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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

E então ela tomou um ônibus.
Não queria ir para determinado lugar, só queria ir. Na rodoviária entrou numa fila, ficou olhando, na tabela atrás do atendente, os nomes das cidades. Não lhe diziam nada, então olhou os preços e resolveu comprar uma passagem de setenta e oito reais.
Jogou-se na poltrona e quando o motorista deu partida ela sentiu uma enorme felicidade. Ninguém sentara ao seu lado, poderia se esparramar. Fechou a cortininha e percebeu que tomara a decisão certa e sem vacilar. Bom sinal, estava ficando decidida.
Queria  fumar. Será que no banheiro havia sensores? Um saco essa história, essa guerra contra os fumantes, cada um opta por sua vida, faz de sua saúde o que quiser. Caminhou para o banheiro e acendeu o cigarro sentindo a boca do estomago. Não aconteceu nada. Inspirou sofregamente a fumaça. Tinha sido uma boa fazer o curso de perfumaria, o spray na bolsa foi aspergido para disfarçar o cigarro. A mulher que passou por ela no corredor seria o tira-teima, se sentisse o cheiro do fumo iria denunciá-la? A mulher voltou, passou  por ela sem olhar. Beleza!
Pela fresta da cortina espiava o poente. Lindo.
Acordou com as vozes alteradas. As luzes estavam acesas, mexeu na cortininha, noite ainda.
- Não interessa, todos têm que sair! Vamos lá, pessoal, não enrolem, têm que sair.
Levantavam-se preguiçosos, alguns agitados querendo argumentar e o policial com a arma erguida – ainda bem,  não apontava para ninguém – só parecia se exibir: “sou a autoridade!” olhando-os de cima a baixo.
- Vamo logo, vamo logo!
O berreiro da criança deixando a todos mais alertas ainda. Sem explicação, sem justificativa... ou ele teria dito algo antes que ela acordasse?
Fazia frio, nenhuma luz à vista, nada de estrelas, nem luar ou nuvens. No meio do nada sem saber por quê.
Um policial de cada lado, armas em riste, guardavam o grupo. Ninguém falava. Ainda bem que a criança calara a boca. Viu-a sugando uma mamadeira. Mãe providencial. Dois outros policiais socavam os bancos, davam chutes nos assentos, cutucavam sacolas. Dois ou três volumes foram jogados para fora do ônibus. Do degrau a autoridade pediu que os donos se aproximassem.
- Abram!
Com a boca do fuzil remexeu nas coisas que se esparramaram pela terra.
- Podem subir. Devagar e calados!
A criança dormia. Ajudaram a mãe a subir, outros, de joelhos, procuravam quinquilharias na poeira para voltarem às sacolas violentadas.
- O que aconteceu? Ela criou coragem de perguntar baixinho ao vizinho da frente, quando a porta foi fechada e já não mais havia risco. Não sabia, estava dormindo.
Com o ônibus em movimento foi até o motorista. Havia recebido sinal para parar. Parara, eles entraram e o resto ela sabia.
Chegaram à cidade no meio da madrugada.
                                                   (Continua na próxima semana)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Pílulas 6

Vamos que vamos lá...

Às escuras
No primeiro dia do ano de 2014, tentei ir ao cinema. A ideia, a princípio, era assistir ao filme "Álbum de Família" - o que acabei fazendo no dia 3 de janeiro. Mas, ao chegar ao cinema, fui informado de que não haveria a sessão do longa protagonizado por Julia Roberts e Meryl Streep. Resultado: comprei o ingresso para assistir ao filme "Eu Não Faço a Menor Ideia do que Tô Fazendo com a Minha Vida", dirigido por Matheus Souza, que fez uma bela estreia com "Apenas o Fim", o último filme "ohhhhhhhhhh que fofo" do cinema nacional... Bom, comprei um copo de refrigerante e um chocolate (não gosto de comer pipoca no cinema... o motivo? Bom, quem compra pipoca, geralmente, a come toda antes de o filme começar... e, depois, passa o restante do filme tentando tirar a pipoca que grudou nos dentes do fundo...), as propagandas e os trailers começaram e... fim, a luz acabou. Definitivamente, não era para eu ter saído de casa aquele dia. Era a última sessão... e encarei o cinema como uma maneira de fazer algo útil no primeiro dia de 2014, quando fui dormir às 8h e acordei às 20h...

