terça-feira, 15 de julho de 2008

BLADE RUNNER versus MATRIX


Por sugestão da Camila estou de novo escrevendo sobre cinema. Gosto do assunto e não perco a chance de dar minha opinião sobre filmes polêmicos. Nesse caso, são dois de ficção científica que causaram debates acalorados, então lá vai mais um pouco de lenha para a fogueira. Começo com Platão e acabo na religião. Não que sejam assuntos tão distintos.
O autor do livro A descoberta da Sombra citando Platão e o Sétimo Livro da República, sugere que os humanos pensam serem livres, entretanto como os prisioneiros acorrentados na caverna sua única realidade são as sombras. Ouvi sem querer a frase: qual pílula você escolheria a vermelha ou a azul? Minha bússola apontou para Matrix. No mesmo dia alguém citou Blade Runner, o caçador de andróides. Mera coincidência? Não sei... Pelo sim, pelo não, decidi escrever sobre isso.
A ação de Blade está baseada na luta entre unidades especiais da policia – Blade Runner Units – e replicantes. Deckard, o Runner do título, tem licença para matar as reproduções da fase Nexus-6. Eles são construídos a semelhança do homem, igualando-o em inteligência e superando-o em força e agilidade. A diferença está no prazo de validade: quatro anos de vida. Deckard acaba se apaixonando pela replicante Raquel e fugindo com ela. Os espectadores chegam à conclusão assustadora de que como os outros, ele era um andróide. No caso, eles se diferenciavam dos humanos, não nos aspectos tecnológicos, mas na sua relação com o tempo.

Matrix é mais filosófico, embora retome pelo menos duas questões embutidas no anterior. Se a inteligência artificial é possível e se o que nos rodeia é verdadeiro. Ao assistir Matrix saí do cinema com a desconfortável sensação que o herói não só não era o herói como no futuro se revelaria uma máquina, tal e qual Blade Runner. Talvez eu tenha errado, pois na seqüência, Matrix Reloaded, ele se descobre como o predestinado e salvador da população de Tzion, a última cidade habitada por humanos no mundo. Nesse filme recebe a missão de encontrar um chaveiro. De acordo com as profecias Key vai levá-lo ao núcleo da matriz. Isso acabaria com a guerra entre homens e máquinas. Vocês não estão entendendo nada? Vamos aos fatos. Thomas Anderson, funcionário de uma empresa de software, transforma-se à noite em um hacker habilidoso, de nome Neo. Sonha coisas sem nexo e recebe mensagens no monitor de seu computador alertando-o sobre sua vida estar correndo perigo. Você é uma peça importante no combate entre os mantenedores das aparências e os lutadores pela libertação da realidade, insinua Trinity. A história desenrola-se em um cenário simulado por computadores. As pessoas vivem em um mundo ilusório controlado pela matriz. Por isso a referência inicial as sombras, pois qualquer semelhança com a caverna de Platão não é mera coincidência. Lá eram as sombras, aqui são objetos imateriais existindo em dimensão virtual. Essa e outras citações filosóficas e religiosas são desenvolvidas no filme.
Larry e Andy Wachowski, os autores da trama, buscaram referências na filosofia oriental e ocidental, além da mitologia grega e em diferentes crenças religiosas. As pistas são facilmente identificáveis. 101 é o número do apartamento onde vive Thomas Anderson. É uma referência ao código binário 0101. Neo: pode ser lido como um anagrama de one, significando o único, o Messias. Tzion/Sion: é um dos nomes de Jerusalém. O Oráculo, criado para dar estabilidade a Matrix, foi quem alertou Morpheus sobre a existência de Neo, cuja função é re-tornar à Fonte do mal para destruir o mundo virtual e buscar a paz. Nesse momento, o jovem fica cego. Sua condição faz com que entre em contato com os poderes divinos, pois o não ver significa expansão de consciência, caminho para o mundo interior. Cego ele consegue chegar a sua essência e tornar-se a Merkavah/veículo divino. Como Merkavah ele pode curar, combater o mal, gerar energia e mover o mundo: homem/Deus ou Deus/máquina?

6 comentários:

Camilla Tebet disse...

Putz grilo, és uma super comentarista de cinema. Mais ainda: analisas, interpretas, comparas. Preciso ler de novo, porque minha cabeça não funciona assim. Volto!
Beijos

Janaina Fainer disse...

a minha então, nem se fala, camilla
mas bacana o texto, rosa
e obrigada pelos elogios
beijos

Camilla Tebet disse...

Agora parece que entendi: matrix usa elementos de Platão. Uau... Sabe, a primeira vez que vi Blade Runner, tudo aquilo parecia tão distante. Vi na década de 80, me apaixonei pelo filme, pela trilha sonora e desde então tenho visto várias vezes. E a cada vez que vejo parece que ele fica mais antigo.O que era futuro já é quase passado. E esse troço de homem/deus/maquina me dá um medo danado. E o Matrix eu assisti e por burrice disse que não gostei, mas na verdade eu não entendi, isso sim. Sou burra asssim, ultrapassa muito o possível e eu já não entendo.
Mas vc, cara Rosa, és uma grande analista de cinema, isso sim!
Muitíssimo interessante. Amanhã leio de novo pra ver se entendo mais.
Beijos com carinho pra vc.

Camilla Tebet disse...

Li de novo. Mas não vivemos nós num mundo ilusório, comandado por uma matriz? Então, nesta quarta-feira, as 11,30 da manhã eu tenho a impressão que sim.
Tá vendo, vou entendendo devagarzinho..
Bjos

Camilla Tebet disse...

pensei até em prometeu acorrentado.. mas com certeza estou fundindo as bolas. Mas a coisa da Caverna .. é no mínimo assustadora. Mas se eu acordar e descobrir que era tudo um sonho, ok! E se for pesadelo.. deve acabar. Vou lendo mais vezes. E não deixe de escrever sobre filmes. Estou adorando. Aliás, tenho uma sugestão: por que não dá início a um blog só seu, com análise de filmes? Sem nos abandonar, é claro. Seria muito legal e eu seria sua leitora.
Beijos

Camilla Tebet disse...

Rosa, dá uma olhada nesse blog:

wwww.cartazesdecinema.fotoblog.uol.com.br/

é muito interessante, acho que vai gostar. As análises não são tão profundas quanto às suas... mas..
Não vou deixar mais nenhum comenta´rio nesse post. Já deixei muitos.
beijos e té