quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Foi a última a sair, sem saber o que faria agora. Haveria um hotel nas imediações? Tem, no outro lado da praça. Daqui não se vê o luminoso por causa das árvores. É o único. Rodou com a mala e as duas sacolas penduradas no ombro, cruzando a praça. Apesar da névoa não parecia haver ameaça, respirava-se tranquilidade por ali. Logo viu o luminoso exagerado. Tinham quarto, sim, era simples, interessava? Tem pia no quarto e banheiro no corredor. Está bom.
- Por quanto tempo?
- Não posso dizer isso hoje, dependo de um telefonema. Amanhã cedo informarei.
 
Tirou a roupa gelada, enrolou-se na toalha, pelo silêncio sentiu que não encontraria ninguém no corredor. O chuveiro moderno contrastava com o azulejo azul, fora de moda. Revigorou-se com a água quente, o sabonete e o shampoo perfumados. Já no quarto percebeu ser impossível se concentrar na trama do romance. Tomar decisões não fazia parte de sua vida, sempre, infalivelmente, os outros decidiam. No escuro seus olhos mantiveram-se abertos.
 
Ouviu um choro de bebê no quarto contíguo, parecia o mesmo berreiro do bebê do ônibus, todas as crianças choram do mesmo jeito. A voz feminina cantava baixinho. A claridade, que entrava pelos vãos da porta e pela soleira, a incomodava. Virou-se para a janela. Dois cobertores parecia pouco. Precisava descansar. Instintivamente dobrou os joelhos, voltou para a posição inicial. Encolheu-se ao perceber que alguém parara em frente à porta. Nenhum ruído, apenas a sombra. O bebê recomeçou o choro irritado e agora era bem ali, na porta. Será que era a mãe? A segunda batida leve, já a encontrou em pé. Receosa perguntou quem era.
- Abra, por favor, preciso de ajuda.
 
Eram a mãe e o bebê do ônibus. A jovem tinha o rosto inchado devia ter chorado muito.
 
- Você fica com o bebê? Preciso sair e está muito frio. É uma emergência. O bebê não vai chorar mas tem outra mamadeira e aqui uma sacola com roupas... Deixe-me entrar um pouco...
- Onde você vai? Está doente? Precisa de um médico? O que há com o bebê?
 
Precisou se controlar para conter a enxurrada de perguntas. Como alguém, que nunca me viu, me entrega um bebê no meio da noite? Seria ela a mãe do bebê? Era uma criança roubada?
 
- Não posso ficar com a criança, não a conheço... A mulher jogou-se aos seus pés murmurando muito baixo algumas palavras que não conseguiu entender. Havia colocado o bebê na cama e, pendurada em suas pernas implorava por ajuda.
 
- Você está viajando sozinha? Por que parou aqui? Conhece alguém desta cidade?
- Me ajude, por favor, me ajude...
- Como você sabia que era eu que estava neste quarto?
- Vi quando chegou, logo depois de mim, escutei o porteiro falar o número do quarto.
- O que você aprontou?
                                     
                                                                      (Continua na próxima semana)

3 comentários:

Camilla disse...

Ai meu deus, e agora? só semana que vem????

rosabertoldi@gmail.com disse...

Por isso eu não esperava... vamos aguardar a próxima semana.

rosabertoldi@gmail.com disse...

E como assim quer o Baptista, eu sou ciumenta e não dou, nem vendo, nem empresto o homem! Bom, eu reconheço que se você quiser pode tirar ele de mim...