Cadê o amor?
Gostei tanto da série "Do Amor", que comentei na semana passada, que assisti a todos os episódios que estavam disponíveis no mundo maravilhoso da internet. Resultado: agora eu tenho de esperar uma semana para assistir ao episódio inédito, uma vez que "alcancei" a temporada que está sendo exibida por uma emissora da TV a cabo. Isso, confesso, é tão ruim quanto ficar órfão de um programa, especialmente série, quando ele acaba... 

Fila
Uma das coisas mais curiosas de São Paulo, uma cidade fissurada por fila, são as histórias que surgem justamente nas filas. Estava eu, no Sesc Belenzinho, na fila de um show do Zeca Baleiro, para tentar conseguir um ingresso (dica: se um show no Sesc teve os ingressos esgotados, vá à unidade do dia do show e entre na fila de espera... sempre rolam convites!!!)... Eis que, de repente, um amigo começa a conversar com uma mulher que estava vendendo um ingresso. Começamos a conversar com ela, que comentou que era deficiente (havia feito transplante de medula ou algo do gênero) e que a filha havia preferido ir à praia a ir ao show do Zeca Baleiro com ela. Eu comprei o convite e me sentei ao lado dela, na primeira fila do teatro. Uma mulher com uma história de vida incrível. Tem quase 40 anos, quatro filhos (sendo uma adotada que é homossexual), faz pós em história da arte, deu aula de filosofia em uma escola evangélica particular - foi demitida do local, em novembro, ao, sem querer, mostrar a tatuagem de cinta-linga na coxa direita ao vestir um vestido em uma festa da escola. No meio do show, ela travou um estranho diálogo com Zeca Baleiro sobre educação, arte, dinheiro e felicidade...

Tudo azul
Assisti ao fantástico "Azul É a Cor Mais Quente" no domingo. Cinema lotado. Consegui ingressos - eu e mais uma amiga e um amigo -, porque cheguei cedo ao cinema. Com três horas de duração, o filme mostra o descobrir da sexualidade de uma adolescente de 15 anos. A garota, que já havia transado com homens, se apaixona por uma artista plástica, novinha também, de cabelos azuis e uma personalidade bem peculiar... Sim, sim, o filme tem cenas tórridas de sexo entre as duas. Sim, sim, o filme, talvez, não seja "para toda a família". Sim, sim, o filme provavelmente sofrerá cortes ao ser exibido na TV aberta. E, apesar de tudo isso, precisa ser visto, (re)discutido, apreciado... Em resumo: assista!!!

Quatro horas
Matei a saudade que estava da ciclofaixa. Havia cerca de 20 dias que não pedalava. A ideia, a princípio, era pedalar somente duas horas, do início da avenida Paulista até a avenida Brigadeiro Luís Antônio. De lá, desceria até o parque Ibirapuera e depois iria para casa. Mas essa decisão caiu por terra a partir do momento em que troquei o eletrônico, que tocava no meu celular, para o axé (ah, o Carnaval!!!). Resultado: pedalei por quase quatro horas, ao som de Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Banda Eva, Gilberto Gil e Caetano Veloso... Volto a dizer: o Carnaval está chegando!!!

É isso!

sábado, 4 de janeiro de 2014

Isso que dá ficar em casa

Pessoal, nesses dias chatos de festas ( eu acho terrível) nada melhor do que ler e assistir filmes. Separei aqui um livro novo e um filme de 2003 ...

Narradores de Javé, 2003, Eliane Caffé.

