segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Cuidei de meu neto e quase esqueci de postar... Em todo caso, ainda não é meia noite e meu compromisso está sendo honrado.


Observou o carro com insulfilme escuro.
Sentia-se fraco mas procurava se esconder indo de um ponto ao próximo objetivo como vira tantas vezes em filmes de guerra.
Ao longe uma grade retorcida, devia ser o portão. Caminhou célere em sua direção. Acabara de vencer o último espaço sempre se escondendo atrás de árvores e lápides quando viu o automóvel preto chegar. O homem que saiu dele voltou-se para seu lado e disse:
- O que pretende? Ninguém sai daqui antes de falar comigo.
Manteve-se quieto, afinal o homem poderia não estar falando com ele mas, em seguida, perdeu a ilusão pois o homem falou mais alto:
- Josué, venha cá. De nada adianta ficar aí encolhido. Enfrente a realidade, chegou sua hora.
Hora do quê? Tremia a ponto de ouvir seus dentes batendo e sentia um medo danado mas, sem dúvida, o sujeito queria falar com ele. Levaria um tiro logo que saísse de trás de sua proteção? Quantas pessoas mais haveria no carro? Deveria tentar fugir?
- Nem pense em fugir, Josué. Não há escapatória.
- O que eu fiz? Onde estou? Quem são vocês? Por que devo falar com você antes de sair daqui? Que lugar é este?
- Eu faço as perguntas – disse o homem - você responde. Começo inquirindo: por que saiu de lá?
- Saí de onde? Se você está falando daquele buraco onde me trancaram, a pergunta não tem cabimento... qualquer um tentaria escapar.
- Na sua situação todos têm que ficar lá.
O homem parecia de poucas palavras e havia tal autoridade e solenidade na forma como se expressava que sentiu-se constrangido de falar mais, de insistir na pergunta. Instintivamente baixou a cabeça como se alguma força a empurrasse para a frente. A parte de trás do pescoço tinha a pele muito esticada, fechou os olhos e por sua mente passaram, com a rapidez de um raio, milhares de cenas de sua vida. Agora lembrava de tudo!
- Entendeu por que? perguntou o juiz. Agora o identificava como tal.
- Estou morto? É isto a morte?
- Não, isto é um presente, uma degustação da vida eterna... Pouquíssimos o recebem.
- ...mas estou vivo ou morto? Que raio de presente mais assustador é este? Você é Deus?
Pela primeira vez assomou um sorriso à face séria do homem.- Isto é uma degustação. Aprecie, não pergunte.

Nenhum comentário: