sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

NASCIMENTOS E INCOMPRENSÃO



O governador de província de São Paulo, Morgado de Matheus, em 1769, designou o sargento-mor Theotônio José Juzarte, para conduzir uma expedição  até  atingir Iguatemi, em Goiás, onde existia o Forte e Presídio de Nossa Senhora dos Prazeres.  Ali tinha por missão substituir  a guarda desse forte e alojar naquela  região, povoadores com o propósito de consolidar a presença brasileira naquela área, que vivia em turbulência com vizinhos sul-americanos. Theotônio se incumbiu por recomendação do Morgado, de elaborar um diário que serviria de informações para futuros navegantes àquela região, quando usassem os rios Tietê, Paraná e Iguatemi.
Partiram de Araritaguaba (atual Porto Feliz), às margens do Rio Tietê. O visconde de Taunay no livro “Diário de Navegação”, elaborado pela Unicamp informou que  “a 13 de abril desse ano, ... é que partiu de
Porto Feliz a grande monção, com trinta e seis grandes embarcações em que se aboletavam quase oitocentas pessoas, das quais setecentas e tantas ‘povoadoras’ com homens, mulheres, rapazes e crianças de todas as idades, trinta soldados de linha, gente de mareação e equipagem”.
No dia 20 de abril, registra o diário: “... depois passamos por uma cachoeira chamada Putunduva que quer dizer em Português onde a vista se faz escura, é muito perigosa, e medonha esta cachoeira, se metem as embarcações por ela com gente dentro a Deus e à ventura, daí, mais abaixo passamos pela cachoeira de Ibauru-guassu (g.n.) e foi preciso saltar gente em terra, aliviar as embarcações de alguma carga para poderem passar por cima das Pedras, e a gente, e carga abrindo-se picada pelo mato para ir sair abaixo da dita cachoeira, sofrendo muito trabalho e incômodo, carregando-se doentes sofrendo-se muitas mordidelas de mosquitos, e Bernes na passagem pelo mato: embarcamos outra vez, e daí mais abaixo passamos a cachoeira de Ibauru-mirim (g.n.), esta se passou pela sua madre indo tudo embarcado, e daí fomos seguindo viagem...” Na língua tupi-guarani Ibauru significa águas tortuosas, correnteza. Nas imediações dessas cachoeiras desaguava o Rio Bauru, sugerindo que ela emprestou seu nome para o rio e este para o  Município criado em 1896.
No primeiro dia, depois de muito navegar, surgiu a primeira cachoeira, Abaramanduaba; depois outra, Piraporá. Vencidas no final da tarde, embicadas as canoas nas margens do rio, abriu-se uma clareira para alojar o pessoal, lugar comum a se repetir  nas noites seguintes: matança de jacarés e cobras corais, ladainhas entoadas à Nossa Senhora e rezas ao santo protetor. Dourados e pintados apressados e comidos, veados pardos abatidos para servir nas refeições.
Cachoeiras, correntezas e saltos seriam vencidos nos dias seguintes. Haveria transporte de carga por terra, para que as canoas pudessem sobrepujá-los... um cenário redundante numa longa jornada desenrolada no século 18. No trajeto, contato com carrapatos que feriam a pele dos viajantes, doenças grassando, alguns perecendo no percurso.
E a viagem, com todas as dificuldades que a época ensejava, prosseguiu e   chegou às barras dos rios Capivari e Sorocaba, remos avançando no rio indomável e ficaram para trás o ribeirão Icoacatu e a barra do rio Piracicaba.

3 comentários:

rosabertoldi@gmail.com disse...

Fernando Azevedo:
Parabéns pela lição de história de Bauru. Rosa Bertoldi

Janaina disse...

Fernando,
estou adorando sua participação no blog
bj bj

Janaina disse...

Fernando,
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