeza se era policial ou não. O que a mãe do bebê aprontara?
 
Tomou um copo de água, espiou o bebê e acabou se enfiando sob as cobertas ao lado dele. Despertou com o bebê balbuciando. Devia estar com fome e molhado. Já eram nove horas. Ao abrir a sacola para pegar a mamadeira levou um susto. Um envelope estava bem à vista. “Caso eu não volte, fique com o bebê. Ele não está registrado, esse documento que está aqui é falso. Para que você fique sossegada ele é meu mesmo, não é roubado nem sequestrado como você poderia pensar. Estou envolvida em mil confusões, talvez você não me veja nunca mais. Melhor não sabermos nossos nomes assim não há risco nenhum. Muito obrigada!”
 
                                                               Continua na próxima semana

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