sábado, 7 de março de 2009

Cana Doce... Santo Amaro

Amaro/amargo/amaretto/Santo Amaro da Purificação, onde se cultiva a mais doce cana e conseqüentemente se fabrica a melhor aguardente. Cidade protegida por São Mauro, terra natal de dona Edith do prato e de Caetano Veloso, poeta enorme, enorme... Alguns vão torcer o nariz, afinal ele é popular demais. Mas isso é divino, maravilhoso.
Sem me preocupar com a sensibilidade alheia continuo sonhando colorido e lendo o livro Caetano Veloso só letras. São os poemas do compositor baiano. Como podem ser de uma simplicidade extrema e ao mesmo tempo de uma grande sofisticação formal? Contraditório? Sim... como dois e dois são cinco. Li em algum lugar sua confissão: minha obra é auto-biográfica mesmo quando não é. Faço minha a declaração, pois meu trabalho também é auto biográfico, mesmo quando não é. Tudo vai acontecendo fora da ordem como canta o poeta. Gosto de música. Algumas vezes ouço até clássicos, os prediletos são Ravel e Mahler. Mas no meu carro só entra CD do Caetano. Martírio para alguns, alegria para outros. Trata-se de doença e a questão será resolvida em divã de psicanalista com Prozac e tudo mais. A mania é conhecida, até a Liliane quando chego no Alex para almoçar, olha e diz: vou colocar seu dvd predileto.
Eu não sou a única fã do compositor. A artista plástica das colagens adora o moço. Envia recadinhos para ele sempre que pode. Alguém liga da Itália contando que vai assistir a um show do cantor. Ela manda um abraço. Depois ainda telefona para saber detalhes. A filha avisa: vou ao Canecão... adivinha no show de quem? Ah... dá aquele abraço nele. Ela leu o livro? Não, eu espero. Ela tem a vantagem de conhecer gente espalhada por este mundão afora. De Amsterdã à Salvador, não é Mauricio? Eu soube de sua passagem por Bauru e do encontro quase secreto na casa da sua amiga. Estiveram lá: o Jair, o Marcelo, a Luciana, o Sergio e a Janira. Quando ela estudou em Paris tornou-se intima do pintor Cícero Dias, dizem até que foi hóspede dele por um tempo... A Roseane Andrelo que está na Sorbonne/Université Paris III pode confirmar até onde vai a influência da mulher: a Martini, amiga da Marie Jeanne, por sua vez amiga da amiga bauruense convidou-a para jantar em Paris e tinha até caipirinha! Eu mal conheço os meus vizinhos. Puxa, parece inveja, eu juro que não. Até gostei daquelas colagens com vacas e bois pastando numa praça de Buenos Aires, aquelas carnes penduradas... Qual era a mensagem? Seria um protesto contra o aumento do sagrado bife de cada dia? Ao ler esse texto ela vai rir e dizer: você não entende nada, mesmo.
Voltando ao assunto: Natal, Ano Novo, Carnaval, Dia das Mães... ele chega empacotado em belas embalagens. Mesmo não sendo uma surpresa é sempre o melhor presente. Melhor até que sandália ou camiseta Herchcovitch. O Alê, como diz minha filha, deve ter complexo de superioridade, pois a etiqueta mede mais de um palmo. Eu me pergunto por que? Não é pra ficar escondida? Mas, tanto a camiseta quanto a etiqueta são maravilhosas, pontos para ele.
Como eu tenho dois filhos, às vezes, acontece um bis... do CD, não da camiseta. Acabo fazendo uma troca... não da camiseta, do CD... por outro do Caetano. O compositor urbano, menino brilhante cumprindo os ditames do pós-modernismo, olha e reflete o próprio ambiente. Na década de 70 isso se tornou perigoso. O Estado Nacional insistiu em afirmar o seu poder.Quarta-feira de cinzas no país. Caetano gritou: é proibido proibir e acabou levando seu coração vagabundo para London, London. Lá caminhou contra o vento, sem lenço e sem documento, assistindo os primeiros videoclipes por antena parabólica, sonhando com a liberdade de expressão e seu retorno ao país.
Quando voltou aos areais e estrelas de Abaeté casou-se com a Paulinha e tornou-se o dono do carnaval da Bahia, pois atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. Também, deu boas vindas aos novos filhos cantando a beleza da vida e da natureza. A crônica é uma brincadeira. Nela estão citadas frases e palavras do compositor, mas é tudo verdade, e o livro, bem o livro... é uma jóia rara.

Um comentário:

Anônimo disse...

Rosa, magnífico, lindo. Caetano é poeta, e dos bons.
"Ser poeta é ser geníaco
Sensibilante ao ouvir
As magnificências; e
Unificar concretir
Na visão imaginária
Formar, criar, colorir"

É forte como um penedo!