 O filme se passa no sertão nordestino, no Vale do Javé.  A cidade está prestes a ser inundada pela construção de uma hidrelétrica. O representante da população conta que só poderiam evitar a desgraça se a cidade pudesse ser tombada pelo Patrimônio Histórico. Para isso precisariam escrever um dossiê “cientifico” das histórias mais importantes da cidade.
A vila só tem analfabetos. Recorrem então ao antigo carteiro, o odiado Antonio Biá. O ex responsável pela agencia de Correios é odiado por ter escrito cartas com fofocas sobre os moradores e enviado à Javé e outras cidades. Tudo isso para manter o movimento dos Correios e não perder seu emprego. Como forma de se redimir com o povo de Javé, ele aceita a tarefa.  
Começa então uma tragicomédia com atuações engraçadíssimas de  José Dumont, Nelson Xavier, Matheus Nachtergaele e Nelson Dantas.   Entre a história oral e a oficial surge uma rivalidade que conta as tradições e culturas da cidade. Os personagens, moradores da cidade, contam com pluralidade fatos fantásticos e lendários que confundem ainda mais Biá. 
Bem, não vou contar o fim, mas baseado na narração, o filme mostra o serão nordestino sem dar ênfase na seca, miséria e sofrimento. É um filme bem humorado. Dá uma voz quase inédita a nordestinos ricos de histórias.


Fim, Fernanda Torres, Cia das Letras.

Confesso que estava reticente na compra desse livro. Adoro a atriz, mas sempre fico com o pé atrás quanto à  qualidade da arte dos multimídias. Poi,s o livro me surpreendeu. E muito.
No seu primeiro livro, ela narra a história de cinco amigos cariocas, que se conhecem na praia ainda jovens, vivem o desbunde dos anos 60 juntos. Álvaro, Silvio, Ribeiro, Neto e Ciro, são completamente diferentes um dos outros. Mas a riqueza dos personagens atravessa décadas de casamento, separação e velhice.
Cada capítulo leva o nome de um personagem  – das esposas e de personagens afins – e conta sua história, que acaba se misturando com a história do outro.
A prosa de Fernanda Torres é madura e seu humor é adulto,sem cafonice. O enredo é ótimo e os personagens ricos, mas o que mais me impressionou foram as técnicas narrativas que ela utiliza. O livro é tão corrente, tão bem escrito, que suas 201 páginas podem ser lidas de uma só vez.

Uma prova de que multimídias podem se expressar artisticamente de diversas maneiras, tão boas quanto. Para ser honesta estou esperando o próximo livro dela. 

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Pílulas 5

Então, vamos lá...

É o amor
Escrevo esta mensagem infinitamente emocionado com a qualidade da série "Do Amor", exibida pelo canal Multishow (mas que eu tenho assistido pelo mundo maravilhoso - e algumas vezes preguiçoso - da internet). Idealizado pela atriz (talentosa e linda) Maria Flor, o programa tem como protagonista a artista Lulu, interpretada por Maria Flor, que vive intensas e emocionantes histórias de amor. Se, na primeira temporada, vemos como começa e se desenvolve o relacionamento dela com o professor universitário Pio; na segunda, em ótimos diálogos (de cortarem o coração), observamos como se desenrola o romance dela com o também artista bonitão, barbudo-estilo-los-hermanos Brás. Em torno de Lulu, outros personagens carismáticos, como Eva (liberdade!), Lena (descobrimento), Tomás (cadê o amadurecimento?) e Lucas (e agora?)... Eu acabei de assistir ao décimo episódio da segunda temporada (e agora terei de esperar uma semana para ver o próximo!!!)... Chorei! E quero salvar uma árvore, subir em uma árvore e descobrir se elas têm realmente alma... hahahahaha... Papo maluco? Assista ao episódio e depois fale comigo...

Não choro
E, assistindo à série "Do Amor", descobri a música "Mal Secreto", gravada por Gal Costa no clássico disco "Fa-Tal", que tem a incrível "Como 2 e 2". E a letra dessa canção fala tanto de mim... Incrível o poder da arte de nos descrever, não é mesmo? "Não fico parado, não fico calado, não fico quieto/Corro, choro, converso".

Mergulho
Respeito o mar. Não vou até o fundo. Não me aventuro muito quando eu e eles somos quase um só corpo. Não fico muito tempo submerso. Mas gosto de sentir que consigo ficar alguns segundos mergulhado. Literalmente! Gosto do cheiro do sal na minha pele. Gosto de sentir que estou me bronzeando. Gosto da mistura do sal com a areia. Gosto de sentar na areia e observar a praia. Gosto de sentar na areia e observar a pluralidade de corpos, cores, copos... na praia. Na praia. Gosto de observar o sol indo embora. Gosto. Praia. E, se puder, leia o livro "Na Praia", de Ian McEwan.

