terça-feira, 12 de agosto de 2008

Marias

Vou escrever sobre mulheres e poderia iniciar por cientistas prêmio Nobel ou por atrizes contempladas com o Oscar. Contar a vida das esquecidas pela história começando nos primórdios da cultura, quando as mulheres eram consideradas a metade do céu. Dentre as alternativas escolhi algumas Marias para falar de nós, mulheres...
O crédito fica para uma leitora do nosso blog que, ao comentar o disco da Fernanda Takai e colocar os versos “canta maria...a melodia singela...que a vida é bela...minha maria” deu a idéia, obrigada mariah!
A primeira é Madalena, devido ao interesse despertado por ela nas últimas décadas. Essa Maria me lembrava Proust, pois foi o ato de morder a madaleine, um doce típico de sua região, com todas as lembranças nostálgicas evocadas é que o fez escrever Em busca do tempo perdido. Parece que os intelectuais não têm preconceitos contra a famosa pecadora retratada na Bíblia, pois ela é a padroeira de educadores de elite. Tanto em Oxford, como em Cambridge, estão o Magdalen College, fundado em 1448 e o Magdalene College, desde 1542. Eu nunca acreditei que fosse prostituta, ela foi igualada à mulher penitente pela tradição cristã. A questão de Jesus ter sido casado com Madalena é um conceito antigo. Se não houve casamento, a relação devia ser íntima, fazendo dela não só a mantenedora do grupo, como a pessoa mais próxima de Cristo, provavelmente até sua sucessora. A “apóstola dos apóstolos” como pregava Peter Albert em pleno século XII.
A outra Maria foi à condessa de Walewska, que se tornou amante de Napoleão, na esperança de conseguir a liberdade de seu país, a Polônia. O pensamento dominante entre poloneses era como recuperar a independência perdida. Desesperados eles estavam dispostos a agarrar-se a qualquer oportunidade e quando perceberam o interesse de Bonaparte por Maria Walewska, depositaram sua fé na delicada mulher de vinte anos. Ela teve como preceptor Chopin. Além de geografia, francês e música, ele incutiu-lhe um ardente patriotismo. Para salvar a família da ruína casara-se aos 17 anos com o conde Anastase Walewska, de 68 anos. Condenada a um casamento sem amor, procurou conforto na religião, entregando-se ao seu objetivo de fazer renascer o país.
Em 1807, o imperador chegou à Varsóvia como um libertador, mas os poloneses sabiam que sem ajuda, ele não derrotaria a Rússia e decidiram juntar-se aos franceses. Napoleão conheceu Maria em um baile e ficou profundamente impressionado. Ela era tímida e devia ser uma visão encantadora, diferente dos rostos atrevidos das beldades sofisticadas espalhadas pelas cortes da Europa, com as quais estava acostumado. Escreveu-lhe três vezes sem obter resposta, pois Varsóvia não era Versailles e a sociedade desaprovava o adultério. Entretanto, se a condessa encaixava-se nas necessidades atuais de Bonaparte, os patriotas poloneses iriam convencer a jovem a aderir aos seus propósitos. Napoleão se recusava em ouvir seus argumentos sobre a Polônia, mas os apelos daquela jovem, talvez o convencessem. Maria resistiu o quanto pode, mas sua força cedeu diante do magnetismo do imperador, mesmo estando concentrada em conseguir dele a liberdade da Polônia. O imperador interrogava Maria a respeito do país e analisava a história da Polônia explicando as falhas do passado para que ela pudesse entender a política do futuro. Embora a condessa fosse à mulher ideal para Napoleão, a política externa falou mais alto e ele acabou casando-se com outra.
Mesmo tendo derrotado a Rússia, Bonaparte precisava dela como aliada no bloqueio comercial contra a Inglaterra, assim não pensou duas vezes, traiu os poloneses e Maria. Algum tempo depois, Napoleão ofereceu a Polônia à Rússia em troca de um casamento dinástico. A resposta foi o silêncio e nem era aquele de quem cala consente... O embaixador austríaco aproveitou e sugeriu... Maria Luísa. O imperador ficou deslumbrado por unir-se a casa dos Habsburgos e sua reputação de filhas fecundas. Ele precisava de um herdeiro legítimo. Enquanto isso, Maria dava luz ao filho Alexandre. Anastase, seu marido, voltou para o batizado e reconheceu-o como dele. A honra de todos os envolvidos estava salva. A história garante que Bonaparte foi fiel a Maria Luísa. A condessa morreu aos 31 anos. Napoleão exilado em Elba mantinha no dedo um presente dela com a frase: “quando você deixar de me amar, lembre-se que ainda o amo”. Diferentes Marias unidas no eterno tema do amor. Ah... mulheres!

Um comentário:

Camilla Tebet disse...

Uau,adorei a história das Marias. Aliás, estou adorando as aulas que vc está dando por aqui. Já estou curiosa para a próxima semana. Pensei tbém na Maria Stuart.. já que o filme sobre ela acabou de sair. Adoro história e o jeitinho como vc conta fica muito mais interessante.
Bjos ansiosos pela semana que vem.