a dieta era rígida: pão-que-o-diabo-amassou, água do boteco da esquina e preces à vontade - aproveita e enche o prato fundo.
fazia isso para manter o corpo em forma.
não tinha instrutor nem frequentava templos acadêmicos da (mal)dita boa forma. muito menos comprava revista de gente marombada, autoajuda anabolizante e vazia.
se cuidava sozinho. autodidata.
no dia das compras, entre a imensidão do mar de angústias, à escolha como que expostas em prateleira de supermercado, sempre surgia uma nova dor.
lançamento. promoção. leve quatro, pague três. oferta especial para o cliente.
pegava aquela que mais salivava a boca. escondia embaixo da camiseta e corria. maratonista do destino.
a roupa era de missa. os domingos, de sargeta.
as vontades, aeróbicas, se alternavam, iam e viam feito putas na passarela, desfilando libidos, oferecendo falsos prazeres.
os desejos, artigos de luxo, trancavam-se feitos obra de arte. obedeça o horário de visitação, por favor.
sonhos? deuses romanos presentes só nos livros de história - e ele não sabe ler a nova ortografia.
sol a pino, chuva ladeira abaixo, piada repetida.
só abandonava a rotina bulímica em noites de lua de brilho cósmico.
nesses dias, entre ofensas, maldições, lágrimas e pesares, sorria - com cara de bobo, até.
mas de lado, rápido, curtinho... tinha vergonha.
tinha medo de se acostumar a ser feliz.
e felicidade, como todos sabem, não combina com roupa de missa.
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