quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Leu a mensagem mais duas vezes tentando descobrir algo nas entrelinhas. Não podia acreditar que
tivesse caído ridiculamente na armação da moça. Desorientada virou todo o conteúdo da sacola sobre a cama: fraldas, chocalho, uma lata de leite em pó, duas mamadeiras e umas trocas de roupa. Nada mais. Jogou a sacola no chão. Não sabia trocar fralda, nunca trocara antes mas o bebê já estava balbuciando há tempo, logo, logo, começaria a chorar. Abriu a fralda sem certeza de estar do lado certo, encontrou um pacotinho de lenços descartáveis perfumados, tirou o macacãozinho e só então descobriu que estava tomando conta de uma linda menina: rechonchuda, rosada, simpática e quietinha.
Sorriu satisfeita ao ver seu feito. Depois de alguma luta o bebê estava cheiroso e de barriguinha cheia. Agora sim... o que fazer? Lembrando da violência dos soldados, e a forma como a haviam abordado, excluiu a possibilidade de entregar essa criança a eles. Eles procuravam alguma coisa, o que seria? Como ela poderia fugir dali com o bebê? Mas ela queria, realmente, ficar com essa criança desconhecida? Quais os efeitos colaterais de sua decisão? Quem era essa pessoinha?

Pelo registro, que a mãe declarara ser falso, Mariana teria quase sete meses. Que teria acontecido nesses meses todos? De quem a mãe estaria fugindo? E o pai? Colocou o bebê, que já dormira novamente, dentro da sacola, deixou uma frestinha aberta e torceu para que não chorasse. Foi tomar o café da manhã. O restaurante estava vazio, exceto por uma senhora de meia idade, numa mesa de canto. Colocou a sacola com cuidado sobre duas cadeiras e ficou atenta. Percebeu que a mulher olhava constantemente para seu lado. Enquanto ficou concentrada esparramando o requeijão sobre a torrada distraiu-se do ambiente e, ao sentir uma sombra ao seu lado percebeu que era a tal senhora.

- Você está com a criança? Fale olhando para baixo, porque eles podem ler seus lábios.

Ela era bem idosa, com a ponta do pano de seda que cobria seus cabelos também escondia a boca. Olhava sorrateiramente para os lados.

2 comentários:

rosabertoldi@gmail.com disse...

Rosa Leda:
Até quando você vai manter seu público nessa angústia?

Rosa Leda Gabrielli disse...

A pergunta que não quer calar é: há público? Sniff, sniff...