Samba
Sambar na cara da sociedade. Cantar em alto volume a canção que foi escrita para o Roberto. Aquela que Jorge Ben Jor escreveu. A do síndico. Caetanear. Djavanear. Gil. Sambar Beth Carvalho. Ficar levemente bêbado. Calor. Cerveja gelada. Bud ou Skol. Arcos da Lapa. Um circo no meio de tanto concreto. E, agora, estamos a dois meses do Carnaval!

Maluco, beleza?
"Eu vou ficar, ahhhhhhhhhhhhhh, ficar com certeza maluco beleza". De repente, alguns corpos são erguidos... no meio da pista. A gente fica sem entender nada. Olha para o rosto de alguns amigos para tentar entender se aquilo realmente está acontecendo. Uma pessoa quase nua no meio da pista. Literalmente. Aquilo realmente está acontecendo? Está!!! Pista!!! Dança! Dança! E está tudo incrível! Mas tudo isso está acontecendo mesmo?

Fim de 2013
Último fim de semana do ano de 2013? Foi incrível ter vivido em você. Ter estado em você. 

Início de 2014
Até daqui a pouco. 


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

NASCIMENTOS E INCOMPRENSÃO



O governador de província de São Paulo, Morgado de Matheus, em 1769, designou o sargento-mor Theotônio José Juzarte, para conduzir uma expedição  até  atingir Iguatemi, em Goiás, onde existia o Forte e Presídio de Nossa Senhora dos Prazeres.  Ali tinha por missão substituir  a guarda desse forte e alojar naquela  região, povoadores com o propósito de consolidar a presença brasileira naquela área, que vivia em turbulência com vizinhos sul-americanos. Theotônio se incumbiu por recomendação do Morgado, de elaborar um diário que serviria de informações para futuros navegantes àquela região, quando usassem os rios Tietê, Paraná e Iguatemi.
Partiram de Araritaguaba (atual Porto Feliz), às margens do Rio Tietê. O visconde de Taunay no livro “Diário de Navegação”, elaborado pela Unicamp informou que  “a 13 de abril desse ano, ... é que partiu de
Porto Feliz a grande monção, com trinta e seis grandes embarcações em que se aboletavam quase oitocentas pessoas, das quais setecentas e tantas ‘povoadoras’ com homens, mulheres, rapazes e crianças de todas as idades, trinta soldados de linha, gente de mareação e equipagem”.
No dia 20 de abril, registra o diário: “... depois passamos por uma cachoeira chamada Putunduva que quer dizer em Português onde a vista se faz escura, é muito perigosa, e medonha esta cachoeira, se metem as embarcações por ela com gente dentro a Deus e à ventura, daí, mais abaixo passamos pela cachoeira de Ibauru-guassu (g.n.) e foi preciso saltar gente em terra, aliviar as embarcações de alguma carga para poderem passar por cima das Pedras, e a gente, e carga abrindo-se picada pelo mato para ir sair abaixo da dita cachoeira, sofrendo muito trabalho e incômodo, carregando-se doentes sofrendo-se muitas mordidelas de mosquitos, e Bernes na passagem pelo mato: embarcamos outra vez, e daí mais abaixo passamos a cachoeira de Ibauru-mirim (g.n.), esta se passou pela sua madre indo tudo embarcado, e daí fomos seguindo viagem...” Na língua tupi-guarani Ibauru significa águas tortuosas, correnteza. Nas imediações dessas cachoeiras desaguava o Rio Bauru, sugerindo que ela emprestou seu nome para o rio e este para o  Município criado em 1896.
No primeiro dia, depois de muito navegar, surgiu a primeira cachoeira, Abaramanduaba; depois outra, Piraporá. Vencidas no final da tarde, embicadas as canoas nas margens do rio, abriu-se uma clareira para alojar o pessoal, lugar comum a se repetir  nas noites seguintes: matança de jacarés e cobras corais, ladainhas entoadas à Nossa Senhora e rezas ao santo protetor. Dourados e pintados apressados e comidos, veados pardos abatidos para servir nas refeições.
Cachoeiras, correntezas e saltos seriam vencidos nos dias seguintes. Haveria transporte de carga por terra, para que as canoas pudessem sobrepujá-los... um cenário redundante numa longa jornada desenrolada no século 18. No trajeto, contato com carrapatos que feriam a pele dos viajantes, doenças grassando, alguns perecendo no percurso.
E a viagem, com todas as dificuldades que a época ensejava, prosseguiu e   chegou às barras dos rios Capivari e Sorocaba, remos avançando no rio indomável e ficaram para trás o ribeirão Icoacatu e a barra do rio Piracicaba.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

