terça-feira, 26 de agosto de 2008

O vagabundo...iluminado, dedicado ao meu iluminado amigo Ricardo...

Pós-modernidade é o termo usado para classificar a cultura pós-segunda guerra. Enquanto no Brasil viviam-se os anos dourados e nos Estados Unidos afirmava-se o american way of life, um grupo de jovens silenciosamente iniciava a desconstrução da modernidade. A arte enfatizando a técnica pela técnica foi colocada de lado. Abriram-se as portas da poesia para tudo que era considerado não poético. Foram resgatados os mitos indígenas e recuperada a poesia oral. 1955: o ano em que o movimento beat começou. Era o recital Six Gallery fundindo jazz e poesia. Vocês não estão entendendo nada não é? Culpa do Walter Salles. Eu li em algum lugar que ele vai filmar On the road, de Jack Kerouac.
Pé na estrada vai ser transformado em filme. O livro publicado em 1957 tornou-se um sucesso instantâneo, após sete anos perambulando de editora em editora. Kerouac foi apresentado ao público como o ícone beat. Papel que não conseguiu representar devido a sua amargura pelos anos de rejeição.
Pé na estrada é o relato de suas aventuras quando abandonou a Universidade de Columbia para viajar pelos Estados Unidos. Ele estava acompanhado de Neal Cassady e daqueles que ficaram conhecidos como a geração beatnik. Nessa época, escreveu textos de formas livres considerados até hoje como seus melhores trabalhos. Ele, Ginsberg, Burroughs, Snyder tornaram-se conhecidos da noite para o dia pregando a retomada da tradição visionária e dionisíaca. Despertaram o interesse de seus contemporâneos para poetas como Rimbaud, Blake e Whitman dentre outros.
Kerouac explicava seu método de composição tomando como base a improvisação do bebop. Podem pensar em bossa nova... A influência vem daí. A presença beatnik é muito forte na nossa literatura em geral e na teatral em particular.
A imprensa designou Kerouac de o vagabundo iluminado, embora o termo fosse uma apropriação. O dalai lama Patrul Rinpoche (1808-1887) mestre errante do século XIX, amado por seu povo tornou-se conhecido no mundo todo como tal. Por que? O lama abandonou seu mosteiro no Tibet. Passou a percorrer o país dando conselhos e sendo tratado pelo povo como um vagabundo praticante do budismo.
É provável que a mídia americana tenha feito uma aproximação entre Rinpoche e Kerouac quando adotou o termo, pois ele havia atravessado o país de leste a oeste e também porque a tradição budista havia sido retomada por alguns membros do grupo e pelos hippies. Essa geração, além da meditação e de uma postura anti-bélica discutiu problemas mais amplos como liberdade, democracia, guerras, colonialismo, racismo, destruição ambiental, feminismo e homossexualismo. Nem só de passeatas, sexo, maconha, rock and roll e queima de soutiens viveram esses jovens. Esse período de contradições no panorama internacional preparou o terreno para as manifestações da contracultura que floresceram nas décadas de 60 e 70. Pensando nisso dei de presente ao meu amigo Ricardo, o livro O Vagabundo Iluminado, de Kerouac. Agüentei muita gozação na noite de Natal.
Mas, está aí o Waltinho para provar que o modo de vida dessa nova geração é fruto da luta sustentada por esses vagabundos iluminados...

4 comentários:

Camilla Tebet disse...

P* texto. Li On the road... e tentei entender mesmo os beats.. NAda! Vc ajudou, mas ainda sou presa à estética, mesmo que seja a não-estética (que acaba na mesma). Ando lendo uma "maldita" e me apixonando por ela, Hilda Hilst. Show de bola.
Bjos

Rosa Bertoldi disse...

Camila:
Tenta ler a Dorothy Parker, também. Outra maldita, que acredito vc vai gostar. Vou publicar uma tradução de um texto dela na próxima semana para vc.
Usei esse texto sem tradução em uma colagem que fiz a algum tempo atrás.
Bjs e obrigada pela força, não está sendo fácil competir com vcs.
Rosa II

Janaina Fainer disse...

nossa que loucura, dorothy parker é minha musa máxima (assim como a anais nin)... ninguém foi feliz, sofreu, amou e quebrou a cara como Mrs Parker. Já viram o filme?
beijos

Camilla Tebet disse...

Querida Rosa, tem competição não! Sei que é força de expressão... mas tás dando um banho na meninada... hehehehehe. Sério, adoro seus textos, me interesso, aprendo... Ansiosa pela próxima terça e coloco agora mesmo Dorothy Parker na lista dos "MUST READ". Tá grande a lista, tá faltando tempo.. mas amanhã falo sobre isso.