segunda-feira, 14 de julho de 2008

Na fila do cinema

No final de semana fui para a festa de casamento de um grande amigo do tempo da faculdade. Era o último da turma que ainda estava solteiro. A festa foi de uma informalidade aconchegante. Pouca gente, convidados selecionados a dedo. O noivo calçava tênis, novinho. Rolou jazz a noite toda, com muito vinho, risoto e ótimas companhias. Conversas, lembranças e risos. Foi muito bom rever os grandes amigos. Lembramos de todos, dos que estavam lá com suas esposas, grávidas ou com filhos, e dos outros que não puderam ir, pois estavam cuidando dos seus recém-nascidos.

Isso me fez voltar a pensar no tempo. Como passa rápido! O grande cientista já dizia que o tempo é relativo. De fato. Tenho a percepção de que ele está ficando cada vez mais relativo, ou melhor, tem passado cada vez mais rápido, sem que eu perceba. Isso me agustia, me incomoda.

Minha lembrança mais distante é a aquela que aparece eu brincando perto de uma pequena parede da sala de casa. A visão é muito clara. Não sei quantos anos tinha, mas eram poucos. Minha mãe se agacha perto de mim e diz “filhinho, isso é uma tomada. Cuidado. Não coloque o dedinho ali porque dá choque!”. Logo vejo minha mãe saindo da sala. Volto meu olhar para a tomada e pronto! Tremeu tudo. Aprendi (na pele) o que significava choque. Sai correndo e chorando, é claro, em direção a minha mãe. Ela deve ter se perguntado “onde foi que errei?”. Por que será que essa é minha primeira lembrança? Será que o choque foi o início da minha auto-percepção ou foi forte suficiente para apagar da memória os registros ateriores?

Lembro quando meu pai não me deixou ir ao cinema (só queria ir porque meu irmão, dois anos mais velho do que eu ia) porque o filme era para maiores de 12 anos. Fiquei frustradíssimo. Naquele dia disse que quando tivesse quinze anos, seria o fodão. Alguns verões depois, estava o moleque lá, com quinze anos, e, aparentemente, nada de diferente. Ahhh.... tudo bem... me aguardem quando fizer 18. Vou pegar o carro e ...aí sim vou detonar. Algumas férias depois, estava lá, o mais novo habilitado a dirigir. E...? Muitas mudanças? Talvez nem tantas. Ahh...aguardem... quando fizer 21, aí sim! Aí já era... Será? ... Com um quarto de século não foi diferente. Nada...Tinha entendido, então: o negócio vai acontecer quando mudar o primeiro algarismo. Trintão. Bonito, hein!? ... tempo passando ... vida indo...

Lembro-me com frequência dos diálogos entre Nietzsche e Dr. Bauer em "Quando Nietzsche Chorou", em que o filósofo argumenta com o médico que se você não toma posse do seu projeto de vida, torna sua existência um mero acidente.

Será que ainda estou esperando para poder entrar no cinema?

5 comentários:

Janaina Fainer disse...

q bom q vc voltou!!!!!!!!!!!!!
saudades

Camilla Tebet disse...

Que bom mesmo que voltou!
Qto ao tempo, tbém tenho essa impressão. NAda de nostalgia não. Só a impressão de que esta indo rápido demais, eu não tomei posso do meu projeto de vida e ainda etsou na porta do cinema com cara de boba. Seu post é lindo, mas fiquei triste, porque o tempo está mesmo passando rápido demais e não sei se sou alguém interessante ainda. Nem uso filtro solar.
beijos e seja bem vindo de volta. Não suma mais. Os leitores são poucos, porém fiéis.

Alan de Faria disse...

quantos anos vc tem?

Luciano Ramos disse...

Desculpem por eu ter passado a semana anterior em branco. A vida está corrida e talvez essa seja a razão do tempo estar passando mais rápido. A verdade é que faltou inspiração.Espero não faltar mais. Sorry!

Alan, 31.

Rosa Bertoldi disse...

Bom retorno!
Eu já disse que vc escreve bem? Senão estou dizendo agora. Quanto ao tempo, depois de Einstein parece que ele começou a passar mais e mais rápido, por que eu não sei...
Rosa