ele chegou em casa. nem tirou a roupa suada.
correu para o quarto, abriu o guarda-roupa.
lá estava: a caixa vermelha das recordações*.
dez anos se passaram. fechou com cola. não era mais pra abrir.
mas precisava olhar pra trás.
uma olhadela rápida.
ninguém se machucaria.
colocou um disco para quebrar o clima. beatles.
caixa no colo.
como era vermelha...
fez um furo tímido. olhou. nada viu.
parecia vazia.
rasgou a tampa. golpe seco, feito punhalada.
um cheiro forte invadiu as narinas.
embriagou o cérebro. turvou a vista.
quando voltou a si, viu.
estava tudo lá.
as mentiras que nunca contou para amar.
as ilusões que deixou de lado, com medo de acreditar nelas e ser feliz.
a solidão que desprezou em dias opacos.
a chuva que teve medo de tomar.
os pecados sujos, maltratados.
as lágrimas doces que jamais se permitiu derramar.
as confissões mais safadas que jamais fez, jamais fará.
um pavor sem explicação, encolhido, assustado.
olhou tudo uma, duas, três vezes.
sorriu.
sentiu-se vivo.
começou a rir. a gargalhar.
lacrou a caixa de novo.
guardou.
foi pro banho, cantarolando sgt. peppers.
mais dez anos pela frente.
* inspirado em the verve
3 comentários:
não é de pandora, mas de Thiago. A caixa, que nem de longe encerra o que já foi e é só uma pista do que ainda vem. Eu morro de medo dessas caixinhas. Principalmente de mtê-las fechadas. Acho que um dia, com uma força que não calculamos, elas abrem-se sozinhas e ai a coisa vem sem o menor controle. MAs de pandora é sempre melhor que caixa preta.
Vou abrir a minha rápido, agora que vc me lembrou. Depois conto a trilha sonora.
caixa que guarda nossas essências, tudo que verdadeiramente somos e sentimos. mas, concordo com a Camilla... essas caixas são perigosas... um dia elas abrirão com uma força inexplicável e tudo virá à tona, para te lembrar sempre quem você é e tudo que tá guardado dentro da caixa que faz o coração pulsar.
beijo procê
Caixa vermelha das recordações – muitas vezes preta – fechada, lacrada. Pode guardar o passado, os segredos, as alegrias, as frustrações. Passagens que marcaram a vida, de alguma forma, com algum valor. Todos têm a sua caixa e, em certos momentos, é preciso abrí-la para ver e refletir sobre o que fomos, o que somos e o que podemos ser. É olhando dentro de sua caixa que lhe é revelado muito sobre você mesmo. Assim, no meu ponto de vista, não há perigo na caixa e seu conteúdo, mas sim nas atitudes que irá tomar a partir da experiência de como sentiu e pensou sobre si mesmo.
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