fecha

abre os olhos.
deve ter sido o barulho da sirene.
diferente: um som suave, distante, improvável.
a noite imensa presa em seu quarto pesa sobre o rosto.
pensa em se virar. não consegue.
deve ser a preguiça da madrugada.
ou o vinho da noite.
vinho…
nota mental: evitar em noites tristes.
a cama parece mais áspera que antes.
ou seriam os pecados que castigam nas costas?
afinal, rasgam a pele feito chibatadas.
e não tem colchão de molas que dê jeito.
a consciência pesa.
em proporção matemática, o incômodo aumenta.
assim como o barulho da sirene.
olha, vai ser uma noite daquelas.
tenta lembrar o porquê, o onde, o quando.
mas está tudo embaralhado.
fios entrelaçados com boas lembranças, marcas de dores, sorrisos valentes.
deve ser restinho de sonho.
talvez um sonho bom…
vai saber?
pena que não lembra.
tomara que teve beijo na boca, sexo sujo, essas coisas…
até o pescoço dói. 
faz um esforço para virar pro lado e ver as horas.
não deve ser tão tarde assim…
nem lembra de ter ido para a cama.
maldito vinho…
a sirene já virou trilha sonora da noite.
e quando o pescoço termina o movimento, ele vê.
e não entende.
na calçada, pessoas paralisadas.
as mãos às bocas, os olhares, incrédulos.
não, não há lágrimas.
o silêncio ensurdece tanto que as bocas falam, mas ele não ouve.
filme dublado. idioma: terror.
só ouve a sirene.
sente algo escorrer pela barba.
mas a mão não obedece o braço, que não obedece o cérebro.
não consegue se mexer.
a dor aumenta.
mais pecados reclamando a consciência?
sonho bom que não é.
o que escorre pela barba invade a boca.
reconhece o gosto sofisticado do sangue.
dá até saudade do vinho.
a sirene berra.
e chega acompanhada de luzes, que invadem o escuro do quarto.
não entende. 
mas consegue imaginar.
sempre foi bom para pensar em histórias.
desde pequeno.
orgulho da professora de português.
pensa.
não está no quarto. não está deitado na cama. não tem preguiça.
pensa demais. 
queria não ter imaginado.
arrependimento é pecado?
se for, mais uma chicotada nas costas, por favor.
fecha os olhos para abri-los novamente.
quem sabe ainda é o sonho.
quem sabe?
fecha os olhos.
abre os olhos.

fecha os olhos.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Das nuvens


“Our lives are not our own. 
We are bound to others, past and present, 
and by each crime and every kindness, 
we birth our future.” 
David Mitchell

"Atlas das nuvens" de David Mitchell foi publicado em 2004 e é um livrão. Literalmente. 500 e poucas paginas na cópia que tenho em casa. Dessas publicações que dá para usar como arma no metro. E é um livrão no sentido figurado. Lindo. Emocionante. Desses que a gente lê e fica triste quando acaba e já quer recomeçar.
Dividido em histórias, cada uma a seu tempo e com seu conjunto de personagens, que de certa forma se comunicam e entrecruzam formando um todo único.
O primeiro núcleo chamado "The pacific journal of Adam Ewing" se passa em 1849 no Pacífico Sul e narra as desventuras de Adam Ewing
 O segundo "Letters from Zedelghem", em 1936, é focado na vida do compositor Robert Frobisher, seu amor proibido por Rufus Sixsmithe, e pela música, obviamente. Frobisher lê o diário de Ewing enquanto compõem sua obra prima, uma sinfonia chamada The Cloud Atlas Sextet.   
"Half lives: the first Luisa Rey mystery" acontece na San Francisco de 1973, quando a jornalista Luisa Rey conhece o cientista Sixsmithe que a coloca a par de perigos ligados ao uso da energia nuclear. 
"The ghastly ordeal of Timothy Cavendish" se passa na Inglaterra de 2012, quando o editor Cavendish se vê as voltas com confusões financeiras, familiares e amorosas. 
"An orison of sonmi-451", se passa em 2144 em um lugar chamado Neo Soul, um mundo dividido entre seres humanos e réplicas sendo uma delas Sonmi-451.
E o sexto, "Sloosha`s crossing an` ev`rythin` after" que se passa eu um mundo pós apocalíptico, em 2321, após um acidente nuclear, quando comunidades sobreviventes se degladiam em busca do mínimo e rezam através das palavras de Sonmi. 

