a roupa fedia.
tinha aquele cheiro forte de solidão.
quando mistura com aquela sensação de alma despedaçada, fica insuportável estar perto.
a vontade dela era sair do próprio corpo. rasgar a pele violentamente. tchau, até o carnaval.
tempo implacável, caleja qualquer músculo. não havia mais dor, nem lágrima salgada.
só a sensação de desejo escorrendo pelas mãos.
o vento gelado cortava o rosto. antes fosse o coração. em zilhões de pedaços.
pequenos. vermelhos. em putrefação.
mas não. ela se protegia. tinha esperança.
vá-vá-vá.
nem sabia o que era esperança. quanto mais saber que tinha uma porra dessas no bolso esquerdo do jeans.
alimentava aquele sonho juvenil, quase ingênuo, puro feito opinião de criança.
aquela coisa de querer ser feliz, saca?
besteira de revistinha de horóscopo.
com a lua brilhando no céu, viu seu eu em outro.
mas fez questão de ficar do outro lado da calçada.
assistiu, de camarote, o amor ser estuprado por dois mendigos - bandidagem nova na cidade.
clamava àquele deus caricato, cheio de barba na cara e onipotência no agir, por algo.
qualquer coisa.
qualquer.
sem resposta. deixa recado na caixa postal, por favor.
não tinha pra onde correr.
pra quem correr.
pra quê correr?
sabia o destino.
próxima estação: apaixonar-se de novo.
o trem vinha sempre lotado.
e voltava cheio de vazio.
Um comentário:
uau, és mesmo poeta. De trem cheio. Ma te digo: depois de tantos trens vazios de volta, eu decido por trocar de roupa, uma mais cheirosa e amar! Amar como os antigos, com colcha de retalhos que eu mesmo ando costurando.
bjos
Camilla
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