sábado, 28 de março de 2009

O SONHO DE MALLARMÉ

Não sei como me lembrei de um livro inacabado de Mallarmé. Na verdade foi uma superposição de fragmentos, elos e palavras-chaves que me levou a ele. Primeiro um filme de Woody Allen e a imagem congelada de uma gestante chorando diante de um quadro de Klimt. A tela “Esperança” mostrando uma mulher grávida em um fundo coberto de figuras monstruosas. Em seguida um amigo apresentando-me a um novo autor. Ao ler a poesia de Lito Albanês fiz o seguinte comentário: “é preciso fazer-se vidente.” A frase de Rimbaud levou-me ao simbolismo, um movimento do final do século XIX espremido entre um turbilhão de acontecimentos, tais como: impressionismo, pós-impressionismo e art nouveau. As figuras notáveis de Lautréamont, Van Gogh, Gauguin, Cézanne, Valéry e Mallarmé, o poeta maior do simbolismo, compartilhando aquele momento.
Ao relacionar objetos distantes, a estética simbolista fez a interação entre imagem interior e exterior e as fronteiras entre o mundo onírico e a realidade se tornaram indistintas. Os simbolistas realizaram um discurso indireto, do qual se percebe traços em Baudelaire. A maioria deles permaneceu afastada da sociedade. Mallarmé dizia que um grupo social onde o poeta não tem lugar não deve ser considerado. De vez em quando mandava um poema para o mundo lembrar-se de sua existência. A magia de sua linguagem continua a emocionar e exercer um poder de sonho sobre a sensibilidade contemporânea.
Tudo isso para dizer que Mallarmé era simbolista? Não. É para contar como ele imaginou um livro integral onde a poesia ficava em estado latente. A partir de um pequeno número de células-base, o autor realizaria milhares de possibilidades combinatórias. Essa era sua descrição para a obra le livre a venir/ o livro do futuro: um texto não linear, um livro com características diferentes das conhecidas. Na ocasião muitos pensaram tratar-se de um sonho místico de um escritor delirante. Ele imaginou um texto móvel obedecendo a uma ordem fixa permutando em todas as direções. No prefácio explicou: “lançar os olhos para as primeiras palavras do Poema, a fim de que as seguintes dispostas como estão os encaminhem às últimas. Os brancos assumem importância, como o silêncio em derredor, até o ponto em que um fragmento ocupe, no centro, o terço mais ou menos da página...”
Atualmente o livro poderia ser realizado através das novas tecnologias, pois elas dariam ao poeta a possibilidade da experimentação, da representação do movimento, do simultâneo e do instantâneo. Mallarmé ao conceber “Um lance de dados” viu... um hipertexto. A idéia do hipertexto é aproveitar a arquitetura não linear das memórias do computador para viabilizar uma escritura tridimensional dotada de uma disposição manipulável de forma interativa. Para leigos, isso significa abrir janelinhas ou links clicando palavras no original. Pensei... um fim de século leva a outro. Um jogo de espelhos ou vidência? Poetas têm o dom da vidência, dizia Rimbaud. O que é um vidente, afinal? Pessoa com a faculdade de visão sobrenatural de cenas futuras, aquela que profetiza. Quem possui essa habilidade está revestida de qualidades especiais. No caso, nosso poeta teve o dom de criar e se fazer vidente ao mergulhar em idéias inomináveis, inventadas, imaginadas... Pensei em Leonardo de Vinci e na quantidade de objetos que ele elaborou. Esse vidente esteve muito perto de encontrar soluções. Pensei em Dédalo, Descartes, Cyrano de Bergerac, Julio Verne, todos sonhando “com um homem alado”. Pensei em Mallarmé e como o computador converteu seu sonho em realidade. Hoje o hipertexto está sendo usado para produzir literatura criativa graças a visionários com eles.

4 comentários:

Anônimo disse...

Rosa, que maravilha de texto; que reconhecimento luminoso. Belo lance de dados.

Barthes perguntou: "Bouvard e Pécuchet não é um pouco, da parte de Flaubert, a mesma tentativa, embora invertida, do Livre à Venir de Mallarmé? Flaubert quer que, depois de Bouvard e Pécuchet ninguém mais ouse escrever. Mallarmé aspira a fazer o livro que contenha todos os livros possíveis". À mallarmaica "crise do verso" correspondia, sem dúvida, uma crise maior, da linguagem, que a prosa-limite do segundo tomo patenteia. Dela defluiria também a prosa-sem-estória de Gertrude Stein, confessadamente influenciada por Flaubert ("Tudo o que fiz foi influenciado por Flaubert e Cezanne"). A escrita não representativa. O presente contínuo. A linguagem redundante. Uma rosa é uma rosa é uma rosa." A.Campos.

De fato, "o propósito do mundo é um livro".

Anônimo disse...

Sem mais: adorei o teu texto.

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