O livro virou filme e o filme “A viagem” foi trucidado pela crítica.
Eu amei o filme e comprei o livro. Amei o livro e revi o filme.
O longa é dirigido por Tim Tykwer e pelos irmãos Lana e Andy Wachowski.
Lana, que era Larry, e passou por uma operação para mudança de sexo e este foi seu primeiro trabalho pós resignificação. E as críticas se referiam mais a este fato do que ao filme em si.
Eu, pessoalmente, gosto das soluções encontradas pelos diretores para resolver as 500 e poucas paginas sem perder a poesia. O livro conta historias sobre gente que ajuda gente e gente que atrapalha gente e mostra como mesmo com o passar de décadas, as histórias calcadas em caráter e humanidade, se repetem. E fala também de sonhos e rebeldia e de como os sonhos são a matéria de mudança e evolução do mundo...
Vale a viagem.


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Pílulas 2

Vamos lá...

Preguiça
Eu continuo com preguiça de informação bizarra, banal, idiota, sem importância... Desculpe-me, é a tal terça-feira, talvez. Hoje, por exemplo, ao entrar no Facebook, logo pela manhã, ao acordar, por meio da internet do celular, "fui informado" de que o romance entre Neymar e Bruna Marquezine teria acabado. Aí, eu descobri, por meio do Twitter, que o namoro entre os dois tinha até um "apelido": Neybru. E, para piorar a situação (sim, tem como piorar!!!), os fãs de um e de outro estariam já se xingando, colocando a culpa em um ou em outro pelo fim da relação. Eu já sei porque não gosto muito de futebol. O problema não é o futebol em si (ok, ok, há até algumas partidas emocionantes... mas, convenhamos, tem coisa mais broxante do que assistir a uma partida de futebol por 90 minutos, ouvindo um narrador pentelho e não acontecer nenhum gol???), mas essas coisas extra-campo... É fim de namoro de jogador de futebol, o novo corte de cabelo do craque da camisa 10, o mergulho (chuá!) do artilheiro na Barra da Tijuca, os 2 kg a mais do ex-craque RRRRRonaldinho... ai, que preguiça!

E tem como piorar, é claro: na página inicial do Yahoo!, até alguns minutos atrás, a principal notícia era a de um ex-famoso-jogador-de-futebol, que estaria "puto" da vida pelo fato de supostas fotos nuas da filha terem parado na internet... Não seria melhor fazer uma matéria alertando que isso é crime, que publicar fotos ou vídeos íntimos de uma pessoa é uma das atitudes mais idiotas da face da Terra (assim como avaliar o desempenho sexual ou sei lá o quê em aplicativos como o tal do Lulu, frufru, cricri etc?).

E tem como piorar, é claro: na semana passada, a irmã de um zagueiro do Bahia, se não me engano, teve lá os seus 15 minutos de fama por, veja só, ao comemorar o gol do time pelo qual torcia, levantar a camisa e mostrar o sutiã/biquíni, sei lá o quê. O povo nunca viu mulher de biquíni, não!? Nunca viu peitos? Ai, que preguiça...


