desprezado, o carinho começou a beber.
vodca e uísque, cada um no seu copo, ora com gelo, ora do jeito que vinha.
queria esquecer a dor de não ser mais lembrado, de não estar mais no toque dos apaixonados, no abraço dos amigos, no beijo das famílias.
fora de moda, bradavam. não acessava a internet, não tinha orkut, não sabia o que é wireless...
no começo, pensou que três dias bêbados seriam suficientes.
hoje, completam-se três anos.
anestesiado, roupa rasgada, todo mijado, o carinho perambula pelas ruas.
cara fechada, barba comprida, cabelo desgrenhado. nem de longe lembra o galã que fazia sucesso entre os sentimentos.
alguns ainda o reconhecem – e ele chora. mas, via de regra, as pessoas passam batido pelo miserável.
ele ainda sofre.
a bebida não é mais tão forte assim. a aguardente que divide com o esquecimento, colega de banco de praça, não consegue mais apagar as lembranças, que cortam cabeça e coração feito foice da morte.
morte que ele abominava. que, hoje, ele deseja.
e ela só espia de longe. e ri.
ao carinho, resta mendigar: pão, água, atenção, sorriso.
ele está sempre no farol da avenida principal. a caixa de doces na mão esquerda é só pra disfarçar.
o que ele quer mesmo é ver amor sincero. uma fagulha que seja. um beijo na testa.
mas o sinal verde sempre abre muito depressa.
Um comentário:
acho que ele está procurando nos lugares errados, nas horas erradas. ou o sinal dele que está fechado demais para tudo isso.
adorei o texto, meu querido.
beijo
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