sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

PERDA INESTIMÁVEL

Em 30 de novembro de 2013 morreu um grande homem: Dom Waldyr Calheiros de Novaes, alagoano de Murici, nascido em 29 de lulho de 1923. Foi bispo da diocese da Barra do Piraí e Volta Redonda (RJ). Nesta última cidade localizava-se a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), onde imperava o trabalhismo organizado. Em 1988, em pleno período considerado de retorno do país à democracia, contrariando essa situação, com o fito de desbaratar uma greve que ocorria na CSN, o exército invadiu a fábrica e da violência resultaram a morte de três operários e ferimentos em muitos outros.
Num dia chuvoso, na praça de Volta Redonda, dom Waldir e quatro outro bispos  em cima de um caminhão e assistida por milhares de trabalhadores, rezaram a missa de sétimo dia dos operários falecidos e, segundo Kenneth Serbin, “pendendo de uma grande cruz, as roupas ensanguentadas dos três trabalhadores morto se erguia como testemunha da violência do sistema político no Brasil.”
Há muito tempo que dom Waldyr litigava com os militares pela injusta prática da censura ou da tortura àqueles que não concordavam com o regime instalado. Serbin relaciona casos em que, além de defender os direitos dos trabalhadores na greve sangrenta,  dom Waldyr  resistiu “ao militarismo e seus efeitos dolorosos sobre a sociedade brasileira” , defendendo sua posição com firmeza.
 Segundo esse autor, “dom Waldir entrou pela primeira vez em conflito com as autoridades em 1967, quando soldados invadiram sua casa para prender um grupo de padres e leigos acusados de subversão. Ele criticou o oficial encarregado da investigação, um tenente-coronel do Primeiro Batalhão de Infantaria Blindada de Barra Mansa (1º BIB), por concentrar-se na luta contra a subversão ao mesmo tempo em que a política do regime era manter  os salários dos trabalhadores muito baixos. Em 1969, declarou-se prisioneiro do 1º BIB, um ato de protesto contra a detenção de dois professores suspeitos de subversão.”
Dom Waldir e dezessete padres denunciaram a prática de tortura naquele batalhão, sendo por isso interrogado durante 25 horas. “Depois de quatro soldados serem torturados até a morte no 1º BIB, em janeiro de   1971, ele reportou as atrocidades para bispos colegas que participaram da ultrassecreta Comissão Bipartite, criada com o fim de amainar a relação cada vez mais tensa entre Igreja e Estado”, escreveu Serbin. Depois de muita insistência, comandos militares reconheceram que torturas foram feitas contra subordinados.
Seu falecimento fica ligado a sua ação que somente engrandece o papel da Igreja Católica na luta pelos direitos humanos. Espero que esses episódios, para que não se repitam, sejam inseridos nos currículos escolares.

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