quarta-feira, 2 de julho de 2008

Vende mais por que é mais fresquinho ou é mais fresquinho por que vende mais

Ribeirão Preto sediou no final de junho a Oitava Feira do Livro. É uma feira grande, organizada e que traz grandes nomes da literatura para a cidade. Além do privilégio de mediar a palestra do Zuenir Ventura (que lança 1968 - o que fizemos de nós? ), e do Marçal Aquino, pude também assistir a vários autores interessantes. Antonio Prata, escritor jovem, seis livros já publicados, surpreendeu pelo carisma, simpatia e bom humor. Falou sobre o mercado editorial no Brasil. Disse que publicar livros é muito fácil, o difícil é vendê-los.


Marçal Aquino, outro escritor e roteirista de cinema consagrado (Cheiro de Ralo, Invasor) disse a mesma coisa. Marcia Tiburi, filósofa que mostrou uma inteligência ácida, porém admirável, em sua palestra, disse a mesma coisa. Acaba de lançar mais um livro. "Publicar é fácil, difícil é vender". Esses três e mais alguns dizem, afirmam e reafirmam que não vivem de literatura. Não! Não ganham dinheiro com seus livros. Pudera. Preste atenção na tiragem dos livros nacionais que você lê. Tirando grandes "monstros" como Paulo Coelho, poucos deles têm tiragem maior do que 5 mil exemplares. Se contar que o escritor fica com 10% do valor de capa, uma média de R$ 45,00 cada livro, fica difícil mesmo viver de literatura.


Perguntei a Antonio Prata porque ele acha que o brasileiro compra tão poucos livros. Ele disse que não sabia. Perguntei então se o baixo poder aquisitivo do brasileiro não ajuda as vendas serem tão baixas e ele respondeu algo que me pegou de surpresa:


_ Sim, o brasileiro é pobre. Mas compra tevê de plasma em 22 vezes! Nunca se vendeu tanto carro no Brasil como se vende hoje. Nunca se vendeu tanto tênis Nike no Brasil como se vende hoje. Então onde o pouco dinheiro é gasto é uma questão de prioridade. E ler não é prioridade para o brasileiro.


É verdade. Um triste verdade. Eu, por exemplo, estou sem carro no momento, mas minha prateleira de livros continua cheia.


Realmente o brasileiro tem que escolher o que comprar. Mas aí eu fico pensando sobre uma teoria séria, a Teoria Tostines. É fresquinho por que vende mais ou vende mais por que é mais fresquinho? Sim, cadê as propagandas de livros? Cadê out doors de grandes editoras, de grandes lançamentos? Por que no intervalo do Jornal Nacional não se veicula propaganda de livros como se veicula dessas infernais companhias de celular? Por que não gastar 3 minutos em horário nobre para falar dos últimos lançamentos de uma editora, como se faz com pastas dentais que evitam 12 problemas bucais.


Não sei! Há alguma lei que proíba propaganda de livros, livrarias, editoras? Se alguém souber, por favor me informe. Considero a possibilidade de ignorar a informação, sinceramente.


Mas que é espantoso é! Imagine só, página dupla na CARAS para o lançamento do último livro do Marçal Aquino. Duas páginas da Veja São Paulo falando dos últimos lançamentos que estão na Saraiva? Por que não? Então o brasileiro não lê por que não pode comprar livro e por que não é incentivado para tal, ou não pode comprar livro justamente por que nunca leu?


Mas que tolice a minha... Num país em que o presidente Lula se orgulha de nunca ter aberto um livro na vida e mesmo assim ter chegado onde chegou e eu querendo propaganda de livros na tv, revistas, jornais, rádios e out doors.

Um comentário:

Rosa Bertoldi disse...

Camila:
vende mais porque está sempre fresquinho, viu... afinal propaganda é a alma do negócio.

E com um presidente desses qual o autor que precisa de um inimigo?

Quanto ao Indiana, como além de escrever trabalho com imagens acabo vendo além do permitido.
Mas, de qualquer maneira ver uma obra é um risco... e quanto mais profundo é esse ver, maior é o risco. Seja qual for a escolha, ela tem um preço. Espero não pagar com os olhos o ver além do permitido, como Tirésias, na mitologia grega.
Parabéns pelo texto e pela curiosidade insaciável que percebo em você. É disso que o Brasil precisa nesse momento de escuridão total.
Vá em frente, você poderá vir a ser um daqueles seres que vivem somente de literatura.