Chupa
Raul Castro, presidente de Cuba, e Barack Obama, presidente dos EUA, cumprimentaram-se durante o evento em homenagem ao ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela. Um gesto que, para muitos, pode representar mudanças nas conturbadas relações entre Cuba e EUA, inimigos históricos desde os anos 1950. Sobre o gesto, Castro afirmou que foi algo normal, afinal de contas "somos civilizados". Já a Casa Branca disse que Obama "não fez mais do que trocar cumprimentos com os líderes que estavam no seu caminho antes do discurso, não foi uma discussão substantiva". Histórico ou não, foi um gesto educado, de seres civilizados mesmo, como atestou o próprio Castro. Encerro essa pílula com uma opinião de José Simão, em seu Twitter. "O mundo estarrecido pq Obama cumprimentou Raul Castro. Eles são civilizados. Não é Vasco e Atlético-PR!". Chupa aqueles que, em meio à tal liberdade da internet, preferem a raiva nos discursos a opiniões que podem levar ao entendimento.

Chuva
A previsão do tempo, no fim de semana que se passou, segundo uma amiga que trabalha comigo, era de frio e/ou chuva. Bom, o aplicativo que indica o clima da semana a enganou. Ainda bem! No domingo, um clima agradável imperou em São Paulo, possibilitando que eu fosse pedalar na ciclofaixa (faça isso, repito!) e ainda curtisse uma festa em Campinas. Lá, o tempo chegou a fechar, mas não caiu uma gota. Resultado: água, brilho, vodca com morango e muita música boa. E o melhor de tudo foi que, finalmente, eu dancei uma música que não ouvia, em uma festa, há séculos: "Seek Bromance", de Tim Berg, que agora é mais conhecido como Avicci. http://www.youtube.com/watch?v=LKWs7wt7cdw

House
Ainda na onda música - aliás, o post de hoje será muito musical, já adianto -, na última semana, eu pelejei para encontrar, no YouTube, uma música de Robin S, musa-mor da house music nos anos 1990. Ela canta, por exemplo, "Show Me Love", "Love For Love" e a deliciosa "It Must Be Love" (você, adolescente nos anos 1990, deve ter ouvido muito essas canções). Quer um conselho básico? Coloque essa música para tocar na sua casa, duble, cante e dance... sem medo de ser feliz!!!  http://www.youtube.com/watch?v=dMskXvrrCtk


Musical
Eu tenho uma preguiça monstra de musicais. Ok, ok, eu assisto a algumas produções do gênero, mas, entre uma comédia e/ou um drama, eu me jogo em espetáculos de comédia e/ou drama sem medo de ser feliz. Mas, no último fim de semana, em um ato de sorte, fui assistir ao musical "A Madrinha Embriagada". Por que em um ato de sorte? Com um casal de amigos, cheguei ao teatro do Sesi, na avenida Paulista, perto do início da peça, que é gratuita, começar (às 16h), e consegui o ingresso. Bom, tenho que revelar: gostei do musical. Mas, em espetáculos desse gênero, o que me chama a atenção não é a voz dos artistas, mas, sim, a cenografia e a iluminação, capazes de nos levar para outro mundo. Literalmente.

Faixa exclusiva
Tenho carta de motorista, mas não dirijo. Não tenho carro e não pretendo comprar um carro. Ah, e sou defensor público da faixa exclusiva para ônibus! Sem mais....




domingo, 8 de dezembro de 2013

Clique em cancelar para corrigir a falha...

Queria escrever um comentário sobre O Laptop de Leonardo. Liguei o computador, cliquei em arquivo, em novo, em word e ao renomear recebi a resposta: se a extensão do arquivo for alterada, pode tornar-se inutilizável. Quem nunca recebeu aviso dessa máquina infernal do tipo EAX=00000010 CS=1775?
Uma ironia, pois o autor do livro descreve como esse Renascimento 2.0 vai melhorar a qualidade de vida da população, fala maravilhas da tecnologia de ponta e eu aqui refletindo sobre os dissabores do usuário quando os computadores não estão em harmonia com necessidades primárias.
A questão é: como desafiar os projetistas a focar-se no indispensável? Afinal, o que se quer são aparelhos simples adaptados ao sujeito comum. Agora, parece-me o momento certo da indústria atender as exigências desse consumidor. Onde estão os gênios gráficos e os Leonardos do web-design, perguntei-me após ver os protótipos de inventos do artista numa exposição. Fiquei imaginando como seriam os computadores projetados por ele. Talvez fosse contratado para pensar diferente dando aos softwares compatibilidade entre velhas e novas máquinas. Ele desenharia ferramentas e processadores de textos fáceis. Gigabytes em quantidade ou banda larga para quem necessita e tecnologia simplificada atendendo gente como a gente. Escreveria manuais inteligíveis ajudando o usuário a transpor a brecha entre o saber e o precisar. Essas coisas não acontecem somente com computadores.
Dia desses, entrei no carro do meu marido. O painel do rádio parecia um disco voador, tal a quantidade de botões e círculos coloridos. Transponham o problema para televisores e/ou liquidificadores nossos de cada dia.
Mas, voltando à ciência computacional, onde estão às alternativas para meros mortais? Está desatualizada, dirão os jovens. Tenho um pendrive com uma boa memória na bolsa e uso um Iphone com uma boa quantidade de recursos, então não estou tão por fora assim. Procuro me informar sobre as novidades aproveitando o que tem utilidade para mim. A maioria dos usuários é assim.
Se da Vinci vivesse hoje, daria ênfase à alta qualidade, porém não faria como os engenheiros do ramo tratando seres humanos como desprovidos de inteligência e nem se comportaria como os designers de sistema acreditando que em breve haverá um programa de interfaces automático. Não, ele buscaria soluções pensando no bem estar do homem e disseminaria esse conhecimento atingindo os extremos da sociedade: especialistas e leigos. Como não apareceu nenhum Leonardo na área, o único recurso é clicar em cancelar para corrigir a falha... deles ou nossa?

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Savana



“Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?” 
Guimarães Rosa


Se hoje me fosse dado o direito de voltar naquela época de escolhas e vestibular, eu escolheria outro caminho. Escolheria um caminho que levasse a África, a um mundo de vastos planaltos, savanas e uma vegetação com cor de terra, um mundo de felinos imensos, suricatos e babuínos...
Hoje posso dizer com toda a certeza que perdi a esperança em 90% da humanidade. Não vejo chance de melhora para um mundo no qual as pessoas simplesmente não são empáticas.
Por exemplo, hoje mesmo a caminho do trabalho antes mesmo de chegar ao metro quase fui atropelada por um carro e ainda fui xingada pelo motorista, que estava errado. Já dentro do Metrô, quando chegamos a estação, as pessoas, ao invés de deixarem as outras descerem para terem espaço para entrar, simplesmente passaram derrubando as outras, impossibilitando a saída ou entrada.
São Paulo é uma cidade que desumaniza, eu sei, já foi dito. Mas acredito que o problema não seja a cidade e sim a tal humanidade que não merece ser adjetivo. Desumanidade.
Mas não, não estou voltando a ativa no blog com um texto mal humorado. É só um texto.
Mas, vamos lá. Um ano e meio se passou desde minha última postagem e MUITO aconteceu.
O ano de 2012 foi um ano especialmente conturbado. E passou!
2013 começou como um ano novo no sentido mais básico da palavra.  E até agora o está sendo.
Mudei de trabalho já no começo do ano e está sendo uma experiência incrível voltar a esse lugar. A minhas origens, de certa forma. Impressionante, né? Como a vida se encarrega de te levar para onde você efetivamente precisa. Voltei a ter uma relação de amor com o teatro. Voltei a ver coisas lindas e embora tenha dúvidas quanto a 90% da humanidade os artistas ainda me tocam com seus sonhos quando sonham.
Mudei de casa. Agora moro num apartamento há um quarteirão do primeiro apartamento no qual morei na vida quando nasci. Vejo a sacadinha quando atravesso a rua e acho isso tão divertido numa cidade desse tamanho. Desumanizada.
Enquanto sonho com planaltos verdes empoeirados e cheiro de terra. E babuínos, suricatos, cheetas... e sei que um dia, eu chego na Namíbia.




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Extremamente...

Há algum tempo havia lido que Extremante alto e incrivelmente perto de Jonathan Safran Foer viraria filme...
o trailer de "Tão forte e tão perto" me deixa na dúvida, mas quero muito ver porque o livro é um dos mais tocantes que já li na vida...